A TOMADA DE MONTE CASTELO POR SEU JOÃO QUEBRA QUEIXO
A TOMADA DE MONTE CASTELO POR SEU JOÃO QUEBRA QUEIXO
"Seu" João Quebra Queixo estava dando umas boas
baforadas em seu cigarro de palha e o passado foi surgindo nas espirais da fumaça. Fechou os olhos e começou a visualizar o movimento dos soldados alemães em cima dos montes. Ninhos de metralhadoras .90 em todos os lugares, pipocando sobre os soldados brasileiros que tentavam a todo custo tomar aquela posição estratégica para o exército aliado. A subida era lenta, metro a metro, dolorosa mesmo e heroica ao mesmo tempo. Seu João via um companheiro cair morto a seu lado. Lembrou-se dos tempos em que ficava a ouvir o cantar dos passarinhos nas serras de Itapipoca e de suas caçadas com o cachorro Tubarão. Mas o pensamento tinha que ser rápido porque as balas dos inimigos não deixava pensar devagar. A subida era dolorosa mesmo. Joelhos e cotovelos rasgados pelo arrastar centímetro a centímetro no terreno pedregoso. Seu João impacientou-se com aquela demora e num ímpeto de cabra macho do nordeste do Brasil tomou uma decisão. Vou tomar sozinho estes ninhos de metralhadoras e evitar mais morte entre meus companheiros. Arribou o chapéu de couro, pois não quis usar capacete, segundo ele, desobedecendo as ordens de seus superiores e gritou com um esturro de leão. Esperem seus branquelos dos olhos azuis que agora vocês vão sentir o fogo de um soldado " brabo " que defende a sua pátria. Saiu de peito aberto com o seu fuzil 7.62 que atirava para um lado e a bala ja para outro de tão obsoleto que era. Mas tinha soldado alemão demais e a bala no seu zigue-zague terminava acertando um germano. Bala vai, bala vem, grito vai grito vem e mais de cem furos foram feitos no seu chapéu de couro, afora as que rasgavam a sua farda. Mas como o corpo fechado de seu João, por uma oração que sua mãe fizera para que ele voltasse vivo para ver "as palmeiras onde os sabiás cantavam", dizia ele. Jogava granadas pra direita, pra esquerda e foi destruindo os ninhos de metralhadoras e a soldadesca alemã.
E ao chegar no topo do monte ainda encontrou um soldado alemão vivo que pediu num soante cearencês que Seu João não o matasse pois ele só tinha 17 anos e também uma mãe para sustentar. Era arrimo de familia. Seu João que apesar de valente, tinha um bom coração, deixou o soldado vivo, não sem antes fincar a bandeira brasileira no chão italiano. Seu João conta que recebeu várias medalhas das mãos do general Eisenhower comandante geral das forças aliadas.
É desnecessário dizer ao leitor que a frente do mercado publico, onde Seu João sempre contava suas estórias estava apinhada de pessoas e neste meio não faltava Zé Capote que admirava demais estas aventuras, mas tinha a infelicidade ou estupidez de fazer perguntas estaparfúrdias a Seu Joao e perguntou:
- Seu João mas eu já assisti muitos filmes de guerra e os soldados usavam aqueles capacetes de aço na cabeça. Também fiquei cabreiro por aquele soldado que o senhor, na sua santa bondade deixou vivo. Ele falava a nossa lingua tão bem e ainda com aquele sotaque de cearense. Como fo isso?
- Zé Capote falou e Seu João disse. Desta vez vou respeitar o publico presente e não vou te chamar de cabra "fila da puta" não, mas vou rasgar esta tua barriga com uma facada tão grande que nenhum médico vai te curar, nem com uma pazada de penicilina, pois estás desrespeitando a memória dos 400 soldados brasileiros que morreram na tomada de Monte Castelo, de 1944 a 1945 e ficaram enterrados no Cemitério de Pistóia. Ao dizer isso foi logo puxando a baioneta que ainda guardava como relíquia. Mas nessas alturas Zé Capote foi tão rápido que quando a baioneta saiu da bainha o pobre Zé Capote já estava a 100 metros de distância, mas amarelo como uma alçafroa
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