Sinhá

Andando por essas quebradas de sertão adentro. Tomei conhecimento de uma cabocla chamada Sinhá. Que morava em uma serra, dentro de uma caverna, que só ela tinha coragem de morar. Uma cabocla bonita! Fazia até gosto olhar. Mas muito valente, nunca quis se casar. Filha de uma cigana, que de um índio foi gostar. E do fruto desse amor nasceu Sinhá. Você ai imagine! Filha de uma cigana com um índio, onde foi à beleza morar. Sinhá quando nasceu, o céu escureceu, começou a trovejar. Caiu uma tempestade daquelas de amedrontar. E ela foi crescendo, sempre dizendo, que um dia, sozinha queria morar. Um dia fugiu de casa, se perdeu pela chapada e veio aqui parar. Ai ela foi ficando, já faz alguns anos e não quer outro lugar. Sabe contar histórias, dizer adivinhação e quando alguém precisa ela ler a mão. Dizem que nunca erra, que tudo que ela prega é a solução. De dia pesca no rio, a noite vai caçar. Não tem medo de nada. E até onça pintada já cansou de matar. Fiquei curioso de conhecer a tal Sinhá. Mostraram-me o rumo, segui na direção, rodei que fique tonto, e não encontrei não. Depois foi que fiquei sabendo, que pra encontrar Sinhá, tinha que um bendito rezar. Rezei o tal bendito, achei até bonito e fácil de decorar. Quando menos espero, lá esta Sinhá. A lua vinha saindo e em Sinhá refletido todo o seu clarão. Eu juro que me assustei com aquela visão. Que mulher formosa, simples com o pé no chão. Sinhá ficou me olhando, e foi logo me convidando pra eu me aproximar. Venha experimentar um frito de cabrito que acabei de preparar. Estava mesmo um capricho, feito no azeite de coco. Senti logo no paladar. Isso da uma sustança! Menino quebra a pança, come até empanzinar. Foi logo me perguntando, sem deixar de me olhar. Com aquele olhar de felina querendo me devorar. Mas me diga o que anda fazendo por esse mundo pequeno e o que esta a procurar? Não soube o que dizer, nem mesmo eu sabia por que eu estava lá. Sinhá foi percebendo aquela confusão e disse. Se avexe não! Eu vou lhe acalmar. Pegou a minha mão e começou a destrinchar, por tudo que eu passei e ainda ia passar. Depois que terminou a sua pregação. Disse, você é diferente tem outra compreensão. Eu estava lhe esperando, eu vi tudo na sua mão. Por isso que esta aqui. Você tem uma missão! Vou entregar-me a você. Desejo de coração. Quero ser tua completamente, acabe com minha aflição. Apague esse meu fogo que me provoca alucinação. E assim foi despindo-se deixando a lua mostrar a beleza do seu corpo e seu desejo de amar. Foi ali deitado na pedra, com as estrelas e a lua a nos expiar. Que juntei os meus desejos com os desejos de Sinhá, e nos amamos por horas, até o dia raiar. Depois eu fui embora! E nuca mais eu vi Sinhá!

José Paraguassú
Enviado por José Paraguassú em 22/10/2015
Reeditado em 12/10/2016
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