Confissões de um aborrecente.
Autor Paulo Cezar Fernandes Pereira
CONFISSÕES DE UM ABORRECENTE é um relato bem humorado da vida quotidiana de uns jovens que viviam no subúrbio de Brasília na década de oitenta. Paulinho, conhecido pelo carinhoso apelido de "Tatu Peba" é quem narra os episódios inusitados que ocorrem durante um sábado da hora que acorda até a madrugada de domingo quando chega em casa do baile. Espero que que divirtam-se com a leitura.
O BURRO SEM CABEÇA
Hoje é sábado; não tem aula.
Acabei de acordar, tomei um banho e um café reforçado e tô só esperando meus coroas chegarem do Ceasa pra depois dar um rolé na cidade e ver qual vai ser.
Sonzinho!
Hummm, vejamos aqui...Kansas " Left Overture", uma K7que eu gravei na casa do Pingo; puta disco! Fico curtindo na expectativa dos meus coroas chegarem logo; sabe cumé né, sabadão os agitos começam cedo.
De repente escuto a carreta do meu coroa chegando; era inconfundível o barulho que o escapamento daquele carro fazia, até porque já se tornara familiar, pois já fazia mais de ano que tava furado. A carreta pintava no circuito e a gente já se ligava; se tivesse aprontando dava tempo de dichavar o flagrante. O carro do meu coroa era uma joia: um Willys Itamaraty daqueles arrematados em leilão de ministério quase preto, não fossem as marcas de massa plástica espalhadas pela lataria que a gente até resolveu batizá-lo de "Burro Pampa" já que enquanto pretos, carros de ministérios tinham a apelido de "Burro Preto". Sem falar nos opcionais: o carro do meu pai tinha fundo solar. um puta buraco no assoalho e quando a gente saía, só ficava curtindo o drama da estrada.O problema era a chuva, já que a água poderia entrar e a gente ter a sensação estar num caiaque à deriva. Um dia foi foda, a gente foi pra um sítio do colega do trampo do meu coroa e, quando a gente entrou na estrada de chão, veio da contramão um caminhão...Parece que entrou um redemoinho dentro do carro que a gente começou a tossir e o meu pai teve de parar o burro Pampa para não acontecer coisa pior. Gente, quando a poeira baixou, que a gente olhou pra cara um do outro... tava todo mundo marrom; meu cabelo tava crescendo e virou uma farofa dura. Meu pai falou:
_ Vamo descer desse carro e bater essa poeira da roupa!
O coroa pegou uma flanela e saiu batendo nos bancos e no painel,sorte que os bancos eram de curvin, porque se fosse de pano, acho que nunca mais limpava. Avistou um pedaço de papelão e uma pedra e improvisou uma tampa para o calabouço do carro. E, falando de banco, era único na frente que parecia um daqueles sofás de armar do tempo do ronca que viravam camas e a alavanca de câmbio ficava na barra de direção que nem a Vemaguete do pai do Lubumba. No vidro de trás tinha uma persiana, pois não existia película e o "bacana" não poderia chegar ao destino com a cabeça quente e, o mais cafona de tudo era que os retrovisores eram nos pára-lamas e vez de serem nas portas que nem os do seriado do "Ultraman". Ah, e tinha um tal de colocar a pedra na roda, já que o freio de mão fazia mais tempo que o escapamento que tava fodido. Quando meu coroa passava, a molecada zoava pra caralho. O pior é que se você encontrar um carro desses hoje em dia, valem uma grana preta.
Um belo dia, chegando em casa, deparei com um coisa muito engraçada: o estacionamento do meu bloco estava cheio e o meu pai resolveu colocar o "Burro Pampa"no prédio ao lado. Só que o local era meio inclinado e o "Burro Pampa" tava meio frouxo e não segurava engatado. Meu coroa desceu do carro e foi seguindo em direção ao nosso prédio. De repente, como se alguma entidade, um "Exuvrolét" se apossasse do nosso carro...
Burro Pampa começou a se mexer, como se estivesse soluçando; a cada soluço que o carro dava, ele descia um metro aí meu pai dá uma olhadela e fica espantado com a cena...
_ Puta que o pariu, tão roubando o Burro Pampa!
Como se alguém tivesse a coragem de roubar uma fumbica daquelas. Fiquei no bloco de trás vendo aquela cena com pena do meu pai, mas morrendo de vontade de rir. Meu pai saiu em disparada, largando tudo para acudir o Burro Pampa. Naquele mesmo instante, vem descendo um muleque na porra de uma mobilete no maior couro que quase atropela o meu velho enquanto que o Burro Pampa não parava de soluçar e descer pro meio da rua e quase atropelando o menino desembestado que por pouco não catou o meio fio e se estabacou de vez.
_ Cê quer morrer seu porra! Gritou meu velho.
Pra surpresa do meu pai, ele viu que não tinha ninguém a bordo do Burro Pampa, daí o coroa se agarrou à maçaneta e teve uma notícia não muito agradável:
_ Caralho, tá trancado! Com o alvoroço, o coroa largou a pasta lá adiante com as chaves dentro. Nesse mesmo instante, vem subindo a rua um Dodge Dart... Por essa ninguém esperava, Burro Pampa atravessado no meio da rua, ter de aparecer uma banheira daquele tamanho.
O sujeito começou a buzinar...Fom fom fom, _ Tira essa lacraia do meio!
_ Vaaaai Tomaaar no cúú!!! _ gritou meu pai muito puto.
Meu pai retornou até à pasta pra pegar as chaves e eis que surge uma "joaninha":
_ Algum problema aí, senhor?
_ Tive um problema, mas já tá tudo sob controle.
_ Rapaz, que diabo é essa porra desse carro no meio da pista?
_ Esse é o problema que eu tô resolvendo.
_ Acho bom você resolver logo esse pepino, senão vai acabar arranjando um problemão, cidadão.Boa noite!
_ Boa noite senhor policial! Esse filha da puta me paga o maior sapo e me ajudar que é bom, necas.
_ O que foi que o senhor disse?
_ A coisa tá tão braba que tem gente comendo sapo pensando que é perereca.
Meu velho passou um stress do cassete tentando colocar o Burro Pampa pra cima e ele, como se tivesse vida própria, teimava em descer novamente, que nem o Chicabum, o carro da Quadrilha da Morte dos "Apuros de Penélope". Acho que se não fosse Burro Pampa, Chicabum seria um bom nome para nosso "Bólido"; mas, fazer o quê, é o carro da família e embora o carro não seja o ideal, aqui em Brasília, quem depende de "buzão" tá lascado, pois, apesar de ser um transporte caro, é um dos piores do país.
Meu pai nunca ligou muito pra carro; se estiver andando, tá ótimo, é mais que suficiente. Ao invés de um camarada que morava no nosso prédio; não que eu tenha nada a ver com isso, mas o velho tinha um transtorno compulsivo, porque o cara ficava o dia inteiro mexendo naquele carro; às vezes nem subia para almoçar e a mulher dele já tava morrendo de raiva sabendo que o cara preferia o carro a ela. Já vi mulher perder homem pra mulher, pra Deus e até pra outro homem; mas daí perder pra uma Belina amarelo Correios cheia de bugigangas penduradas era o fim; e além do mais o carro parecia um camarim de puta de tanta cafonice que ele tinha. Inda me lembro daquela mãozinha dando tchau e o caranguejo na cabeça da marcha. E sem falar na viagem que ele tinha de lavar o carro todo dia, não sei como não arrancava a tinta daquela Belina e não sei onde ele arrumava tanta coisa pra desmontar e montar naquele carro.
Um dia, ele tinha colocado aquela "penteadeira de puta" bem debaixo da minha janela... Eu tinha chegado da aula, almocei e minha coroa disse que tinha gelatina na geladeira de sobremesa. Peguei uma caneca e enchi de gelatina e fui comer na janela curtindo o visual, eu morava no quarto andar e o visual era maneiro. Mas muleque tem titica de galinha na cabeça mesmo, achei conveniente jogar uma colherada de gelatina de morango no amarelão da Belina. Tchummm, lá se foi a meleca acertar em cheio a Carreta do coroa. Dei um Sorriso mais sádico que o da "Sombria", a filha do casal do filme "A Família Adams". De repente ele aparece e vê a "tragédia"; olha pra cima, mas eu já tinha saído da janela. O coroa foi de porta em porta fazendo a investigação de quem tinha despejado gelatina na Belina dele até chegar a nossa vez.
E o coroa tocou a campainha...Treeeeennn! Minha coroa foi lá atender.
_ Boa tarde dona Valdirene! O Paulinho está?
_ Está sim, por quê?
_ Porque jogaram uma coisa no meu carro e eu queria saber se ele viu ou, quem sabe, ele não jogou sem querer.
_ Paulinhoooo! _ Gelei.
_Que é mãe?
_ Senhora, você não tá falando com as suas negas,não. Por acaso você jogou alguma coisa no carro do Seu Everaldo?
_Oche mãe! Claro que não!Pra quê eu ia jogar alguma coisa no carro do Varetão? ( O apelido dele era Varetão porque era um cara grande e magro igual uma vara de tirar manga).
_ Meu rapaz, como você me chamou?
_ De Seu Everaldo, não é esse o nome do senhor?
_ Lamento Seu Everaldo, mas não foi daqui que jogaram coisas no seu carro não! Se o senhor me dá licença, eu tenho um monte
pra fazer, boa tarde!
_Boa tarde Dona Valdirene e desculpe o incômodo;
_ Só o que me faltava, tanta coisa pra fazer e ainda vem um doido me incomodar com porcaria de carro.
_ É isso mesmo mãe, pra quê que eu ia jogar gelatina no carro do Varetão?
_ E quem disse que jogaram gelatina no carro do Everaldo? Seu muleque sem vergonha, então foi tu que jogou coisa no carro do Everaldo né? E eu ainda dando desculpa pro seu Everaldo e você fazendo a gente de besta.
Xiiii! A coisa escureceu de um jeito...Minha coroa foi se aproximando botando fogo pelas ventas; arrisquei dar um olé na coroa, mas a bicha foi mais esperta: me catou pelos cabelos e me arrancou um bife com a unha.
_Aaaaiiii!!! Levei mais quatro pescoções e dois murrões na costela que só de lembrar ainda dói.
_ Isso é pra tu aprender vagabundo! E vai pro quarto se eu ouvir um pio, vou te quebrar todo.
Minha mãe era a melhor pessoa do mundo, mas não dava arrego, qualquer coisinha, o couro comia.
Hoje a gente vê muleque fazendo pirraça, faltando bater na mãe; na minha época, só de olhar de rabo de olho a gente ficava quieto.
No outro dia, eu tava todo fodido e o Varetão tava lá lambendo a Belina, tira farol, tira banco, tira isso, põe aquilo etc.
Acho que aquele coroa tinha TOC. E por falar em toque, a mulher do cara logo se tocou e mandou ele e aquela Jubiraca de teatro mambembe pra puta que o pariu e tratou logo de arrumar uma pessoa que lha desse mais atenção.
TATU E PALITO
Desço as escadas correndo e de repente, entre o segundo e o terceiro andar... Cabraaaammm!!!! Levo o maior estabaco e desço as escadas de bunda indo paras à porta do 201 com uma baita dor nas costas. Tava usando Sandália Surf; quando o piso tá molhado, você surfa mesmo e seu Totonho tava dando uma geral na escadaria do prédio.
Ai, ai, puta que os pariu! Que dor do caralho!
Eis que surge à minha frente uma mulher de bobes e creme no rosto, tipo um "mix" de Dª Florinda do "Chaves" e a senhoria do Hipkins de "O Máscara"; eu não sabia se ria ou se morria de susto, naquela época, não era difícil a gente vir nas ruas, mulheres de bobes,, de meia calça e até com sacolinhas de mercado na cabeça. Uma vez, achei estranho ver uma menina cheia de papel picado enrolado nas mechas do cabelo; acho que era para encaracolar. Na nossa área tinha uma menina que se chamava Ariadne, mas a gente a chamava de Nina e ela jogava golzinho com a gente no estacionamento da quadra que era asfaltado e aí a galera colocava umas traves que o pai do Caôia fez pra gente. Um dia a Nina passou um treco preto na cabeça e fez uma touca com uma sacola do Jumbo, hoje Pão de Açúcar. No meio da pelada, a cabeça da Nina esquentou e o treco preto foi descendo de orelha abaixo caindo na blusa. Eita porra, acho que usaram aquela porra nos episódios de "Walking Dead"; tava escroto pra caralho. O Bia, que não valia um conto de réis, foi lá e puxou aquela "marmota" da cabeça da Nina e aí que o treco preto desceu com mais rigor e muleque não perdoa, foi aquela zoação que a Nina subiu pra casa chorando. O foda era que ela tinha um irmão, o "Nêgo Charuto" que já era "cara grande" e disse que dar um "arara" em cada um que sacaneou a Nina. Eu via o "Nêgo Charuto", já mudava de rumo, até o dia que ele me pegou e me deu um cascudo que eu fiquei com os olhos cheios de água e depois me pagou uma tremenda sugesta.
Voltando ao meu estabaco, quem abriu a porta do 201 foi a Dª Hermelinda pensando que o prédio tava caindo e depois, seu Canhedo e a Dona Marli ( "boa pra danar"). pais do Danilo boca de melancia e que moravam ao lado já se apresentaram no meu espetáculo.
_ Que foi isso menino, você ficou doido?!?
_ Oh, me desculpa dona Oroz..., Hermelinda ( É que a gente chamava a coroa de Dª Orozimba por causa de uma coroa que tinha na novela "Sem lenço, sem documento" , onde tinha um solteirona que morava com um monte de gatos. No 101 tinha o Seu Varetão que trocou seu casamento por uma Belina e tinha o Véi do Rio do 205 que parecia um eremita que nem os caras do ZZ Top.
_ É que eu não me preocupei com a a escada molhada e escorreguei.
_ Tenha mais cuidado, rapaz, senão você pode se machucar e além do mais, você quase me matou de susto.
Mal sabe a coroa que quem levou um baita susto fui eu; depois de me estabacar numa escadaria dar de cara com uma senhora de bobes e com a cara verde-abacate.
Desci as escadas bem nas manhas para evitar uma nova "vaca"; cheguei no carro do meu pai e ele, grosso pra caramba me indagou:
_ Por que que tu demorou meia hora pra descer rapaz, tava cagando ou batendo punheta? Que porra é essa, tá todo mijado?
_ Não pai, é que vinha descendo as escadas e o seu Totonho tava lavando a escada e eu caí.
_ Puta que os pariu, tu não presta atenção em nada que tu faz? Se tu quebrasse alguma coisa eu teria de levar tu pro hospital pra engessar e depois eu te quebraria de novo pra tu aprender a se cuidar, seu merda!
Subi com as compras para meu pai e tratei logo de vazar dali antes que pintasse alguma outra coisa pra eu fazer; já estava mais segura a descida, pois Seu Totonho já havia secado o excesso de água e eu já tava usando um tênis "Rainha" menos derrapante.
Saindo da portaria do prédio, fui em direção à quadra de cima que era o "point da galera". Logo avistei um velho amigo, o Gugu, ou Palito para os íntimos.É que o bicho era tão magro que parecia uma rabiola de pipa.
_ E aí Palito, digo, Chassi de Brabuleta, beleza?!? Aonde tu vai nessa carreira toda?
_ Primeiro, Chassi de Brabuleta é a comadre da sua madrinha.
_ Oche, quê que tem?, um apelido tão carinhoso.
_ Carinhoso é o bandão que eu vou te dar, seu viado. Ha ha! Comequié Tatu Peba, beleza?
_ Possas crer muleque!
Tatu Peba, apelido conferido a este narrador devido ao dia em que eu tirei minha "Conga" na aula de Educação Física e a carniça do meu pé quase levou a turma para a enfermaria da Escola 04 e que, quase na mesma época dancei na "blitz do piolho". Minha mãe foi chamada na escola e quase morri de vergonha. À noite, eu tava com a cabeça cheia de "Neocid" embalada num lenço de cigana parecendo o Axel Rose. No dia seguinte era carniça pra lá, carniça pra cá, até encontrarem meu animal totêmico. Que animal gosta de carniça...Urubu; porem eu era muito branco pra ser preto e muito gordo pra voar; ficou meio destoado. Por alguns instantes me senti aliviado de não ser merecedor de fedorenta designação, até que surge o Elvis, um intelectual metido a "Pica das Galáxias" atribuindo-me a alcunha de Elphractus Sexcentus. Que diabos viria a ser Elphractus Sexcentus? Tatu Peba, isso mesmo, já que era tão fedorento que nem o peba e redondo que nem uma bola, ali nascia o mito, o ilustre Tatu Peba, garoto propaganda da "Conga e seu chulé atômico.
Mas, voltando ao Chassi de Brabuleta...
_ Tô indo lá na Cobal, minha coroa mandou eu ir lá comprar uma parada pra ela, bora lá?
_Bora! E aí, cadê a massa?
_ Tá mal! Eu vou azarar uma grana do meu coroa aí a gente vai ver se descola; mas onde a gente vai descolar esse bagulho uma hora dessas?
_ Xiii, essa hora a malandragem deve tá toda entocada, ainda mais sábado.
_ Caralho, vai ser foda ficar de cara!
_ Com ph de pharmácia! Mas eu tô ligado que o Pingo tem um, bora lá na house dele!
_ Bora então! Carai véi, quando eu vinha descendo as escadas, o zelador tava lavando... Véi, levei o maior estabaco, quase que eu entrei com porta e tudo na casa da vizinha do 201. TÔ com a minha bunda doendo.
_ Hummmm! ta´com dor na bundinha tá? Tu tá é de onda, acho que foi um negão que te deu uma carcada ontem à noite, he he.
_ Vai te foder! Eu caí de bunda, seu otário, eu não dei a bunda!
_ Oche, e eu sei lá, tu que tá falando que tá com dor na bunda.
_ Palito, vamo mudar o rumo dessa prosa porque já encheu o saco!
_ Possas crer! Falar da tua bunda é coisa que não cheira bem mesmo. Malandro, tu ouviu falar dessa parada que a Inglaterra tá querendo invadir a Argentina? (...) Acho que é por causa de uma ilhas aí.
_ Oche, e o que é que isso tem a ver?
_ Sei lá, a Argentina é aqui do lado e pode até sobrar pra gente. Sei não, mas eu acho que essa tal de Margarete gosta da gente.
_ Oche, e o que que a Margarete tem a ver com essa arenga da Inglaterra com a Argentina?
_ Ah, vai te lascar Tatu; tu não assiste TV não? Aliás, tu só assiste "Speed Racer"...tu não sabe que é essa tal de Margarete é quem manda na Inglaterra?
_ Pior que é! E por falar nisso, tu assistiu o episódio de ontem? O nome dele era "Corrida do Fogo e se passava em volta de um vulcão e tinha "O Mamute", um caminhão de ouro que derrete em plena corrida. Tinha um outro piloto na prova que eu acho que ele era de lá perto com uma roupa meio de índio que se chamava Cabala de Catequeteque disputando pau a pau com o Speed e o Corredor X.
_ Oche, que porra é mamute e cabala de mequetrefe tu tá falando Tatu, tá xaropando?
_Oche, e não é tu que tá falando que eu só assisto o Speed Racer? Foi a parada que rolou ontem , meu chapa.
_ Porra Tatu, tu é retardado mesmo, hein?
_ Xarope ta tu, vô lá eu saber de Argentina Margarete e os caralho. a única Margarete que eu conheço é a mina do Roliço. Aliás, tem a Margarete que é irmã da Bete que mora na 407, e por falar nisso, Palitete, me paga um boquete?
_ Tatuzete, vai tomar no teu cuzete! ha ha ha! Tatu, o papo que rola que parece que tem umas ilhas aí que a Argentina diz que é dela e a Inglaterra diz que é dela, sacou? Aí parece que vai rolar uma parada aí, acho que neguim vai fazer guerra e os caralho, meu brother. Essa tal de Margarete, os cara tão chamando ela de Dama de Ferro.
_ Possas crer, então ela deve ser mulher do Tony.
_ Que diabo é Tony, Tatu?
_ O Tony Stark, tu não tá dizendo que ela é de ferro, Tony Stark é o nome do Homem de Ferro.
_ Taqueospariu! Às vezes eu acho que tu tá tirando sarro com a minha cara; não pode existir uma criatura tão retardada nesse mundo.
_ Você é que não tá nem aí pras coisas que eu penso.
_ Oche, e quem disse que tu pensa?
_ Peraí, a gente tá falando de Argentina ou da minha capacidade pensal?
_ Oche Tatu, e que diabo é pensal
_ Minha capacidade de pensar, uai!
_ Pensal é a cabeça do meu pau, seu mané. Já vi que o teu caso tá perdido; só Jesus na tua causa mesmo!
_ Oche, e tu virou crente agora?
_ Virei, e tô crente que vou te dar uma bifa se tu não parar de ficar falando potoca.
_ Sim, mas termina o que tu tava falando!
_ Pois é Tatu, o papo que tá rolando aí é que a Inglaterra vai entrar em guerra com a Argentina. E eu acho que se a Argentina for bombardeada, será que não vai sobrar pra gente?
_ Sei não , mas a gente tá muito longe de lá e o Brasil deve ser aliado das duas.
_ Tomara, Tatu! Cacete, a Inglaterra vai atropelar a Argentina!
_ Que nada Palito, a Argentina vai se dar bem!
_ Oche, tu tá defendendo a Argentina, é? E eu posso saber o por quê?
_ É porque eu sou fã do Belchior!
_ Porra Tatu, que diabo o Belchior tem a ver com a porra da Argentina?
_ É porque tem uma música dele que fala: "...Por força deste destino, um tango argentino me cai bem melhor que um blues.
_ Puta que o pariu, Tatu! Quando a gente pensa que essa tua xaropice tem limites, tu sempre vem com uma maior.
_ Xarope é tu que escuta "Fuscão Preto"! Mas Palito, tu tem razão mesmo, a Inglaterra é mesmo, de longe mais forte.
_ Tatu, uma vez o meu coroa falou que a Argentina defendia o Hitler na Segunda Guerra. Ele falou de um tal de Peron...
_ Peronca, por quê, o cara escorregava no quiabo alheio?
_ To falando sério, esse filha da puta apoiava o Hitler, e meu pai falou que até hoje tem alemão mocosado na Argentina. foda-se se a Argentina acabar vai ser bom pra gente; quem sabe o Kemps, o Passarela ou o Fillol passam a ser da nossa Seleção.
_ Possas crer! Eu não tinha me tocado disso. só não quer ter de aguentar aquela bosta de tango.
_ Oche Tatu, não era tu que tava falando que tango era melhor que blues?
_ Porra nenhuma Palito, eu só tava lembrando da música do Belchior. Deixa esses merdas pra lá! Eles não são de porra nenhuma Palito, todo mundo sabe que o Peru entregou o outro pro bandido.
_ Pior que é, deixa eles pra lá; que se foda!
_ Aliás, se não tiver a Argentina, quem seria o nosso rival no futebol? O que seria do Flamengo sem o Vasco, do Galo sem o Cruzeiro, do Grêmio e o Inter...?
_ Oche Tatu, e tu lá entende de futebol por acaso?
_ Que nada Palito, tu ta despeitado porque o Flusão acabou com a vida do Bacaiau no Carioca. Até hoje o Mazaropi tá procurando aquela bola que o Edinho mandou na gaveta, he he!
_ Ah, qualé Tatu a gente tava falando da Argentina e tu vem me lembrar dessa porra?
_ Tadinho dele, tá dodói neném?
_ Vai tomar no cu, sua bixona!
_ Então tá, se é para o bem do futebol... Viva a Argentina!!!
_ E tem mais, com esse time que a gente tem hoje, ninguém ganha. Com Zico, Careca, Cerezo, Roberto, Falcão, Sócrates...quem precisa desses caras?
Alguns dias depois vem a manchete...Uma espingarda Rossi derrubou vinte e dois canarinhos com três tiros, referindo-se à eliminação do Brasil na Copa de oitenta e doi com trÊs gols de Paolo Rossi.
A HOUSE DO PINGO
E chegamos à casa do meu xará, Paulinho, mas a gente chamava ele de pingo, era porque ele era baixinho e a gente tava fazendo bagunça no pilotis do prédio e a Dona Lucinha, esposa do Seu João, zelador do prédio dele, chamou ele de pingo de gente e a gente caiu na pele dele até ele chorar de raiva. Daí é aquela pecha... "Apelou, pega!" Mas aí ele foi se contentando até assumir o apelido. Pior eu, Tatupeba, tem o Beiço de Gamela, o Palito, o Caoia etc.
Treeeeen! Tocamos o interfone.
_ Alô!
_ Dona Clarice,o Paulinho está?
_ Está, quem é? _ É o Gustavo.
_ Paulo Rrrroberrrto!!!!
Não é erro de digitação não, é que eles são de São Paulo e ela falava que nem o Galvão Bueno.
_ Oi mãe.
_ O Gustavo que falar com você.
_ Manda ele aparecer em baixo da janela!
..._ Fala Pingo! Beleza!
_ E aeh, Beleza?
_ Tu tá de bobeira?
_ Tô, Qualé?
_ A gente tá indo lá na Cobal e tu não ta afim de ir lá não?
_ Tô não; tô dando uma geral no quarto e só vou descer à tarde.
_ Possas crer! Mas...
Aí o Palito fez a menção de estar soltando pipa, intimando o pingo pra ele apertar um pra gente.
_ Sobe aí véi!
Chegando lá o Pingo já tava na porta esperando a gente. cumprimentamos a Dona Clarice e fomos entrando. No quarto do Pingo tava rolando um rock'n roll e um cheiro forte...
_ Carai véi, que marola! E Esse som aí?
_ É o novo do Floyd que o Alex deixou aqui pra eu gravar.
Esse disco não era outro senão o lendário "The Wall", recém lançado no Brasil; àquela época, as coisa chegavam messes depois de lançados no mercado internacional.
_ E o crioulo deixou esse aqui do UFO.
Era o "Strangers in the Night", outra joia. Palito já se manifestou:
_Eita porra! Segunda, quando eu sair da aula já vou lá no "Conjunto", ( Shopping de Brasília), descolar duas "Hot Tapes" pra gravar esse som. E tu Tatu?
_ Dá não! Depois daquela parada do Pithon, meus coroas tão me regulando geral.
Meu coroa me pegou matando aula no Parque da cidade e nem falou nada. Cheguei em casa...
_ Paulinhoooo!
_ Cê tava onde agora de manhã?
_ Oche, onde eu tava, lógico que era na escola, por quê?
_ Uai, eu pensei que eu pari só uma porcaria que nem você, mas tem um outro andando por aí, é?
_ Uai digo eu mãe.
A minha mãe tinha recentemente feito as unhas, afiando-as com a lixa, decidiu testá-las no meu lombo desenhando uma arte abstrata e desconexa, que imediatamente ardia pra caralho, antes de puxar minhas madeixas em crescimento.
_ Responde seu filho de uma égua, aonde tu estava?
_ Oche mãe, a senhora sabe bem onde eu estava. E a senhora tá chamando a senhora mesmo de égua.
_ Tua mãe só pode ser uma égua, seu jumento e eu te achei numa lata de lixo, seu bosta. E aí já foi mais um "pescotapa" que abrangia quase a região esquerda toda da minha cara.
_ Aaaiii! Porra mãe, posso saber por que a senhora tá me batendo?
_ Me respeita seu vagabundo que eu não sou tuas negas pra tu falar palavrão, ouviu bem? Teu pai te pegou matando aula no Parque e me telefonou. Eu não quero estar na sua pele quando ele chegar.
Caralho, que cagaço que eu fiquei, cada hora que passava eu ficava mais tenso como se a guilhotina fosse aproximando e eu sentia minha cabeça abandonando meu corpo de bastardo traidor.
Meu coroa chegou eu gelei. Ele era moreno e tinha os olhos enormes verdes claro, e com raiva eles arregalavam e sua voz era estridente e intolerante...Foi uma hora de pagamento de sapo e ele afirmou que só não me agrediu,porque estava tão puto que seria capaz de me matar de porrada, mas a minha mãe já tinha feito o aparte. Mas cá pra nós, melhor uma surra da minha coroa que um esporro dele.
_E tu acha que eles tão errados, Tatupeba? A única obrigação que a gente tem é estudar e tu fica vacilando.
_ Oche, agora tu vai ficar me dando lição de moral, é?
_ Porra Palito, deixa o Tatu na dele e acende esse brau pra gente.
_ Oche Pingo, por que tu não tá afim de ir lá na Cobal com a gente, depois de deixar as paradas com a minha mãe a gente vai atrás de um bagulho.
_ Pô véi, tô dando uma geral na baia, e a rosinha falou que ia pintar aqui pra gente fumar um e, sacumé, né, melhor uma mina na mão que dois homens na rua. E eu ainda tenho aquele bagulho.
Porra nenhuma, a o Pingo pagava todas pra Rosinha e era arriado por ela, mas ela não dava bola pra ele. Não que ela fosse interesseira, a gente já até levou esse papo, às vezes ela se sentia até mal, mas achava que não deveria desprezar o pingo para não magoá-lo. Rosinha era uma mina magrinha que tinha os olhos azuis esverdeados mais claros que um topázio, dava até agonia de tão lindos. A gente era tudo doido por ela, mas ela era lisa e não deixou que ninguém levasse para o outo lado sua amizade. Da nossa galera, que eu saiba, ninguém azarou e, como o Pingo era o cara apaixonado que não a deixava em paz, se ela estivesse com a gente, a menos que por acaso, ele também estava.
_ Possas crer, mas tu vai pro Pandiá à noite?
_ Só!
Morreu a baga e a gente foi se adiantando.
_ Falou Pingo então agente vai sartar, porque minha velha tá esperando essas paradas pra fazer o rango, possas crer?
_ Possas crer!
_ Caralho Tatu, o Pingo não tá nem aí com a coroa dele; fuma o brau na maior cara dura. Sem falar no som alto. De bagulho eu nem comento, agora, meu coroa, quebrava o disco na minha cabeça na hora.
_ O meu, grosso do jeito que é quebrava era o "Três em Um" na minha cabeça.
O CABELO DE CREUSA
_ I ó lá Palito quem tá vindo!
_ Antoooooniuuuus! E aeh meu camarada, beleza?
_ Porra nenhuma, tô numa rebordosa da porra, acabei de chamar o "Raul" e acho que só pitando unzinho pra curar essa porra. Bora, cadê a massa?
_ Xii Tonto, tá maus!
_ Eita porra! Bora fazer uma intera pra pegar? Eu tenho dez mil, cês têm alguma merreca aí?
_ Eu tô indo lá na Cobal comprar umas paradas pra minha coroa e depois eu vou azarar uma grana do meu coroa.
_ E tu Tatu?
_ Eu tô maus!Meu coroa tá indignado comigo porque ele me pegou matando aula no Pithon.
_ Eu já falei pra esse otário, que a gente não faz porra nenhuma e a única coisa que a gente tem de fazer esse mané não faz.
_ Oche, e a tua coroa?
_ Minha coroa é outra que tá puta comigo. Sabe aquele "Bamba" branco zerado? Fui inventar de lavar ele e enchi de Q Boa: O bocho ficou branquinho; mas, quando eu fui calçar, não por que, mas o bicho se desmanchou todo; fui amarrar os cadarços e aqueles negocinhos de metal vieram junto com cadarço e tudo na minha mão...eu entrei em pânico,mas não teve jeito o "Bamba parecia que era de papel e foi se rasgando todo. Aí minha coroa perguntou do tênis e eu fui adiando, adiando até que eu abri o jogo. A minha mãe me deus dois pescotapas e pagou o maior sapo. Não tem jeito, vô ter que apelar pro "Correio" mesmo. Eu tenho uma merreca que eu azarei da minha madrinha para ir pro Pandiá à noite. A birita a Chris vai ter de bancar.
_ É Tatu, tu tá pebado mesmo! Agora vê se tu dá uma melhorada na escola pra não queimar mais o filme com teus coroas.
_ Deixa o Tatu e as merdas que ele faz e vamo logo ver se a gente resolve as paradas da tua coroa e bora atrás do que interessa.
_ Possas crer! Bora!
_ Mas onde a gente vai descolar essa parada?
_ Oche, o Macaco não tem?
_ Tem, mas eu acho que ainda é aquela porra de "Cabelo de Creusa".
O "Cabelo de Creusa" era um bagulho cheio de fiapo e com um fedor de mijo (amônia) lascado e era o maior palhão.
_ Caralho, ainda tem desse palhão na área? Essa porra só da larica.
_ Pior que é! Outro dia eu cheguei em casa e a minha coroa ficou espantada com o panelão de mexido que eu comi.
_ "Valei-me meu senhor Jesus Cristo! Paulinho, tu não tem lombriga, tu tem é uma sucuri na barriga."
_ É por isso que essa porra encalhou!
O CAMPINHO DA COBAL
E partimos rumo à Cobal, hoje o mercado chama-se Veneza, próximo ao Hospital das Forças Armadas e bem ao lado tinha um campinho de areia, onde rolava uma "pelada" da comunidade e, como era sábado, tava rolando. O Tonto sugeriu que a gente ficasse assistindo enquanto o Palito ia lá comprar as paradas pra coroa dele.
_ Caralho Tatu, a pelada tá pegando fogo!
_ Possas crer!
Naquele momento, o lateral avançava pelo lado esquerdo totalmente desguarnecido e, quando arrisca o cruzamento, o goleiro grita:
_ Ééé miiinhaaa!!!
Minha uma pinoia! O garoto foi convicto e objetivo quando, de repente, a bola passa raspando a trave e seu braço e o "Mão de Maionese" tomou o maior peru da paróquia, motivo que o levou a ser "ovacionado" por quase uns cinco minutos:
_ Piruzeiro! "Mão de Quiabo", Pede pra cagar e sai!!!
O Neco sai lá do ataque com a boca espumando só pra xingar o "Mão de Graxa". O Neco era um garoto cor de rosa do cabelo da cor de cenoura todo borrifado de sardas que, quando ficava puto, ficava parecendo um pimentão, hehe. Retrucou:
_ Porra véi, por que tu não deixou o Branca agarrar essa porra!
_ Oche Neco, que que tem eu, deixa o muleque agarrar, meu, não tá valendo porra nenhuma mesmo.Rebateu o Branca.
Branca era um Brother nosso que era preto que azulava, e tinha as pernas com mais ou menos um metro, parecia um calango e corria tipo um bicho, lembrava o Paulo Isidoro, ídolo do Galo Mineiro à época. O muleque era habilidoso pra caramba e no gol, ele tinha as manhas também; não tinha medo de bola.
Não existe momento mais angustiante que um goleiro na hora do gol. Mas o "Mão de Óleo Johnsons" não se abalou com as críticas; sacudiu a areia e voltou para a "meta". Cogitara até uma cena de contusão para por o Branca, mas decidiu tocar o "foda-se. E sabia que a galera não ia engolir, resolveu ficar e tentar reverter aquela situação.
Eis que surge uma oportunidade; a bola vinha partindo da defesa adversária conduzida por um negão que parecia o B.A. do Esquadrão Classe A que vinha bufando feito um touro, o marcador nem teve chance, depois que levou um esbarrão, foi parar no colo do Julião queixada, o vendedor de dindin, que por sorte não quebrou seu isopor.
_ Vaaaiii Muxiba, entra duro nessa bola!
Muxiba nem se deu ao trabalho e fez que nem era com ele e deixou o cara passar.
_ Puta que o pariu! Seu frouxo, sai daí !!!! Tá com medo, vai jogar xadrez _ gritou um tiozinho do lado da gente.
Mas nosso herói, "Kid Vaselina" estava destemido e irredutível e, como à espera de um cataclisma, permanecia catatônico quando vem o negão e dispara uma bicuda daquelas que pega na veia.
Vixi Maria!!!a bola acerta em cheio a carapinha do guri que caiu de maduro no centro do gol.
_ Caralho Tatu, o muleque morreu!
_ Porra nenhuma, tu tá doido é?
_ É, mas que a chapuletada no pé da orelha foi bem dada, isso foi.
_ Possas crer Tonto! Bora lá ver essa parada de perto!
_ Bora! Caralho Tatu, o muleque tá tremendo!
_ Oche, é não é bom, é sinal que ele não morreu. Chamando Dr, Bambey, chamando Dr. Bambey!
_ Que diabo é Dr. Bambey, Tatu?
_ Nada não, é que o Palito fica dizendo que eu só fico em casa assistindo TV.
_ Oche. e o que tem a ver?
_ Dr. Bambey é o médico da Samantha da "Feiticeira". Sempre que ela tá com problemas ela chama esse cara.
_ Não fode Tatu! Depois a gente te chama de xarope, tu acha ruim.
_ Que nada Tonto, eu só tava pondo um pouco de pimenta na parada.
_ Pimenta tem que por é no olho do teu cu; o muleque ta aí se estrebuchando e tu vem com porra de Dr. Sunday.
_ Põe no teu que tu tá acostumado Tonto, Aliás, o Nome é Dr. BAMBEY, ouviu agora?!?
Ainda bem que foi só um susto e o garoto já estava retomando a consciência depois do "megatério" que levara no meio das fuças. Estava com a cara vermelha que nem pimentão e com os gomos da bola tatuados na bochecha.
_ Acorda Tele! Tu não pode morrer não, ainda faltam dez minutos pra acabar o jogo; depois tu morre!
Tele era a abreviatura de Telebrasília e o apelido do Marquinhos por causa de que ele tinha o rosto desproporcional ao tamanho das suas orelhas que mais pareciam com duas antenas da SKY, o cara parecia um Gremlinn.
O Branca pegou um copo de água do isopor do Julião Queixada e atirou na cara do Tele.
De repente o Tele começou a rea gir e...
_ Aaaaiii!!! O Tele deu de cara com a cara preta do Branca e desmaiou de novo.
Aí o Branca se emputeceu com a viadagem do Tele e deu quatro tabefes na cara dele que num instantinho ele acordou. Meio grogue ainda, Tele balbucia umas pequenas frases desconexas:
_Não mãe, hoje não tem aula; Me dá um Atari; Cadê o meu Falcon?...
_Eita porra, o muleque não tá dizendo coisa com coisa!
_ Oche, então tá tudo certo; esse muleque sempre foi meio peidado da cabeça mesmo!
_ Tele, quantos dedos tem aqui?
_ Não adianta não, o Tele não sabe contar; dizem que o Tele concluiu o prezinho por supletivo; insistia o Muxiba.
_ Não fode Muxiba, o muleque tá maus e tu ainda fica aí de babaquice? Branca sempre foi o mais ajuizado da galera.
_ Porra Tele, tu é doido, como é que tu vai numa bola daquela?
_ Oche, não fui eu que fui na bola, foi a bola que veio em mim. Engraçado, quando eu levei o gol...
_ Gol uma ova, um tremendo peru! Aliás peru é apelido, aquilo foi um baita de um avestruz, he he! Muxiba era um palhaço e não perdia uma oportunidade de sacanear nem a mãe dele.
_ Não dá pra entender, quando a gente leva um gol, vocês esculacham, mas quando a gente tira, você dizem que a gente é doido.
_ Calma Tele, não precisa se empolgar; essa defesa foi o mínimo que tu tinha que fazer depois daquela presepada de querer ser o Cantarelli.
_ Vão se fuder, se eu levei aquele gol, foi porque essa zaga tás mais furada que as ceroulas da minha vó. E tu Muxiba, tu pensa que eu não vi tu peidar na farofa na hora que o negão vinha com a bola!
_ Oche, ainda bem que eu peidei, porque se sou eu que tivesse levado essa chapuletada, eu tava era todo cagado.
Passado o susto do Tele que, graças aos deuses não passou dessa pra melhor, a pelada recomeçou.
Tele lançou a bola para o lateral que, levantou a bola na área; Jaiminho vai subir pra cabecear e leva um empurrão do zagueiro.
_Faaaltaaa! _ Gritou aquele tiozinho corneteiro de novo.
O Jaiminho se recompôs e correu pra pegar a bola.
_ Deixa que eu bato essa porra!
O Neco vem lá de trás já querendo criar caso mais vermelho do que quando o Tele tinha tomado aquele peru...
_ Sai daí Jaiminho, tu não sabe bater falta não, porra!
_ Oche, eu que sofri a falta, eu que vou bater!
_ Porra galera, cês não fala nada, esse pião vai errar!
_ Qualé Neco, deixa de quizumba, o cara vai bater a falta, não ta valendo Baré não porra! Quando tu sofrer falta, tu bate! como bom capitão, Branca decidia e pronto!
_ Então tá, depois não vai dizer que eu não avisei.
Jaiminho tomou uns trinta passos de distância, colocou as mãos nas cadeiras, deu aquela cuspidela, olhou para a galera com aquela cara de "Clark Gable"" e pariu desembestado para o chute e... o Neco até virou de costas pra não ver.
Bumba! De repente, acontece uma coisa que ninguém tava esperando: A bicuda de dedão que o Jaiminho deu acertou em cheio a nuca do Neco e espirrou pela lateral do Campo.
_ Seu filha da puta, tu fez de propósito, eu vou te matar!
_ Calma xará, foi sem querer!
_ Sem querer vai ser a porrada que eu vou dar na tua cara, seu viado!
_ Cês viram, eu não avisei que esse pião ia errar? Gritava o Neco surtado correndo atrás do Jaiminho que tava morrendo de rir, não só ele como os dois times a gente e até o Tiozinho corneteiro.
TACA A MÃE PRA VER SE QUICA!
Passados alguns instantes, eis que o Palitex:
_ Bora aí!
_ Bora!
_ Bora passar lá no Seu Francisco pra gente tomar um Baré pra trocar a grana; as paradas que eu comprei pra minha coroa custaram cinquenta mil (Cruzados) e se eu não chegar com o dinheiro trocado vai ser difícil de escalpelar uma grana dela.
_ Só véi, eu tô com a boca colando.
Aí fomos descendo em direção à nossa quebrada...
_ Fala Seu Francisco, tudo bem, O senhor tira um Baré de cinquenta mil?
_ Nós dá um jeito! Cê qué um Baré?
_ Quero sim Seu Francisco, um de tutti frutti e três copos descartáveis, por favor!
E o tiozinho abriu o Baré e nos entregou os copos; o Palitex encheu os copos e... quando a gente foi dar o primeiro gole no refri, escutamos uma gritaria danada que vinha de um dos apartamentos do prédio próximo à Budega do Seu Francisco. Derrepente me aparece um cara irado com a metade dos cornos de fora da janela com uma TV portátil nas mãos e, do nada ele a atira da janela do terceiro andar. A tevezinha se espatifou em frente ao prédio podendo até causar uma tragédia. Sabe cumé, né, sábado a rua tá cheia de gente e de repente teve um engraçadinho que puxou logo um coro: "Taca a mãe pra ver se quica!" a galera gritou umas quatro vezes. O "Troglo" apareceu na janela e alguns escondiam-se embaixo do prédio e gritavam zoando do cara. Esse camarada se emputeceu e começou a xingar todo mundo de tudo que é nome. Aí, meu chapa, apelou perdeu, a galera foi gritando mais ainda e parece que a mulher dele ainda tava enchendo o saco dele que ele resolveu tomar uma decisão:
_ Cês quer que eu jogo a mãe é seus filhas das putas!
Caralho, a galera ficou todo preocupada, meu irmão com o que poderia desenrolar com aquele doido.
_ Meu, o Cara vai descer a mão em quem ele ver pela frente!
_ Oche Tatu, ele nem sabe quem é que tava encarnando nele, e se ele tiver que dar em um, ele vai ter que dar em todo mundo.
_ Oche, e é disso que eu to falando! Tu acha Palito, que com essa carcaça de marimbondo que tu tem tu vai aguentar uma bifa desse maluco.
_ Possas crer Tatu, o Palito acha que todo mundo vai juntar o cara é? Neguinho vai se juntar e sair avuado.
Mas a emenda ficou pior que o soneto...Cumpadi, não é que esse xarope, escancarou a janela do quarto... todo mundo ficou olhando para cima, quando surge na janela um televisão do tamanho de uma máquina de lavar se arrastando pelo parapeito. neste instante surge do pilotis o Seu Domingos, o síndico acompanhado da Neivinha, filha dele e do Seu Cícero, o Zelador do prédio. Xiii, quase que dava uma merda do caralho!O coroa olhou pra cima e gritou:
_ Coooorreeee!!!
Aquele trambolho despenca espedaçando na grama do prédio e em cima dos destroços da primeira e por pouco não matou um deles.
_ Cês não pediu pra jogar a mãe seus merda; eu joguei! Gritou Troglo revoltado com toda aquela situação. De repente foi surgindo uma porrada de gente pensando que alguém teria se atirado ou caído da janela, mas depois só descobrira que se tratava de uma família desfeita por um psicopata com a morte de uma TV de quatorze polegadas e sua mãe de vinte e seis. Depois que o Troglo curou daquela cachaça foi que foi ver a merda que fez. com certeza deve ter levado um esporro da porra da mulher e teve de ir ao Carrefour atrás de outra TV.
_ Eita porra, Tatu, esse caboco é doido; dessa pinga eu não quero ver nem a tampa, Tonto.
_ Possas crer!
O Palito matou o copo de Baré e disse:
_Pega os camelos enquanto eu vou levar as coisas da minha mãe, descolar a intera e pegar o meu, daqui a pouco aqui, falou?
_ Falou?
_ Ai, vamo mudar o plano, cada um vai pra baia rangar e a gente se cruza aqui daqui uma hora com os camelos, possas crer?!?
_ Possas crer, Palitex!
O EMPURRA EMPURRA
A gente foi cada um para suas casas pegar as bicicletas e nos encontramos na barraquinha do Seu Francisco.
_ E aeh, Aonde a gente vai descolar esse bagulho?
_ Pois agora? Vamo lá na baixada ver se acha alguém!
_ O Paracas tem um bagulho bom, não tem?
_ Oche Tonto, tu não tá sabendo não? O Paracatu dançou lá no Pequi. ( Pequi é o nome da praça que tem no nosso bairro por ter uma árvore com mais de cinquenta anos e que é símbolo do Cerrado brasileiro).
_ lá no buteco do portuga, pintou um cara com umas falas estranhas que tinha saído da tranca e que tinha um punhado de pó e que queria transar num bagulho. O piabeiro ( viciado em injetáveis) do Marquinho a fim de descolar uma dose, firmou a transação com o Paracas e quando o Paracas foi fazer a parada, o cara era DTE (Divisão de Entorpecentes).
_ Caralho, o Paracatú tomou na rima! Que palha véi!
_ O negócio é a gente descer lá na área do Flamengo.
_ Bora lá!
Então a gente pegou as "bikes" e voltou para barraquinha do Seu Francisco e esperar o Palito. Passados nais uns minutos, o Palito desce.
_ Porra Palito, tu demorou pra caralho, hein? Parece uma noiva pra se arrumar.
_ Que nada Tonto, é porque você não faz ideia de como é difícil ser bonito.
O Palito sabia que quem pegava mais mulheres ali era o Tonto, mas tinha um "TOC" de vaidade mesmo. O Tonto era escroto, parecia que tinha açúcar no couro. A gente ia pras festinhas e ele falava: aí Tatu, vou pegar aquela moreninha ali, duvida? O cara de pau ia lá e em dez minutos, ele já tava azarando a mina, mas cá pra nós, o muleque era preto do cabelo liso que nem de índio até os ombros e os olhos castanhos bem claros. a mulherada pirava com o muleque, o apelido era Tonto por causa do seriado Zorro que tinha um índio com o nome de Tonto. Descemos para boca do Flamengo atrás do bagulho. Chegando lá tinha uma rapaziada fumando uma vela e a gente, muleque tinha o maior cagaço deles, principalmente num tal de Nico, um crioulo dos olhos enormes e vermelhos e a cara de psicopata mais feia que a do "Coringa" do Batman. O cara tinha mania de tomar o bagulho da galera, de vender folha de árvore em vez de bagulho e não devolver o dinheiro.
_ Ó lá, a galera tá na ativa, quem´vai lá?
_ Vai tu Palito!
_ Porra nenhuma Tonto, eu dei a intera.
_ Oche, eu também dei.
_ Então vai tu Tatu!
_ Aí depois o cara me malha e vocês vão me deixar de cara.
_ Então tá, eu vou lá e aí que tu vai ficar de cara mesmo.
_ O Tonto faz a minha.
_ Porra Tatu, quê que tem tu ir lá, meu?
_ Mas se o cara me malhar, cês vão fazer a minha ou não vão?
_ Porra Tatu, tu já ta ficando chato, mermão!
_ Tá bom, vamo parar com essa porra de empurra empurra,mas se o cara me malhar não vai encher o saco, falou? Me dá a porra dessa grana e cuida do meu camelo.
_ Deixa de reza Tatu, pega essa grana, e vai lá caralho!
Lá fui eu lá para o olho do furacão.
_ E aí Galo? Galo cego era um cara que morava na nossa quebrada que usava óculos "Fundo de Garrafa", por isso o apelido.
_ Qualé muleque?
_ Tem um bagulho aí pra jogo?
_ Tem não, por quê?
_ É que eu queria pegar 20 mil.
_ Tá maus!
_ Só!
Virei as costas e ia indo em direção dos muleques.
_ Tu quer 20 mil de chá, é muleque?
_ Quero, tu tem?
_ Me dá a grana aí que eu vou pegar a parada!
_ Cadê o bagulho?
_ Qualé muleque, tu tá a fim ou não tá a fim de pegar o bagulho?
_ Xiii Lelo, o muleque tá achando que tu vai dar banho nele.
_ To!
_Então tu vai me dar o dinheiro, ou não vai?
Meio cabreiro, adiantei a grana pro cara.
_ Dá um "time" aí que eu já volto!
Enquanto eu dava um tempo, eu voltei lá pros muleques.
_ E aí Tatu, cade o "trem"?
_ O lelo foi lá pegar.
_ Acho que esse cara tá de onda, vamo ver se a gente descola em outra quebrada.
_ Não dá não, Palito!
_ Oche, não dá por quê?
_ Porque eu dei a grana pro Lelo.
_ Tu deu a grana pro Lelo?
_ Dei!
_ Seu filha da puta, tu deu a grana pro cara e agora? Tu vai ter de me dar essa porra.
_ E a minha também! Emendou o Tonto.
_ Puta que o pariu Tatu, mas tu é muito burro mesmo, como tu da a grana na mão do cara sem pegar o bagulho?
_ Caralho véi, è por isso que eu não queria ter ido nessa porra.
_ Não quero nem saber, véi, tu vai se virar na grana.
_ Fica frio, meu. Eu tenho uma grana que eu juntei calotando no bau indo pro inglês; Eu pego lá em casa e te dou. Só que eu só tenho quinze mil, os outros cinco eu dou depois.
_ Porra nenhuma! eu quero é a grana toda!
_ Oche, tu só deu dez mil, porque tu quer os vinte?
_ Tu acha que o Tonto vai deixar por cinco é?
_ Puta que o pariu, véi! Além de ter ficado de cara, ainda dancei na grana.
De repente, o Lelo chega na roda de novo e olha pra mim apontando o nariz para o prédio diagonal acima do que a gente estava.Dei um "legal" pra ele e olhei pra cara dos muleques que mudaram de cara quando viram o Lelo de volta, e me adiantei.
Cheguei lá no prédio e esperei o Lelo chegar.
_ Aí muleque a tua parada!
_ Valeu Lelo!
_ Oche muleque, tu me conhece daonde?
_ Oche, tu não é o Lelo da Maria coleira?
_ Tu conhece a minha coroa?
_ Oche, quem não conhece a Maria Coleira, a benzedeira da cidade.
_ Minha mãe já me levou na tua casa; eu e minhas irmãs pra tirar quebranto.
_ Pode crer muleque! Abre a mão aí!
O Lelo encheu minha mão de bagulho que eu nem acreditei.
_ Pega aí meu, fiz legal pra tu porque tu conhece minha velha e por ter confiado em mim. Quando tu quiser uma parada é só dar um toque, falou?
_ Valeu Lelo!Quando eu pintar aqui e tu tiver na parada, eu falo contigo.
_ Pode crer, muleque; cuidado aí que área tá cheia de corujão!
_ Só!
Ainda lá no prédio, abri a "parada" que o Lelo me deu e realmente tava bem servida a trouxinha. Aí eu pensei comigo; Esses caras ficaram me esculhambando sem que eu tivesse culpa,resolvi descontar, eu arranquei um pedaço do bagulho, coloquei no papel e enfiei na cueca; o restante eu levei na mão mesmo e entreguei para o Palito.
_ Aí véi, o bagulho tá na mão!
_ Ainda bem Tatu, senão tu ia ter de dar conta da nossa grana.
_ Deixa de conversa Tatu e Palito, bora logo fazer a cabeça!
_ Então, pra onde a gente vai?
_ Bora lá pro "Olho da Coruja"!
OLHO DA CORUJA
Olho da Coruja era um barranco que tinha dois furos análogos aos dos olhos de uma coruja em um areal que existia próximo ao nosso bairro e do Instituto Nacional de Meteorologia; hoje fica um bairro novo chamado Setor Sudoeste.
Pegamos as magrelas e seguimos em direção ao "Olho da Coruja". Chegamos...
_ Tatu, cadê a seda?
_ Oche, que seda?
_ A seda pra gente apertar o Beck.
_ Eu pensei que tu tinha.
_ Tu tem Tonto?
_ Tenho não!
_ Puta que os pariu, não acredito que a gente veio até aqui sem pegar a seda.
_ Pior que foi!
_ Vai lá Tatu, vê se descola essa porra, já que tu não deu grana.
_ É foda! Agora pra fumar um eu vou ter de servir de dodó pra dois marmanjos.
_ Oche, tu que que a gente fume como?
_ Mas a gente podia tirar zerinho ou um pra ver quem vai buscar.
_ Zerinho ou um , não, vamos fazer uma votação...eu voto no Tatu, e tu Tonto?
_ Eu voto no Tatu!
_ Dois a zero, Tatu. Vai lá!
Peguei o camelo e mais injuriado do que já estava fui atrás da seda. Por outro lado, já não estava com tanto peso na consciência de ter malhado o bagulho deles, afinal, quem trabalha tem de receber, não é? Fui até o comércio mais próximo e catei uns guardanapos pra gente enrolar o baseado.
Voltei até o "Olho da Coruja".Chegando lá tinha uma galerinha que morava mais abaixo da nossa quadra; um tal de Lula, o Wander Perna de Calango, a perna do muleque ainda conseguia ser maior que a do Branca, uns dez anos mais tarde o reconheci no filme "Jurassic Park", Wander parecia aqueles bichos que corriam naquele capinzal, o Cesinha e o outro eu não me lembro. O "Olho" era um "mocó" onde a galera á lá pra fumar unzinho. Uma vez a gente foi pra lá à noite, na época do Cometa Halley tocar viola. fazer fogueira, fumar bagulho, beber vinho "Chapinha" e tirar um sarro com as nossas minas; a gente viu de tudo, menos o "Halley.
Rapaz, a gente juntou as "paradas"... ainda bem que eu tinha pego mais guardanapos; a gente queimou bem uns quatro "becks" lá no "Olho". A gente passou uma "data" lá no meio do mato que todo mundo ficou meio passado de tanta maconha.
_ E aí Tonto, matou a tua fissura?
_ Só!
_Vamo sartar?
_ Bora! Porra Tatu tu tá a maior bandeira!
Meus olhos são enormes e claros, fica parecendo uma brasa que até uma vez me apelidaram de Marcus...Marcus Vacilus Bandeira.
O Tonto só ficava com a "bilha" baixa e o Palito já saía de casa com colírio nos olhos, que ficava bandeira porque ficava branco demais, mas ninguém notava, só eu que era o "Chave de Cadeia" da galera.
AS GATINHAS DAS MIL
Saímos do matão, atravessamos a pista, os muleques pegaram o rumo deles e a gente pegou o nosso e entramos na "city", a primeira quadra de cima do nosso bairro, conhecida como as "mil", onde eu peguei a seda. Nosso bairro foi construído na década de sessenta e cada rua corresponde à uma centena, por exemplo: Primeira rua, cem; segunda, duzentos,; terceira, trezentos... até às oitocentos, anos mais tarde foi construído a segunda parte, as Mil, até mil e seiscentos, onde mora a Rosinha e a gente vinha passando quando ela tava no banquinho debaixo do prédio com mais duas gatinhas. a Rosinha já avistou a gente e deu um "fifo", a gente chegou junto.
_E aí, aonde vocês vão, de onde vocês vêm?
_A gente tava lá no "Olho".
_ Oche, fazendo o quê?
_ Nada, só andando de camelo.
_ Pelo jeito vocês tão andando há muito tempo de camelo que até tão com essa cara de cansados. Acho que vocês tavam fazendo coisa errada. Confessa!
_ "Nóis" tava pitando unzinho!
_ Dá pra ver, olha a cara do Tatu?
Não falei? Minha bilha dá pra ver de longe.
_ Cadê a baga?
_ Morreu!A gente passou lá na casa co Pingo e ele disse que tu tava indo pra lá. Ele tem o bagulho.
_ Ele me ligou mais cedo; eu disse que ia lá, mas bateu uma preguiça.
_ Oche, o Pingo nem quis "vim" com a gente pra te esperar; ele tava até dando uma geral no cafofo pra te receber.
_ O Paulinho é um doce!
Fudeu! Quando a mina passou a chamar o cara de doce, já era. Qualquer possibilidade de rolar um "Love" é bastante remota.
_ Eu e o Tonto fizemos uma intera aqui e pegamos uma parada... E aí Tonto, a gente pode adiantar uma ponta pras minas?
_ Oche, claro!
_ Oooiii Tonto! Cumprimentou a Berenice. Uma princesa que parecia uma bonequinha de louça, tinha a pele bem alvinha e o cabelo crespo e bem preto. Mais uma que não resistia o Tonto e seu "açúcar mascavo". Mas o Tonto tinha um "Calcanhar de Aquiles". Tinha uma mina que foi a primeira namorada dele que se chamava Carla e que os dois ficaram uns quase três anos de termina e volta até ela arrumar um outro cara em definitivo e, que ele era "arriado". A Carla era uma ruiva sardenta e era uma Hyppie que usava umas roupas bem extravagantes tipo Janis Joplin. Aí depois que eles terminaram, o Tonto, pra alegria das minas, não levava mais o coração muito a sério. A outra mina era a Adriana, mina do Paulo, não o Tatu que sou eu, um preguinho metido a piloto de bicicross, uma crioula muito linda que ele não sabia que ela dava uns pegas no Beck com a gente e, nem nunca vai saber.
_ Aí gatas, a gente vai sartar, e aí, cês vão pro Pandiá à noite?
_ De Perrepis, a gente vai, se a gente descolar uma carona com alguém.
_ A gente vai com o meu irmão, ele vai passar aqui em casa pra me pegar pra fazer companhia pra minha cunhada e pra ela deixar ele beber. _emendou a Adriana.
_ Oche, então fechou!
_ Você vai tá lá, Tonto pra fazer companhia pra gente? _falou a Berenice já escalando o Tonto.
_ Possas crer gata!
_ Então tá, a gente se vê lá, tchau!
_ Se vocês "verem" o Pingo, não diz que viu a gente não, tá bom?
_ Fica fria Rosinha, ninguém machucar aquele coraçãozinho!
_ Não é por nada não, é que ele pediu pra eu ir lá e eu ainda não tô muito a fim de ir lá, e talvez não dê pra ir.
_ Na boa! A gente nem tá indo pra nossa área ainda. O Palito só falou pra não ter que prometer, porque duro do jeito que a gente tava e chapado de bagulho, com certeza a gente não iria muito longe.
_ Então tá meninos, beijo!
_ Beijo Tonto! Gritou a Berenice.
_ Oche Tonto, tu não vai beijar a mina não? Falou o Palito. e o Tonto com a maior vergonha, foi e deu o maior beijão na Berê que quase que a mina decola.
_ Ahhh, se esse garoto me desse bola! _ falou a Adriana que logo levou aquela "secada" da Berenice.
_ Tô brincando Berê! Mas que é bonito é.
A gente foi descendo pra nossa área.
O BAR DO BILA
Chegando na quebrada, fomos direto para o comércio da quadra do Tonto, acima da minha e do Palito, onde caíram as TVs.O buteco era do Bila, um cara caolha que adorava novela ruim de negócio pra cassete, mas a galera também não era de brincadeira. O Bila era amasiado com uma tal de Juliana que era um pouco gordinha e um dia que ela tava com um "tubete" grudado no lombo, algum abestado colocou o apelido nela de "Colchão Amarrado"; a mulher ficou muito puta da cara, e a galera não perdoou, colocou na "rádio pião" que o apelido não demorou pra pegar. Bila era um cara que veio do Maranhão sem ter onde cair morto, mas foi se adiantando até abrir o buteco. Juliana era de Goiás, hoje Tocantins, braba que nem as onças que por lá circulam e, de tanto beber no bar do Bila passou pra dentro do balcão. Colchão era tão tinhosa que não tinha um dia que ela não arrumava uma quizumba com alguém e o pobre do Bila tava sempre colocando "panos quentes". Tava rolando um futebol na Bandeirantes e a gente resolveu parar para dar uma olhada.
_ Quem tá jogando? Perguntei ao senhor que estava sentado perto da saída, encostado na parede.
_ Cruzeiro e Bangu!
_ E tá quanto?
_ A porra do Cruzeiro tá perdendo.
_Oche, pro Bangu?
_ Não Tatu, pro teu cu, he, he! Falou o Palito.
_ Vai te lascar Palito!
_ Vai te lascar uma porra, tu não tá vendo o jogo aí, o tiozinho não já falou, parece que é abestado, aliás, tu é abestado mesmo.
_ Caralho, O Tomaz vai ficar uma arara de saber que o Cruzeiro tá perdendo. Quem fez o gol?
_ Foi um tal de Feijão.
Foi só a gente falar e...bumba:Um tal de Tecão marcou outro pro Bangu. Pela cara do tiozinho, ele deveria ser Cruzeirense, a gente já achou melhor desconversar.
O Bila estava bem em frente ao pé de pequi, onde se reuniam os "pés inchados" ( Bêbados) para beber algumas garrafas de "Velho Barreiro". Ali tinha de tudo; de morador de rua a coronel do Exército, de flanelinha a médico, dividindo seus traumas. De repente surge na área um cara que a gente chamava de "Praguinha". O "Praguinha era um baixinho da cabeça grande e que , por sua feiura, a galera resolveu apelidar por sua semelhança a um dos assistentes do "Show da Xuxa"; aquele baixinho que parecia uma joaninha. Praguinha vinha da Feira Permanente do nosso bairro...
Praguinha vira a esquina do comércio e dá um esbarrão no bila que vinha saindo do buteco com uma garrafa de Antarctica pra servir pro seu "Tricotando", um tiozinho que tremia as mãos e a galera dizia que se pusesse um par de agulhas nas mãos dele, ele tecia um cachecol.
_ Que isso porra, tu não olha pra onde anda não?
_ Oche, que que tem, tu também não anda pra onde olha e eu não reclamo, encarnando no estrabismo do Bila. O seu Milton tava dando uma golada num "rabo de galo" e deu uma cusparada que quase molhou a cara do Seu Valdivino, que só não perdeu a dentadura porque o Corega tava em dia.
_ Que isso Milton? Eu já tomei banho porra. _ Reclamou o tiozinho_.
_ Ai rapaziada, olha só o descuido que eu dei lá na Feira!
Praguinha tinha uma galinha debaixo do braço.
_ Descuidei essa penosa pra gente fazer de tira gosto.
O problema é que a penosa tava viva.
_ Porra Praguinha, a galinha tá viva!
_ Oche, não seja por isso...
Praguinha torceu o pescoço da galinha pra lá e pra cá, mas a galinha resistia e de repente. o Praguinha surtou e deu uma dentada no pescoço do animal que o sangue jorrou e o Praguinha se melou de sangue parecendo um Vampiro. Caralho, o único maluco que eu soube que deu uma dentada num bicho, foi o Ozzy, pensando que o morcego era de borracha. Naquele mesmo momento vinha descendo uma trupe de evangélicos a caminho da Assembleia e, espantados com a cena um deles disse:
_ O sangue de Jesus tem poder!
_ Não é de Jesus não, homem, é de galinha! _ Rebateu o Praguinha.
Depois da cena macabra do Praguinha, fomos dar uma olhada no jogo até dar a hora da gente subir pra casa e nos prepararmos para o sabadão que só tava começando. A partida foi esquentando e o Tomaz, um cruzeirense doente, ao ver o seu time perdendo pro time do Castor de Andrade ( Famoso bixeiro carioca dos anos 70 e 80 e dono do Bangu), foi se empolgando e numa jogada deu um berro:
_ Puta que os pariu, seu juiz, foi falta não, porra?!?
Colchão Amarrado já olhou pro Tomaz de cara feia.
_ Ah, meu, que peidinho de véia, que esse porra dá!
Colchão já coçou a cabeça, olhou pra cara do Bila e sacudiu a cabeça negativamente.
_ Vai, vai, vai...puta que o pariu!
Fudeu! Colchão olhou pra cara do Tomaz e gritou:
_ Ô meu amigo, tu tá pensando que tu tá na tua casa pra ficar falando palavrão é? O próximo palavrão que tu falar aí eu mudo de canal.
_Oche, o cara tá só torcendo Juliana, que que tem? _ Argumentou o Bila.
_ Bila, aqui não é lugar pra se ficar falando palavrão; é um lugar de respeito.
_ Oche se não quisesse ouvir palavrão tu tinha de abrir era uma igreja e não um buteco, Juliana. _ Rebateu o Carlinhos Monocelha... o cara tinha um taturana de vinte centímetros no meio da cara que se demorasse uns dez minutos pra nascer, neguinho ia dizer que era o clone do Monteiro Lobato, um de seus apelidos.
_ Lembro-me de um dia em que fomos ao Cine Karin do "Conjunto" assistir ao filme "Eu Christiane F." e quando a gente estava indo pra parada, tinha um cara gritando:
_ Giz mata Barata é cinco mil; Giz mata barata é cinco mil!
Aí uma senhorinha perguntou para o rapaz:
_ Moço, esse giz mata mesmo?
O sem futuro do Monocelha já foi logo respondendo:
_ Se a senhora acertar a barata com o giz, a senhora mata ela.
A tiazinha ficou meio desconfiada e desistiu. _O cara gritou
_ Peraí muleque!
Rapaz a gente viu o cara vindo e mais uns camelôs vinham na nossa cola que a gente desceu a escadaria da Rodoviária de quatro em quatro degraus, e os caras vinham muito a fim de meter o coro na gente. De-repente, a gente viu um "Buzú" arrancar com as portas ainda abertas que a gente entrou que o Motorista até pensou que era assalto.
_ Moço, pra onde tá indo esse ônibus?
_ Pro Paranoá!_Respondeu o cobrador.
_ A gente pode descer no próximo ponto?
_ Oche, pode, depois de pagar a passagem.
_ Mas a gente pegou o ônibus errado.
_ E eu com isso?
_ E o ônibus ía descendo cada vez mais pra o lado contrário da nossa cidade, e a gente implorava, até que o motorista interveio.
_ Deixa esses "porqueira" descer. Essa conversa fiada já tá enchendo o saco.
Descemos em pleno Setor de Clubes próximo à margem do Lago Paranoá, longe pra dedéu da Rodoviária e como a gente tava maus de grana, tivemos de subir o trajeto de volta a pé pra pegar o Buzú pra nossa cidade.
_ Porra, Mono, tu foi falar merda pros camelôs, quase que a gente levou um sapeca iaiá e agora vamo andar pra caralho, por tua causa.
_ Calma Tatu, a gente tava precisando dar uma caminhadinha.
_ Caminhadinha é o meu pau na tua bundinha, seu prego.
_ porra nenhuma Tatu, se não fosse esse buzú, a gente tava fudido.
_ Não fode, Mono, se tu não tivesse falado merda pros caras a gente não tava nessa merda.
Voltando ao "quiprocó" no bar do Bila, depois do Monocelha replicar a Colchão Amarrado, ela foi até a Tv e meteu a mão no seletor e nem quis saber, botou na Globo pra ver o Chacrinha. a Galera foi se indignando, com a atitude da Colchão e começou a questionar o pau mandado do Bila.
_ Qualé Bila, a gente quer ver o jogo! _ falou o Tomaz, que era o único cruzeirense de verdade.
_ Qualé é a mulher do garfo! quem manda aqui sou eu e ninguém vai falar palavrão no meu bar. _ Respondeu a Colchão Amarrado.
_ Oche se não quer ouvir palavrão, fecha esse buteco e abre uma igreja. _ Disparou o Monocelha pondo mais lenha na fogueira.
_ Porra Mono, cala essa boca! _ Rebateu o Tomaz.
Aí a colchão se cresceu, e falou:
_ Eu ia até mudar de novo, mas depois desse cara falar que eu tenho que abrir uma igreja...
_ Porra, esse mono é um prego mesmo!
_Oche, vocês tão concordando com a colchão é? Falou véi, vou lá pro Toufik assistir o resto desse jogo.
_ Que diabos é Colchão? _ Perguntou a Colchão.
_ Né nada não Juliana, esse Monocelha que tá ficando doido. acalmou o Tomaz.
_ Porra nenhuma, todo mundo aqui te conhece por Colchão Amarrado.
_ Aí que a onça ficou braba, correu pra TV e e deu uma porrada no botão de desligar que eu eu pensei que a doida ia fazer que nem aquele figura que atirou as duas pela janela, quase matando o Seu Cícero.
A galera foi toda decidindo acompanhar o Mono, e saindo para o Bar do Toufik assistir ao resto do jogo.
_ Peraí galera, não precisa exagerar!
_ Que nada véi.tua mina tá indignada com o Monocelha e tira do jogo; a gente vai ver lá no Toufik, pelo menos é ele quem manda naquele buteco. respondeu o Artur, um Pé de Bota que morava no prédio ao lado.
_ Amor, põe lá no jogo!
_ Não senhor, tu não viu de que que esses sem educação me chamaram? Vão assistir jogo na baixa da égua!
_ E a cerveja gente?
_ Pendura aí, depois a gente passa pra pagar. _ Falou o Tomaz correndo pra ver o resto do jogo.
Alguns pagaram e outros mais chegados. decidiram pendurar também.
Amor, cê tem que ver que a gente depende desse bar, meu amor, e tamo cheio de conta pra pagar. Buteco é assim mesmo, a gente não pode levar a ferro e fogo o que eles falam.
_ Mas você pensa que eu sou obrigada a ouvir palavrões; e ainda por cima você viu de que eles me chamaram? De Calção Amarrado.
_É Colchão amor!
_ Aí foi que o caldo entornou e a doida da Colchão deu uma meia duzia de bofetes no coitado do Bila.
A TV DE CACHORRO
_ Ao lado do buteco do Bila tinha daquelas conchas de orelhão presas à parede, naquela época, telefone era mais caro que carro, então a cada esquina tinha um, ou na rua, ou nas paredes dos comércio, ou ainda tinha uns portáteis que ficavam dentro; mas aí, um papo mais íntimo, ficava difícil. Bila, depois de amancebar-se com Colchão, a situação ficou meio apertada, já que colchão tinha apego aos exageros e Bila, mais feio que cachorro, não poderia desperdiçar a oportunidade de ter uma gata, digo, onça pra chamar de sua. Então a situação demandou uma ampliação nos seus empreendimentos. Bila adquirira uma assadeira de frango, tipo, televisão de cachorro e colocou do lado de fora do buteco ao lado da concha do orelhão.
Bila não sabia que aconteciam coisas sobrenaturais e que, mesmo depois de mortos, depenados e temperados, os frangos eram submetidos a rituais. Um dia o Sardalina, um cara rosa do cabelo alaranjado e cheio de pintinhas pelo corpo teve uma decisão: pegou um pedaço de papel que o Bila embrulhava o frango, abriu a TV de cachorro, escolheu o frango mais carnudo e surrupiou a coxa. Quando a galera avisou que o Bila vinha , ele se enfiou debaixo da concha e fez que tava telefonando, acho que ate usara a coxa como fone.Veio uma senhora buscar o frango que havia encomendado.
_Moço, meu frango já está pronto?_ perguntou a senhora.
_ Sim senhora, o frango já está no ponto!_ respondeu o Bila.
Quando o Bila chega na TV, abre, pega um daqueles espetos e coloca em cima da mesa, pegou a tesoura de cortar frangos e...
Bila achou estranho, o frango estar perneta, todavia, foi logo metendo a tesoura disfarçando uma estupidez, no intento de que a senhorinha não notasse o "pequeno" detalhe.
_ Peraí moço, tá faltando uma coxa nesse frango!
_ Oche dona, em nem notei que o bichinho era aleijado, tadinho! Mas não tem nada não senhora, eu te faço um desconto.
_ Desconto uma ova, o senhor pode me dar outro frango que esse aí eu não quero. _onde já se viu, frango de uma perna...o pedaço mais disputado, depois do peito.
_ Tudo bem senhora, vou pegar outro frango pra você.
Bila embrulhou o frango da mulher, recebeu e pegou o "Perneta e levou para dentro.
_ Diabos, algum fi duma égua pegou a coxa do frango! _ o Bila esbravejou muito puto.
_ Vou dar pra mulher fazer o almoço. _ A galera se entreolhou a fim de rir, ainda mais com a cara do Sardalina.
O Jaiminho tava sacou da jogada do Sardalina e logo teve uma ideia; a fim de pegar um bagulho, falou com o seu Magalhães; um doutor aposentado que "inflamava" com a galera do Pé de Pequi, se ele podia descolar um troco pra ele, se ele descolasse um frango para tira-gosto e o coroa concordou. Jaiminho descuidou um frango inteiro da TV do Bila. Pegou o frango e virou a esquina e o Seu Magalhães pediu pro Gabiru pegar com ele. Só que a Colchão tava subindo o morro, vindo do " Supermercado Minibox", e viu os movimentos do Jaiminho entregando a "penosa" para o Gabiru. chegando no buteco ela foi direto na "TV de Cachorro" e notou que além de entreaberta, tinha um espeto que tava banguela. Colchão deu ficou furiosa e entrou. Joel. ( O nome do Bila era Joegleson) _ acho que o pai dele deve ter visto esse nome ou numa lata de cêra ou num pacote de fralda, sei lá que aí ele se autonomeou Joel, mas devida a colhice, era Bila Virada, e por fim, ficou Bila mesmo_ , Cê vendeu um frango pro Jaiminho?
_ Oche, e tu acha que um duro que nem o Jaiminho ia arrumar dinheiro aonde pra comprar frango?
_ Sei não, mas ele tava mais o Gabiru ali com um frango na mão e eu pensei que tu tinha vendido pra ele. Tu vendeu quantos frangos hoje?
_ Até agora só vendi um e um eu peguei pra gente almoçar.
_ Oche, por que tu não me avisou, eu fui lá no Minibox pra comprar carne à toa.
_ Nem eu ia saber, mas quando eu fui pegar o frango pra mulher, ele tava sem uma perna.
_ Pois é, primeiro levaram a perna e depois levaram um inteiro; acho que essa maquina só vai dar prejuízo.
_ Olha lá, onde tá o frango_ Os "pé inchados" ( Cachaceiros) se deliciando com o frango que o Jaiminho descuidou da máquina do Bila.
O Bila ficou revoltado e a Colchão colocando mais veneno ainda.Passou algumas minutos lá vem o Jaiminho com a cara mais lavada.
_ Jaiminho, Tu é o maior safado héin?
_ Oche Bila, qualé a tua, meu?
_ Tu pegou um frango ali na máquina!
_ Tu ta doido é? Lá em casa tem comida, rapá!
_ Pegou que eu vi!_ Disse a Juliana.
_ Agora eu vi mesmo, Cês tão de complô pra me acusar, é?
_ Deixa de ser cara de pau, Jaiminho, eu vi tu e o Gabiru com o frango.
_ Aonde?!?
_ Atrás do comércio!
_ Ih, qualé Colchão, digo, Juliana, cê tá doida?!?
_ Ah tá, então só porque eu tava com um frango atrás do comércio, significa que eu peguei de tu.
_ Então tu tava com o frango?
_ Oche, eu não disse que tava com frango, quem disse foi tu_o Jaiminho era muito "carudo"; mentia e nem tremia, o sacana.
_ Agora eu vi, neguinho arrocha teu bagulho e tu vem dizer que fui eu.
O negócio do Bila não ia dar certo mesmo que ele se enfezou e colocou a frangueira pra trabalhar só aos domingos de manhã quando a Colchão não tomava todas no sábado e não montava porque tava com ressaca.
E no meio desse bafafá a gente que só tava de "butuca" acompanhamos a debandada pro buteco do Toufik
Toufik era um filho de libanês que, como muitos "brimos", veio para o Brasil com os pais na época da guerra; seus familiares ficaram em São Paulo e ele veio para Brasília que estava nascendo e prometendo muitas oportunidades e árabes sentem o cheiro disso, tanto que esta comunidade é muito grande no DF.
Toufik, apesar de "brimo" já era bastante abrasileirado e, como a comunidade carioca era grande no nosso bairro, ele liberou a galera do batuque a fazer uma farra lá todo final de semana e quem foi lá pra ver jogo, se decepcionou, todavia, se divertiram com o samba. Tocavam muito bem Luiz Airão, joão Nogueira, Jorginho do Império, Martinho da Vila etc. Só que na hora que a gente ia chegando o pagode já tava que a gente tava chegando, o pagode já tava acabando já beirava as seis da tarde e a galera já tava se recolhendo pra se preparar para os "embalos de sábado à noite. Rolou uns cinco pagodes e "morreu de vez" e o Tomaz só iria ficar sabendo do resultado no "Esporte Espetacular" de domingo de manhã.
Eu, o Tonto e o Palito, cada um foi para suas casas e combinamos de nos encontrarmos à noite para curtir a "Night".
A CONCENTRAÇÃO
Depois de tomar banho e fazer um rango, desci para gente se encontrar para ir pro baile do Setor Militar, só que antes tem de haver as preliminares. Fomos até o prédio dos "Crioulos", dois amigos nossos gêmeos que viviam num prédio do Exercito e tinha uns bancos no pilotis, onde a gente se reunia para os preparativos. O Magaiver era o nosso alquimista que elaborava os birinaites. A gente fazia a vaquinha e comprava os ingredientes. A gente comprava pinga, vodka, gim, rum, conhaque e misturava com as coisas mais óbvias e às vezes com as coisas mais esquisitas, como sorvete ou "Leite Moça Café"; o Magaiver sempre vinha com uma ideia maluca e a gente aprovava.
Mas, como eu já falei, depois do flagrante no Parque Pithon que eu levei do meu pai, matando aula e de ter desmanchado um "Bamba" zerinho na "Q Boa", minha maré não tava pra peixe, por isso eu não pude participar da vaquinha. Mas quando a galera se reuniu, tinha uns que fumavam um bagulho e outros que não e em frente o prédio dos crioulos tinham dois colégios e um campo de terra, onde os coroas batiam o "rachão" no domingo de manhã. lá tinha um pedaço de lage de concreto de alguma construção que a galera se sentava para assistir aos jogos e à noite a gente ia lá para fumar unzinho, por isso a gente a apelidou de "Pedra do Sacrifício"; eu tinha aquele bagulho que eu "malhei" dos caras na transação do Lelo na hora do almoço. Não me amarro nessas paradas não, mas os caras tiraram a maior onda com a minha cara e, além do mais o Lelo encheu minha mão que os muleques ainda ficaram achando que, mesmo com o malho, ainda tava servido.
A gente fumou o barley e voltamos para a rapaziada para ver o que a gente ia biritar antes de seguir pro baile. A galera foi fazendo a vaquinha para comprar a birita.
_Alguém ta precisando de passe _ perguntei_?
_ Oche Tatu, tu agora é pai de santo, é?
_ Tô falando de passe de ônibus, eu calotei ( entrar no ônibus por trás) na ida para o inglês e tô sem grana. depois que eu destruí meu "Bamba" novinho e meu pai me flagrou matando aula no "Pithon", a coisa tá russa pra mim lá em casa.
_ Quanto tu quer?
_ Três mil!
_ Oche três mil, se a passagem é quatro.
_ Então, eu tô vendendo dois por três mil.
_ Me dá esses passes aí que eu vou pro trampo com eles!
_ Boa Samú, põe três baras aí na intera da birita.
_ Beleza tá aqui cinco mil, o meu e o do Tatupeba.
_A galera tá com sede, bora logo lá. _ falou o Magaiver_.
Magaiver era o nosso alquimista na arte do "Mafú. fomos até a Cobal descolar um biricutico.; compramos uma Baikal, uma vodka vagabunda que tinha gosto de desodorante Avanço que de russo era só a ressaca que bicha fazia no dia seguinte e um dois pacotes de Kissuco de maracujá. Fizemos o birinaite e em menos de cinco minutos, a gente já tinha matado a metade do "tubo". passou mais dez e a batida já tinha evaporado.
O TÉDIO
A galera já tava "calibrada" e foi se dispersando. Minha cidade era dividida em dois bairros, cidade velha, constituída basicamente por casas e a cidade mais nova, de prédios; na velha tinha um centro comercial, que tinha uns barzinhos e uma sorveteria e em seu subsolo, uma danceteria chamada "Dizzy", que a gente fazia a domingueira. É um prédio basicamente comercial e de escritórios que a galera apelidou-o de "Tédio".
_ A gente foi seguindo para o "Tédio"; passando pelo prédio eu, o Bia, o Cadeirudo e o Zé Pretim. Passando pelo prédio do Zé Pretim, a gente avistou o Quácula. O Quácula era um muleque que quando a gente era mais novo, ele só tinha duas presas que nem o Tião Macalé de "Os Trapalhoes", mas tinha o Gibi do "Peninha" que ele virava um vampiro e seu nome era Quácula, já que era um pato.
_ E aeh, aonde cês tão indo?
_ Pro Tédio e depois pro Pandiá!_ respondeu o Zé Pretim.
_ Oche, então eu vou nesse bonde, eu também tô indo pra lá.
_ Possas crer!
_ Eu tenho até um pra nós queimar no meião ( Entre a cidade velha e a vila militar).
_ Eu também tenho um aqui.
_ Oche Tatu, tu tava vendendo passe pra comprar a vodca e agora tu tem bagulho?_ questionou-me o Bia.
_ Foi tua vó que me deu!
_ Oche, eu não sabia que a minha vó fumava bagulho.
_ E dai? Ela também não sabe que tu é baitola.
_ "Iiiiiiirrrraaa!!!! gritou o Zé Pretim. _A galera toda riu e o Bia ficou muito puto.
Chegamos, ao "Tédio"; lá tinha uma galeria que tinha um buteco que tocava um rock'n roll que a galera curtia muito de nome Samantha"s e a gente ficava lá té a hora de ir para o clube, que só começava às onze. Ao lado do Tédio ficava outro mercado da Cobal que nem o que ficava ao lado do hospital e o Quácula sugeriu oura vaquinha para gente comprar uma garrafa de cana e um litro de Teen para fazer "porradinha", Você mistura o "refri" com a cana e sacode até virar espuma e vira de uma vez. Eu como já havia dito, só comprei a vodka porque o Samu comprou meus passes e que só tinha dez mil que era o do ingresso do Pandiá, mas que no caminho a gente ia mandar uma bomba que eu e o Quácula tínhamos. A galera se espremeu e daí saiu uma grana pra comprar o Teen e a Chora Rita.
Do lado de Fora tinha a Sorveteria "Du Bom Paladar"e que, aos domingos em seu subsolo tinha a matinê às três e a Discoteca às oito. O Tédio e a Cobal eram circulados por um imenso balão ou rotatória que parecia um circuito de Formula Indy nos finais de semana.
OS "PEGAS"
Tinha uns malucos que desciam as calças e com aqueles carros que abre a traseira, como o "Brasília", o "Variant' ou o "147", passavam no circuito com a bunda branca, ou preta, à mostra.
Um dia um retardado chamado Marcelo teve uma ideia de jerico e aprontou a maior presepada:
_ Lombriga, pega o teu carro e vai lá pra a Aruc _( A Escola de Samba da nossa cidade) que fica ao lado do "Tédio".
_ Oche, pra quê? _perguntou o Lombriga.
_ Chegando lá tu vai ver.
O Lombriga foi até o carro e seguiu a moto do Marcelo. Ao chegar à frente da ARUC o Marcelo e uma garota entraram no Corcel do Lombra e começaram a tirar a roupa.
_Oche Marcelo, tu vai comer essa mina aí dentro do meu carro?
_ Que nada, Lombra; a gente vai descer o balão de moto pelados.
_Carai Véi, aí eu vi que tu é doido mesmo!
Mais doida era a mina que aceitou descer o "Balão" com o Marcelo.
_ Tú deixa o carro aqui que a gente vai dar a volta e depois a gente volta aqui pra pegar as roupas.
O Lombriga voltou lá pro "Tédio" anunciando para meio mundo que o Marcelo tava vindo com uma menina pelada na garupa da moto.
A saída da rua da Escola de Samba é adjacente ao "Balão do Tédio" e onde se deu início à presepada do Marcelo e de sua não menos retardada amiga... O momento em que a galera viu ele virando à direita e tomando a direção da Escola Classe para contornar a Cobal, a galera já correu pro lado oposto do Balão pra fazer o que neguinho já tava conspirando quando o Lombriga já estava a espalhar a presepada do Marcelo. Valei-me Deus, foi feita uma barreira humana maior que a muralha da China pra parar a "CG zinha" do Marcelo.
_ Que porra é essa? _perguntou o Marcelo.
_ Volta Marcelo! Pelo amor de Deus!!!
O Marcelo bem que tentou, mas já era tarde; a multidão os envolveu e o Marcelo caiu no meio da galera que avançou nos dois, sobretudo na menina que estava só de calcinha, e que logo ficou nua com a atitude dos "animais" que os envolveram. A pobre menina foi a mais prejudicada pela imbecilidade de achar que as ideias do Marcelo iriam, de certa forma, dar certo. Até poderia, não fosse a boca grande do lombriga. O Marcelo com a sua Bunda branca, pegou a moto e saiu vuado pro carro do Lombriga e a menina, morrendo de chorar e de vergonha, recebeu uma camisa de um cara e o casaco de uma outra pessoa, amarrando-o como uma saia, já a calcinha sumiu no meio da multidão e o Lombra ficou de ir apanhar suas roupas no Corcel, enquanto ela o aguardava no banco da sorveteria.
De repente surge, subindo a rua da delegacia, oposta a entrada da ARUC, a que vem da 3ª DP, um Chevrolet Caravan e entra à toda no "Balão", de lado e com os pneus gritando e ele apruma a "Danada" e, depois de dominá-la, dá um "cavalo de pau", tirando "fino" da galera que foi à loucura. Aí vieram as motos; tinha um baixinho chamado Tarcísio que era muito fera, ele chegava só de uma roda e depois esticava a moto à toda e freava a roda dianteira a ponto de ficar com a traseira da moto quase na vertical. e tinha a galera da velocidade que entrava arrastando a pedaleira da moto no asfalto; de vez em quando um exagerava e a moto saía debaixo dele e ele pregava a cara no asfalto.
Assim como a menina entrou numa roubada em aceirar a ideia do retardado do Marcelo, após o espetáculo do Caravan e das motos, vieram três carros de uma vez, um Fuscão rebaixado, um Brasília e teve um cara que achou que era o Fitipaldi e resolveu enfiar seu Variant na parada. o Fusca e a "Brasa" entraram rasgando na curva; já o Variant deu uma desgarrada e a roda bateu no meio fio e levantou as duas rodas de dentro da curva; o presepeiro virou o volante e o carro baixou, mas perdeu a direção e catou um Corcel II que vinha no bagaço e se espatifou no poste do transformador que era em frente ao "Tédio", enquanto o garoto da "Variola" se mandou. Caralho, o cara apagou quase a metade da cidade, inclusive o Tédio que tinha os seus bares repletos de gente fazendo as preliminares do baile do Clube Pandiá na Área Militar que era ao lado da nossa cidade. (Obs: No Distrito Federal não existem bairros; chamamos cidades satélites). Houve uma evasão desencadeada dos butecos que os donos quase deram um chilique. A galera não teve dó da coitada que desceu só de calcinha na garupa do Marcelo, não faria tanta cerimônia em ter de dar calote num comércio acometido de um "breu" danado e como uns pés de chinelo que éramos, solidarizamo-nos e aderimos ao movimento.
QUASE ME TRANSFORMEI NUM "VAN GOG"
A gente foi em direção ao Pandiá, oposta à cidade nova que morávamos, entre a cidade velha e a vila militar, o Quácula faz a sugestão:
_ Ôôô rapeize, vamo ripar mais um "beize"? Tatu, tu ainda tem bagulho aí.
_ Tenho, mas é só uma tripinha que eu deixei pra pitar amanhã.
_ Amanhã, o cabrito já perdeu a lã!
_ Carai véi, deixa de ser burro. quem disse que cabrito tem lã?
_ a gostosa da tua irmã, he he.
_ Quem tem lã é o carneiro, aquele que te comeu no banheiro he he.
_ Iiiirrraaaa!!! _ gritou o Zé Pretim, que já tava meio troncho. O crioulo derrubou mais da metade do "tubo".
_ Tatu, tu hoje já tomou no seu toba?
_ Não, mas se tu quiser sentar na minha cobra....
O Zé Pretim quase deu um troço de tanto rir.
_ Quacula, deixa de presepada e cadê o "chá" pra nós apertar?
_ Vamo juntar os bagulhos e "apertar" outro, daí a gente mata essa birita aqui e entra a mil no baile.
_ Se tiver ainda. O Zé Pretim tá pensando que é rôla e não tira da boca.
Não Tatu, to pensando que é o priquito da tua irmã.
_ Iiiiirrrraaa!!! _ Replicou o Quácula.
Na divisa da Cidade Velha com a Vila Militar, a gente parou pra fumar o baseado que eu e o Quácula tínhamos emendado.
_ Cadê a leda?
_ Eu tenho, mas só boto se eu apertar, porque aquele que tu apertou Tatu ficou o maior pastel. _falou o Cadeirudo.
_ Porra nenhuma Cadeira, o Brau ficou parecendo um Plaza longo.
_Ficou parecendo um pastel da "Viçosa". ( Viçosa é o nome da mais famosa pastelaria de Brasília e que fica na Rodoviária do Plano Piloto.)
_ O importante é que carburou!
_ Deixa de fofoca, meu e aperta logo esse basico, antes dos "terceira" passar e acabar com a nossa brincadeira, _ referindo-se aos canas da 3ªDP.
Na hora que a gente tava fumando o bagulho, tinha um carro parrado logo adiante e dele, saiu um cara que ficou "corujando".
_ Qualé bicudo, tá olhando por quê?
O Cara não respondeu porra nenhuma, mas também não parou de ficar bicando. Aí o Quácula foi andando em direção do carro do bicudo, mas ele entrou em disparada e saiu fora. A gente matou o baseado e foi seguindo nossa estrada rumo ao Clube Pandiá. Ao atravessarmos o Eixo Monumental que divide Brasília em Norte e Sul, bem como a Cidade Velha do Setor Militar, parou em nossa direção um Fusca alaranjado depois de uma freada brusca.
A gente nem entendeu do que se tratava e até pensamos que fosse algum conhecido oferecendo uma carona até a gente vir sair do Fusca, uma manada de paraíbas e parando a nossa frente e puxando peixeira da calça; o Quacula já ía lá na frente, o Cadeirudo tinha quase dois metros e cada passada dele era duas da gente, o Zé Pretim partiu em direção à Rodoferroviária, e eu só lembro de ter visto ele se estabacando no meio do gramado; acho que já estava "mamado" de tanta birita. Até que um paraíba saiu do carro com um baita cutelo na mão e os outros me cercaram e eu vi a morte se aproximar que se tivesse merda feita, teria me cagado todo de medo. O desgraçado do paraíba me deu uma facãozada no pé da orelha que ficou zunindo por mais de hora. Ainda bem que foi com a chapa da lâmina, mas machucou minha orelha legal, sem contar o sapeca ia iá que os filhos da puta me deram, levei um monte de pescotapa e umas bicudas no lombo. O Zé Pretim se deitou no capim, que estava um pouco alta e, além do mais o Zé era preto e tava de roupa escura, ninguém poderia tê-lo visto. ficou lá de cu trancado com medo de apanhar que nem eu, mas os caras nem se tocaram que ele tava ali caído, além do mais a diversão ali era eu. Mirei uma direção e saí rasgando; ainda levei mais uns dois safanões, mas consegui sair daquela roubada. após uns metros de disparada, olhei pra trás e vi que os caras não vieram atrás de mim e fui diminuindo o passo.
_ Tatu, Tatu!!! _ gritava o Zé Pretim.
_ Qual foi Zé, Tu tava onde, véi?
_ Eu tava deitado no mato só assistindo tu levar uma pisa; oche Tatu, que porra é essa na tua cara? Tá saindo sangue!
_ Esses filha da puta me enfiaram a porrada e parece que eu levei um lapada de facão.
_ Lapada porra nenhuma, Tatu, se tu tivesse levado uma lapada de facão tu tinha morrido, seu mané.
_ Levei mas foi com a chapa da faca.
_ Carai véi, tu tem de limpar essa porra pra gente ver o estrago.
A gente foi até uma guarita de um dos quartéis do Exercito e pediu umas folhas de papel toalha que o rapaz se prontificou a nos arranjar.
_ Aiii porra, vai devagar Pretim, tu quer arrancar minha orelha é?
_Eita porra, Tatu, tá a maior buceta!
logo à frente a gente avistou o Cadeirudo e o Quacula que vieram até a gente.
_ Qual foi Tatu? _ perguntou o Cadeirudo.
Contei-lhes a história e os otários em vez de se solidarizarem comigo, caíram de pau em cima de mim.
O Pretim, que já tava mais mamado que uma vaca ria que se acabava e o "fi duma égua" do Quacula me apelidou de Van Gog, o artista esquizofrênico que decepou sua própria orelha. Até hoje tenho essa marca na minha orelha esquerda.
O Sangue estancou e a gente seguiu pro Clube Pandiá, mas uma parte do meu cabelo tava duro e depois que o sangue esfriou, começou a latejar.
O CLUBE DO EXÉRCITO
O clube dos praças do Exército, que fica no Setor Militar Urbano, ao lado da Cidade Velha, tinha um baile todos os sábados durante as décadas de 70 e 80 e que era o "point" da galera da nossa área. O clube é bem estruturado, pois fora concebido no auge da Ditadura Militar e dinheiro para eles não era problema; o salão, onde se realizavam os bailes é redondo e predomina as esquadrias e os vidros basculantes enormes parecendo uma nave espacial.
Chegamos, fomos até a bilheteria...
_ Ainda bem que eu descolei essa grana_ tinha vendido um fino para o William, um coroa que morava em frente ao meu prédio dos que eu tinha malhado dos caras à tarde.
_ Oche Tatu, tu não tem grana pra biritar lá dentro, tu vai ficar de bico seco é?_ indagou o Quácula.
_ Acho que a Cris tá aí dentro já, ela disse que talvez viria e ela sempre tem um troquinho sobrando pra gente beber uma cerva.
_ Tu bem tem cara de gigolô mesmo.
_ É mas fui eu quem foi encontrado no Conic bebendo cerveja com o seu "tio". O Conic era a "Boca do Lixo", antro de prostituição, tráfico e pederastia do centro da Capital, e "tio" eram as bixas velhas que paqueravam os garotos, sobretudo os "recos"(conscritos do Exército" que eram de fora e viviam nos quartéis de Brasília.)
_ É, eu tava lá com o seu pai, seu viado, he he.
_ Era pra gente tá tudo doido, mas o Pretim bebeu a nossa "Cry Babe" ( Chora Rita) quase toda.
_ Não fode Tatu, tu não bebeu porque não quis e além do mais tive que jogar na tua orelha que os "Paraíba" quiseram arrancar.
_ Pior que é, agora que o sangue esfriou, tá doendo pra caralho.
_ Bora entrar?
_ Bora!
Lá dentro o som tava estrondo e os flashes das "Strobo" e do jogos-de-luz exaltavam também o fumacê dos cigarros, já que ainda não tinha a lei anti-fumo que trata de ambientes fechados. Encontramos logo o pessoal da nossa área; o Pingo, babando pela Rosinha o Tonto que já tava enrabichado com a Berenice e o Gugu Chassi de Brabuleta azarando a Adriana que devia ter dado um chega pra lá no prego do Paulo; mas o fato é que a crioula não tava nem aí pro Palito também, pelas incertas que ela soltava, mas quem sabe? O Gugu pode ganhar na insistência.
_ E aeh galera, beleza?
_ Diga aí, Tatu Peba, beleza, _ perguntou o Tonto.
_ Tirando a peia que ele levou lá fora, o resto tá tudo dez,_respondeu o Quacula.
_ Oche, quê que foi que rolou?
_ A gente tava fumando um e veio um paraíba e ficou bicando e a gente esculachou com ele; na divisa ele veio com um monte de pião e quando a galera correu, eu fui cercado e aí o coro comeu. Levei uma lapada de facão que quase perdi a orelha.
_ Xô ver; caralho Tatu, tá a maior buceta na tua orelha, acho que tu tem de dar ponto nessa porra.
_ Porra nenhuma, daqui uns dias tá massa de novo.
_ O que que cês tão falando aí gente? _ perguntou a Rosinha.
_ O Tatu levou uma pisa lá fora e quase perdeu a orelha_respondeu o Tonto.
_ Xô ver; eita Tatu, tá feio esse negócio; cê tem que ir pro hospital.
_ Precisa não, Rosinha, já parou de sangrar e agora só tá doendo um pouquinho. _ Um pouquinho o cacete, quanto mais o tempo passava, mais doía essa porra.
O Zé Pretim veio até a gente já dando bandeira de que tava mamado com um copo de cuba na mão.
_ Carai Zé, tu já tá muito doido, meu irmão_ comentou o Palito.
_ Oche, eu bebo é pra ficar doido mesmo, se eu quisesse ficar bom, eu bebia remédio.
Nem bem terminou a frase, Pretim deu a maior grave: o clube, como já lhes disse, é redondo e cercado de janelões basculantes. Próximo à entrada do clube, do lado de fora, existem uns batentes debaixo das janelas, onde a galera, a fim de se refrescar um pouco ou mesmo chamar uma companhia para um bate papo costumava-se sentar neles. Acontece que o Zé Pretim, que já tinha misturado vodca com cerveja, bagulho e cuba, começou a virar os olhos e desabou no chão com uma baita de uma queda de pressão. A gente sentou ele no chão e, depois de virar o cuba dele, fui até o banheiro e peguei um copo de água pra ele. Quando o Pretim foi recobrando a consciência e, do nada, ele se virou para a janela e... chamou o Raul. Poderia ser normal, não fosse um desavisado que estava sentado bem debaixo da janela, levando uma jatada na cabeça. A gente pegou o Pretim e corremos com ele pro banheiro pra ele não levar uma surra, pois, já bastava a que eu tinha levado há pouco.
_ E aí Pretim, tá melhor? _ perguntou o Cadeirudo.
_ Tô zzegaaal! cadê a minha birita?
_ Qualé Pretim, tu tá até gago de tanta cana e ainda quer beber mais?
De repente entra no banheiro um cara parecendo um sorvete de abacate com cobertura de macarrão. A gente pegou o Pretim pelo braço e vazamos com ele do banheiro pra não levantar nenhuma suspeita. Lá fora, as minas estavam preocupadas com a rebordosa do Pretim.
_ E aí meninos, como ele tá? _perguntou a Berê.
_ Tá troncho, _ respondeu o Cadeirudo, mas daqui a pouco ele tá melhor.
_ Pretim, tu tem dinheiro aí pra eu comprar um refri pra tu?
_ Tenho, mas é pra tu comprar um cuba.
O Pretim me deu cinco mil pra comprar um cuba que custava dez, mas a Coca custava cinco e eu comprei.
_ Toma aí Pretim pra tu dar uns arrotos e tirar pra sair esse fedor da sua boca.
_ Porra, Tatu, cade o cuba que eu mandei tu comprar?
_ Deixa de ser mané, Pretim, tu me deu cinco pratas pra um cuba que custa dez e eu ainda fui legal de trazer essa Coca.
_ Não quero porra nenhuma de Coca, quero minha grana.
_ Puta que os pariu, agora eu vi, fui querer ajudar esse infeliz e ele agora tá criando caso. Se tu não quer o refri, joga fora, mas eu não tenho dinheiro pra te dar, sacou? Quer saber, eu vou dar um rolé pra ver se eu encontro a Cristiane que agora quem tá a fim de biritar sou eu.
Sai à procura da minha mina pelo salão lotado, fedendo a suor e cigarro; a música que tava rolando era o melô do tagarela, uma música de uns quinze minutos que a galera do Pandiá se envolvia numa dança coletiva de mais ou menos umas cem pessoas, era massa, mas eu nunca me atrevi, já que em relação a dança, mesmo destro, tenho dois pés esquerdos. Dei o maior rolê e quando eu já tava convencido de que a Cris não tava no Baile, a encontrei, mas ela não tava só; a mina tava se engraçando com o filho do Toufik dono do bar do pagode da cidade nova, conforme já disse. Era um tal de Mamede que tinha um Dodge Charger cor de abóbora e preto, bonito pra caralho. Agora sim, depois de apanhar na rua, brigar com o Pretim e ver minha mina com um cara, não faltava mais nada. Além de estar lá dentro, sem um puto, com a orelha doendo pra caralho, ver a mina enrabichada com um cara, era foda demais pra um dia só; mas isso é o quedá contar com o ovo no cu da galinha. Pior que depois, durante a semana seguinte ela me disse que ele é quem tinha se encostado nela e ela tava doida pra me encontrar para se livrar daquele chato, todavia não achou legal eu querer dar um esporro nela e me deu um pé na bunda. Fui lá pra fora tomar um ar e encontrei o Gengiva que morava na cidade velha, mas curtia com a galera desde quando a gente jogava ping pong no prédio do Pretim, do Cadeirudo e do Quácula, ao lado do prédio do Palito.
_ E aí Gengiva, aonde tu vai nessa carreira?
_ Vou ir embora!
_ Oche, ainda não é nem uma hora, e tu já vai sartar?
_ Vou, por quê?
_ Sei lá, tu paga pra entrar e vai embora antes das lentas;pensei que fosse algo mais sério.
_ Eu não tô muito bem, tenho que ir pra casa.
_ Quem não tá bem sou eu; tô duro, levei uma bordoada que quase perco a orelha e ainda peguei a Cris com o prego do Mamede.
_ Caralho Tatu, tu tem que se benzer, véi. Xô ver; eita porra, tá a maior buceta na tua cara, Tatu, tu tem que levar ponto nisso aí.
_ Porra nenhuma, nada que um curativo não melhore. E tu, o que é que tu tem?
_ Não é nada não.
_ Oche, se não é nada, por que que tu vai sair fora?
_ Não é da tua conta.
_ Alguma coisa rolou sim, tu é que não quer falar, meu chapa.
_ Caralho, Tatu, já te falei que eu vou sartar e tu quer saber mais o quê?
_ Não vejo nada de estranho em tu que tenha que sair do "som" antes de acabar, daí eu queria saber, mas já que tu tá de "cu doce" pra dizer...fazer o quê, né? O que poderia ser tão grave pra te tirar do baile antes das lentas?
_ Porra Tatu, vou abrir pra tu, mas não vale rir e tem que prometer que vai entender e me prometer que não vai contar pra ninguém, beleza?
_ Possas crer!
_ Desde que eu saí lá do "Tédio", me bateu uma "ligeira", mas aí eu consegui controlar; só que a coisa foi se agravando e eu fui lá no banheiro; além dele estar imundo, é foda tu dar um barro dentro de um banheiro lotado; o bagulho foi se agravando e aí, eu fui dar um peido...
_ Vixi Maria, Gengiva! Tu se cagou? Liga não otário, vai lá no banheiro, se limpa com a cueca e deixa ela lá no cesto; um dia eu tava lá no Pithon e rolou uma parada dessa comigo e eu resolvi rapidinho.Que merda, heim?
_ Literalmente. Mas, por favor, ninguém pode saber disso, falei? Bora lá no banheiro que eu vou fazer essa parada.
_ Oche, e o que eu tenho a ver com isso, véi?
_ Bora lá, depois a gente toma um cuba! e vamo logo, antes das lentas, senão o banheiro vai inflamar e nosso plano vai por água abaixo.
O Gengiva entrou no banheiro e se trancou num daqueles box com porta pra se livrar da cueca cagada. Depois de uns três ou quatro minutos, o Gengiva sai do "cagador" aliviado.
_ Bora, bora!
_ Porra Gengiva, pelo menos lava essa mão toda cagada.
_ Cagada é os cambal! Cala a boca, porra!
Mas o Gengiva se tocou e resolveu lavar a mão. O engraçado é que um cara entrou no "cagador" e saiu de lá comentando indignado:
_ Eita porra, tem uma cueca toda cagada ali dentro. O cara não conseguiu segurar e se borrou todo.
_ Foi mesmo? _ perguntou o Gengiva. Caralho, pelo jeito o baile desse aí acabou.
_ Porra nenhuma, o cara deve ter se limpado deixou a cueca lá e ninguém sabe se ele tá ou não de cueca _ replicou o cara.
_ Uma vez, isso já aconteceu isso comigo em pleno Conjunto Nacional ( Shopping de Brasília) e eu fiz a mesma coisa.
Caramba, parece que toda a população da terra já se cagou na rua e o Gengiva fazendo a maior tempestade num copo d'água.
_ Que atire a primeira pedra aquele que nunca cagou nas calças! _ valorizou o então descuecado Gengiva.
_ Bora lá Tatu, beber aquele cuba.
_ Bora lá cagão!
_ Cagão é o cassete, tá afim de perder o resto da orelha é?
_ Tá bom, bora lá cheiroso!
AMIGOS ATÉ NAS HORAS DIFÍCEIS
Por falar em cagada, outra ocasião, aconteceu uma coisa muito escrota comigo e com o Tonto...
Era uma manhã de domingo, eu encontrei o Tonto na nossa área; a gente morava há uns oito quilômetros do Autódromo de Brasília que ficava às margens do Eixo Monumental. Como Brasília tem um formato de avião, o Eixo Monumental, corresponde ao corpo dele e o Eixo Rodoviário, suas asas que deram nome a dois bairros tradicionais, Asa Norte, citado em "Faroeste Caboclo" da Legião Urbana e Asa Sul.
Tinha Stock Car; naquela época eram protagonizadas pelos Opalões envenenados e sem a tecnologia estupenda de hoje. A gente tinha entrado sem pagar, é lógico, e assistimos do barranco da curva do Padock os caras descendo à toda e fazerem o curvão de lado.
Terminada a prova, a gente seguiu para o Parque Pithon, hoje Dª Sara Kubichec, para sair no Hospital das Forças Armadas, perto do Campinho, onde o Tele levou aquela chapuletada e o Jaiminho acertou o cucuruto do Neco. Pra ir a gente foi pelo Eixo, porque era subida e a gente sempre arriscava um "dedão" (Carona); sempre a gente descolava e naquele dia não foi diferente. A gente vinha cortando pelos pinheiros, quando do nada me deu uma vontade fudida de cagar.
_ Tonto, vamos lá pra perto das valas que eu tô afim de dar uma cagada.
_ Oche Tatu, que coincidência, mas eu também tô afim.
_ Caralho véi, é contagioso é? Mermão, vamo se adiantando que o trem tá ficando feio.
_ Possas crer! Só tem um parada, onde é que a gente vai descolar um papel, Tatu?
_ Eita porra, não tinha pensado nisso. _ Não fode, Tonto, tu não tá vendo o tanto de folha por aí e tu ainda tá preocupado com papel.
A gente deu um "bacu" na área pra descolar uma folha de bom tamanho e macia pra não arranhar o fiofó.
_Tonto, saca só essa aqui? Achei maneira, essa aqui tem ate uns cabelinhos pra amaciar o toba na hora da limpeza.
_ Possas crer, Tatu, agora me dá essa porra aui que eu já to me cagando todo.
_ Tatu, faz o favor de se afastar um pouco, além de eu não me sentir bem cagando ao teu lado, não tô nem um pouco afim de sentir a marola do teu cocô, meu chapa.
_ Oche Tonto, e tu acha que eu não tava pensando a mesma coisa.
_Caramba véi, foi como se eu tivesse parido de tanta vontade que eu tava. _ Comentei.
_ Calma Tatu, não precisa exagerar, baitola não engravida!
_ Vai tomar no rabo, seu otário!
_ Vou tomar porra nenhuma, vou é limpar, que, pro seu governo já terminei minha cagada.
_ Então limpa direitinho porque, quem sabe, eu vá ter que usar mais tarde.
_ Corre aqui, Tonto, pra tu ver uma coisa!
_ Ver o quê, Tatu?
_ Se tu não vier, tu vai perder.
_ O quê que é?
_ Olha, vê se não parece uma escultura do "Aleijadinho"?_ afirmei mostrando a montanha de cocô que saíra do meu intestino.
_ Vai se fuder Tatu, tu fez eu vim aqui pra ver a porra do teu cocô?
_ Oche, momentos como este têm que ser compartilhado com os amigos.
_ E é, é? Então vai lá ver os meus toletes também!
_ Eu é que não vou, meu chapa; até porque, com certeza eu sei que eles não estão assim como os meus.
Que ridículo, dois caras cagando e falando um monte de bobagens.
Moço, a gente saiu daquela cena aliviados. O sol estava alto, pois já havia passado de uma da tarde; foi quando eu comecei a sentir umas coisas estranhas; uma coceirinha indesejável no olho do cu essa bichinha danou a aumentar...olhei para o Tonto, metido a azarador e ao bonitão da turma tentando disfarçar a coceira, mas ele também não suportou e tascou o dedo no rabo também.
_ Tatu, tu tá com o cu coçando também?
_ Claro que não, Tonto, vai ver tu tá com fogo no rabo...
_ Deixa de sacanagem, porra, tá ou não tá?
_ Pior que eu tô, Tonto! Acho que aquela porra daquela planta que a gente se limpou era urtiga, lobeira, sei lá.
Caralho, a coisa foi ficando escrota e o que só estava coçando, já tava assado e ardendo que nem metiolate.
_ Tatu do céu, meu cu tá em carne viva.
_ Oche, Tonto deixa de drama, é só uma coceirinha, jajá passa!
_ Coceirinha só se for no teu cu arrombado, que o meu já deve tá é saindo sangue.
_ Bora lá no tanque pra gente lavar o rêgo!
O Tanque era uma piscina que tinha no Pithon Farias, onde o pessoal praticava modelismo com aqueles barquinhos. Chegando lá, tava cheio de gente, já que era domingo.
_ Fudeu Tatu, a gente não vai poder entrar na água e essa porra tá cada vez pior.
_ Vamo sartar logo, enquanto a gente ta aguentando!
_ Caralho Tatu, ainda tem uns quatro km até em casa.
Meu irmão, levou uns três dias pra essa porra passar.
Voltando ao Pandiá...
Às cinco, as luzes se acenderam e o baile chegou ao fim. Na saída, a galera que não tinha carro fazia a maior procissão até às Cidades orbitantes, a Nova, a velha e a vila do dos "beiçudos" (Cavalaria); a Cavalaria do Exército não ficava dentro do Setor, mas uma de suas adjacências.
Então é isso, meus caros amigos, obrigado por passarem um dia tão interessante quanto foi esse. Espero que tenham gostado!