Marche prá lá, Saci!
So sei que quando ele pisa em rastro de corno, não tem caipora que aguente, mas comigo não, ele sabe muito bem no rastro que pisa ou na sombra que procura agasalho!
Tá pensando o quê? Pensa que sou esse magote de cabra que se diz macho, se embrenha por dentro do Mato e com qualquer muído de vento já estão obrando nas calças?! Comigo não! Comigo o trançado é mais pro lado... espia aí, tome uma lapada de cana com farinha enquanto a veia engrossa o caldo, masque um fumozinho que conto já.
O ano eu num me intero não, mas o dia num tem como esquecer não porque era quase dia de finado, uma vontade de comer tatu e num instante arrumemo as coisas e tiramos pro mato fazer uma caçada. Eu, cumpade Gatim, Meiota e bozó, os cachorro Pirão e Paçoca. A lua mei atrevida, nem escura e nem clara. Tiramos por uma vala e depois de poucos metros uns rastros pelo caminho de um pé só. Os cachorros começaram a latir, eu dizia a Pirão que esperasse por Paçoca, e a Paçoca que não se perdesse de Pirão! Era Pirão na frente de Paçoca e Paçoca na cola de Pirão. Do nada o cumpade Gatim solta um palavrão do tamanho de um trovão e quando pensamos que não, tá lá ele com a cara no chão, dentro do buraco do tatu. Ele raspa da cintura uma peixera e vai logo gritando:
- seja homem, seu moleque e venha me encarar de frente!
Aquilo foi o suficiente!
O Cumpade vinha com o cachimbo no bolso da calça cheinho de fumo, quando a gente atrevessou a oiticica que apareceu os rastro, o danado do Saci estava escondido detrás de um tronco de uma árvore caída na estrada, butou o pé, puxou o cachimbo e o cumpade caiu!
Nesse instante, Meiota meio zuruó com umas de cana no juízo e Bozó, gordo que só rei Momo, escapuliram numa carreira que até hoje tenho vontade de saber o paradeiro dos dois e num sei.
Eu só disse assim, calma cumpade, tenha calma. Quando eu pedia calma ao cumpade, num é que Paçoca tinha abuncanhado Pirão pelas beirada do lombo e Pirão avançado pra cima de Paçoca! Era Paçoca nas beirada de Pirão e Pirão assoprando Paçoca nas fuças!
O Cumpade Gatim num conseguia abrir os zói cheinho de poeira, eu, no mei da confusão que num sou como esse magote de macho frouxo, peguei uma garrafinha de aguardente que tinha, despachem na oiticica, fechei um brejerinho, me sentei lá no mei da e fui dizendo:
- Lua feia já vi hoje, cabra macho desmoralizado também! Já vi de medo cabra correr, rasto de um pé só aparecer e Pirão abocanhar pelas beirada enquanto Paçoca era assoprada nas forças, só não vi moleque atrevido entrar dentro de uma garrafa pra ganhar mais fumo e nova carapuça!
Foi um tiro e uma queda, quase nem fechei a boca que o danado do moleque entrou na garrafa, eu pus a tampa e tudo se aquietou!
Voltemos de mãos abanadas, e a garrafinha até hoje guardo ela ali..