SÚPLICAS INOCENTES.
Por José Geraldo da Silva
Era se não me falha a memória ano de 1982, Interior de Minas Gerais, Município de Iapú, distrito de São Sebastião da Barra. Já completavam 35 dias sem chuvas, o calor beirava aos 40°, nas estradas de terra a poeira se açulava, e as roupas inevitavelmente acabavam ficando amarelas de tanta poeira.
Os problemas respiratórios só aumentavam, e a única alternativa, onde as pessoas recorriam era na farmácia do senhor Antonio Militão, a única alternativa de cura na cidade, já que não havia postos de saúde muito menos hospitais. Os mais próximos ficavam a mais de 50 quilômetros de distância, a situação ficava cada dia mais difícil, a chuva precisava vir o mais breve possível, se não correríamos o riscos mais sérios ainda, pois as plantações não vingavam, o capim que o gado comia havia secado, logo faltariam alimentos, e muitas outras coisas necessárias à sobrevivência. Não havia sequer uma remota possibilidade de chuva, o serviço Meteorológico do senhor João Macário, só conseguia ver sol e mais sol e tempo seco, muito seco, João Macário era nosso vizinho, ele olhava pro céu todas as manhãs colocava uma mão na testa e falava como ficaria o tempo. Muitas vezes acertava, mas as últimas previsões dele não eram nada animadoras.
Certo dia ficamos sabendo que havia dado no noticiário da Radio Globo, que lá pelos lados de Governador Valadares, o gado já estava morrendo e as plantações de arroz e feijão estavam secando. A colheita certamente seria ínfima naquele ano. Perigo de faltar quase tudo. Só havia um lugar onde se encontrava água boa pra beber. Na bica próximo ao centro da cidade, todos os dias íamos buscar água nos baldes, e enchíamos os dois filtros de Barro que minha mãe ganhara da sua antiga patroa dona Lurdes.
A chuva não caía de jeito nenhum, a situação piorava a cada dia. Ouvi em uma ocasião minha mãe conversando com a vizinha dona Maria Antônia, a dona Antônia dizia à minha mãe que era sua comadre.
─ Há! Comadre; Tá feia a situação. A chuva não vem, tá tudo ficando difícil, tô pensando em fazer uma peregrinação com as crianças pra pedir a Deus que mande chuva, porque só ele mesmo para nos ajudar.
─ Sim, comadre, acho que você tem razão, precisamos rezar pedir a Deus, que mande chuva, quanto aos meus meninos, você tem minha aprovação, eles vão com certeza.
─ Tá bem, então, comadre, vou reunir as crianças, vamos sair depois de amanha no Sábado. A dona Maria Antônia era uma senhora religiosa, muito sábia, fazia benzeções, e remédios caseiros, era também parteira, e ajudava várias mulheres a dar à luz aos seus filhos, Quando as crianças sabiam que havia um chamado da Dona Maria Antônia, todas iam correndo porque sabiam que ela era muito brava quando precisava. Em poucos Minutos éramos mais de 20 crianças na porta da casa da dona Maria Antônia esperando as instruções.
É o seguinte meninos, vamos fazer uma peregrinação, vamos andar pelas estradas rezando e pedindo á Deus que mande chuvas, porque tá muito difícil a situação; vamos implorar a Deus por chuva e ela virá tenho certeza.
Perguntei então: ─ Como vamos fazer isto dona Antônia?
─ Rezando, Juca, rezando muito, e amanhã quero todos aqui vestindo camisa branca, e trazendo cada um, uma garrafinha transparente. Chegamos no outro dia bem cedo como ordenado pela dona Maria Antônia. Primeiramente ela nos mandou encher as garrafinhas, com água. Ela também pegou uma garrafa encheu com água pegou um livro de orações católicas, fez ali junto conosco uma oração, saiu na frente e pediu que a seguíssemos. Ela então começou a rezar, e em seguida cantar várias músicas católicas e pediu que seguíssemos. Antes porém, ordenou que colocássemos as garrafinhas cheias de água na cabeça. Continuamos andando pelas estradas afora, rezando e cantando. Quando chegamos próximos a um cruzeiro, ela ordenou que parássemos, demos as mãos fizemos uma oração e cada um de nós teve que jogar um pouco da água da nossa garrafinha ali no cruzeiro.
Este ritual aconteceu muitas e muitas vezes no decorrer da estrada que caminhávamos, rezando e cantando e pedindo chuva. Já havia se passado quase 6 horas que estávamos caminhando, já estávamos voltando, fazendo o mesmo trajeto da ida e repetindo os mesmos gesto. Já eram quase 16 horas, quando de repente vimos o céu escurecer, nuvens carregadas e acinzentadas, e em seguida relâmpagos e trovões. Seguindo orientação da dona Maria Antônia jogamos as garrafinhas fora, na beira da estrada e saímos correndo. O objetivo era encontrar um abrigo para escondermos da chuva, a tão sonhada chuva que finalmente aparecia. Em pouco tempo avistamos a fazenda da dona Isabel Mendes. Havia um barracão próximo á estrada, onde entramos pra esconder da chuva, junto com o trator e ferramentas. Quando nos viu o capataz ficou meio nervoso e não nos recebeu muito bem. Mas quando a dona Maria Antônia falou o que estávamos fazendo ele nos agradeceu muito e falou:
─ Nossa que bom! Então vocês são responsáveis por esta chuva que não vinha há tempos. Agora minha plantação de feijão vai vingar, graças a Deus. Esperem aí. Vou buscar uma chaleira de café e uns bolinhos que minha mulher acabou de fazer. E assim ele fez. Tomamos um gostoso café e comemos bolinhos. Assim que a chuva passou voltamos pra casa. E depois daquele dia a chuva nunca mais faltou em nosso distrito, pode se dizer que a fé nos salvou.
_______________
Jose Geraldo da Silva, nascido á 08 de março de 1969, no distrito de são sebastiaõ da barra município de Iapu MG presidente em Biritiba Mirim SP, casado com Rodyneia Aparecida de Siqueira escreve desde os 16 anos, publicou texto na antologia de poetas contemporâneos n:43 da editora CBJE, e na antologia contos fantásticos da mesma editora. Em 2013 publicou seu primeiro livro de poesias, chamado Relíquias Do Amor pela editora Garcia Edizioni, e no mesmo ano publicou também o livro de contos chamado Bão Demais Da Conta pela editora Multifoco RJ, atualmente dedica-se a escrita de seu primeiro romance que pretende publicar em breve.
Por José Geraldo da Silva
Era se não me falha a memória ano de 1982, Interior de Minas Gerais, Município de Iapú, distrito de São Sebastião da Barra. Já completavam 35 dias sem chuvas, o calor beirava aos 40°, nas estradas de terra a poeira se açulava, e as roupas inevitavelmente acabavam ficando amarelas de tanta poeira.
Os problemas respiratórios só aumentavam, e a única alternativa, onde as pessoas recorriam era na farmácia do senhor Antonio Militão, a única alternativa de cura na cidade, já que não havia postos de saúde muito menos hospitais. Os mais próximos ficavam a mais de 50 quilômetros de distância, a situação ficava cada dia mais difícil, a chuva precisava vir o mais breve possível, se não correríamos o riscos mais sérios ainda, pois as plantações não vingavam, o capim que o gado comia havia secado, logo faltariam alimentos, e muitas outras coisas necessárias à sobrevivência. Não havia sequer uma remota possibilidade de chuva, o serviço Meteorológico do senhor João Macário, só conseguia ver sol e mais sol e tempo seco, muito seco, João Macário era nosso vizinho, ele olhava pro céu todas as manhãs colocava uma mão na testa e falava como ficaria o tempo. Muitas vezes acertava, mas as últimas previsões dele não eram nada animadoras.
Certo dia ficamos sabendo que havia dado no noticiário da Radio Globo, que lá pelos lados de Governador Valadares, o gado já estava morrendo e as plantações de arroz e feijão estavam secando. A colheita certamente seria ínfima naquele ano. Perigo de faltar quase tudo. Só havia um lugar onde se encontrava água boa pra beber. Na bica próximo ao centro da cidade, todos os dias íamos buscar água nos baldes, e enchíamos os dois filtros de Barro que minha mãe ganhara da sua antiga patroa dona Lurdes.
A chuva não caía de jeito nenhum, a situação piorava a cada dia. Ouvi em uma ocasião minha mãe conversando com a vizinha dona Maria Antônia, a dona Antônia dizia à minha mãe que era sua comadre.
─ Há! Comadre; Tá feia a situação. A chuva não vem, tá tudo ficando difícil, tô pensando em fazer uma peregrinação com as crianças pra pedir a Deus que mande chuva, porque só ele mesmo para nos ajudar.
─ Sim, comadre, acho que você tem razão, precisamos rezar pedir a Deus, que mande chuva, quanto aos meus meninos, você tem minha aprovação, eles vão com certeza.
─ Tá bem, então, comadre, vou reunir as crianças, vamos sair depois de amanha no Sábado. A dona Maria Antônia era uma senhora religiosa, muito sábia, fazia benzeções, e remédios caseiros, era também parteira, e ajudava várias mulheres a dar à luz aos seus filhos, Quando as crianças sabiam que havia um chamado da Dona Maria Antônia, todas iam correndo porque sabiam que ela era muito brava quando precisava. Em poucos Minutos éramos mais de 20 crianças na porta da casa da dona Maria Antônia esperando as instruções.
É o seguinte meninos, vamos fazer uma peregrinação, vamos andar pelas estradas rezando e pedindo á Deus que mande chuvas, porque tá muito difícil a situação; vamos implorar a Deus por chuva e ela virá tenho certeza.
Perguntei então: ─ Como vamos fazer isto dona Antônia?
─ Rezando, Juca, rezando muito, e amanhã quero todos aqui vestindo camisa branca, e trazendo cada um, uma garrafinha transparente. Chegamos no outro dia bem cedo como ordenado pela dona Maria Antônia. Primeiramente ela nos mandou encher as garrafinhas, com água. Ela também pegou uma garrafa encheu com água pegou um livro de orações católicas, fez ali junto conosco uma oração, saiu na frente e pediu que a seguíssemos. Ela então começou a rezar, e em seguida cantar várias músicas católicas e pediu que seguíssemos. Antes porém, ordenou que colocássemos as garrafinhas cheias de água na cabeça. Continuamos andando pelas estradas afora, rezando e cantando. Quando chegamos próximos a um cruzeiro, ela ordenou que parássemos, demos as mãos fizemos uma oração e cada um de nós teve que jogar um pouco da água da nossa garrafinha ali no cruzeiro.
Este ritual aconteceu muitas e muitas vezes no decorrer da estrada que caminhávamos, rezando e cantando e pedindo chuva. Já havia se passado quase 6 horas que estávamos caminhando, já estávamos voltando, fazendo o mesmo trajeto da ida e repetindo os mesmos gesto. Já eram quase 16 horas, quando de repente vimos o céu escurecer, nuvens carregadas e acinzentadas, e em seguida relâmpagos e trovões. Seguindo orientação da dona Maria Antônia jogamos as garrafinhas fora, na beira da estrada e saímos correndo. O objetivo era encontrar um abrigo para escondermos da chuva, a tão sonhada chuva que finalmente aparecia. Em pouco tempo avistamos a fazenda da dona Isabel Mendes. Havia um barracão próximo á estrada, onde entramos pra esconder da chuva, junto com o trator e ferramentas. Quando nos viu o capataz ficou meio nervoso e não nos recebeu muito bem. Mas quando a dona Maria Antônia falou o que estávamos fazendo ele nos agradeceu muito e falou:
─ Nossa que bom! Então vocês são responsáveis por esta chuva que não vinha há tempos. Agora minha plantação de feijão vai vingar, graças a Deus. Esperem aí. Vou buscar uma chaleira de café e uns bolinhos que minha mulher acabou de fazer. E assim ele fez. Tomamos um gostoso café e comemos bolinhos. Assim que a chuva passou voltamos pra casa. E depois daquele dia a chuva nunca mais faltou em nosso distrito, pode se dizer que a fé nos salvou.
_______________
Jose Geraldo da Silva, nascido á 08 de março de 1969, no distrito de são sebastiaõ da barra município de Iapu MG presidente em Biritiba Mirim SP, casado com Rodyneia Aparecida de Siqueira escreve desde os 16 anos, publicou texto na antologia de poetas contemporâneos n:43 da editora CBJE, e na antologia contos fantásticos da mesma editora. Em 2013 publicou seu primeiro livro de poesias, chamado Relíquias Do Amor pela editora Garcia Edizioni, e no mesmo ano publicou também o livro de contos chamado Bão Demais Da Conta pela editora Multifoco RJ, atualmente dedica-se a escrita de seu primeiro romance que pretende publicar em breve.