Aquele dia...

Já era 7:30 quando peguei o ônibus. Estava lotado, como é de praxe nas cidades brasileiras. Fiquei em pé, estava com uma mochila enorme nas costas, sentia como se tivesse carregando o peso do mundo, e a vontade que eu tinha era de espraguejar essa realidade horrenda que vivemos. O cobrador ao pegar o dinheiro da minha mão, me olhou como se pudesse ver além da roupa, com a cara mais sacana possível... Ôh vontade que deu de socar a cara desse cidadão... Por que os homens às vezes conseguem ser tão nojentos?

Passei pela roleta e fui tentando me locomover para mais perto da porta possível, já que eu sabia que o ônibus ficaria ainda mais cheio... De repente, eis que o enxergo. Cabisbaixo, sentado com o celular na mão e fone nos ouvidos. Era sem dúvida a pessoa mais linda que eu já vira. Era como se houvesse uma luz que irradiasse dele e ofuscasse as outras pessoas a ponto de eu não conseguir ver mais nada à minha frente. Como que por coincidência, ele por um instante desviou seus olhos fixos do celular e me olhou. Aquele olhar me deixou atônita. Foram segundos que pareciam horas. Senti tanta intensidade como jamais havia sentido na minha vida.

Então inconscientemente parei no meio do corredor, aí senti um empurrão tão forte que quase caio pra frente, seguida de uma voz que dizia de forma ríspida: “se não vai descer sai da frente. Fica atrapalhando a passagem, garota!”, então fui acordada daquela espécie de “coma”, em que me encontrava, pedi desculpas e me afastei. O rapaz já não me olhava, havia voltado a sua atenção ao celular.

Permaneci em pé durante algumas paradas, imaginando qual seria o nome dele, o que fazia da vida, o que gostava de fazer, o que o fazia rir, para onde iria e tantas outras perguntas das quais eu possivelmente nunca iria obter respostas. Quando ele levantou, deu sinal para descer, o olhei novamente e ele também correspondeu esse olhar. E dessa vez, sorriu. Eu devo ter feito uma cara de perdida, porque aquele riso também era tão lindo que não sei bem qual foi minha expressão. Aí ele desceu e junto com ele foi aquele magnetismo tão bonito, aquele sentimento tão surreal, mas ao mesmo tempo tão bom. Efêmero, mas intenso. Era como se o conhecesse há tempos, ainda que não tivéssemos trocado uma palavra sequer. A única coisa que sei é que aquele sorriso me valeu muito mais do que qualquer palavra que pudéssemos ter trocado...

Loracbar
Enviado por Loracbar em 30/10/2015
Código do texto: T5431707
Classificação de conteúdo: seguro