INTÉ ARREVIRÁ OS ZÓI
Vai plantar barata ou pegar uma macaxeira grande e taluda pra você descascar, seu lambréu, filho do medo da noite com cumade rasga mortaia. Sabe não, sabe não respeitar um cabra vei que nem eu?! Eu que já tenho idade pra tataravô? Eu que já fui o maior pescador de toda essa redondeza, que já peguei peixe de meia tonelada com uma rede trermaio herdada do meu bisavô, feito de uma linha nylon especial, comprada lá na bodega de Seu Todó! Tá duvidando? Tá pensando que sou homem de mentira? Pois pergunte ao finado Januário que vez por outra baixa lá pelo terreiro de Pai Pedim de Xangô! Se não, pergunte a Zé Cibalena de Generosa parteira, o cumpade tá meio mouco, mas ainda sabe confirmar as coisas com o balanço da cabeça! Era o dia de São José, me lembro como se fosse ontem, perdi a hora, a caçamba veio, não fui pra salina e resolvi ir, de bisclesta, pra maré. Peguei um punhado de farinha, umas verduras e capei o gato, tirei numa reta e quando que não, num ciscar de oi já estava lá. Muntei na canoa, quando ia saindo, os cumpades iam chegando e ficaram de longe me observando! Uns duzentos metros, espaiei a rede no rio e quando penso que não, a canoa começou a tremer, me avechei, fui puxando a trermaio e pra minha sorte, um peixão, um brutamonte que não tinha tamanho todo enrolado na minha rede! Logo clamei pelo auto: me valha, São José, de um presente deste no seu dia, me valha homem de Deus, pai do Deus filho! Pois foi só eu fechar a boca pra uma chuva braba cair do céu, deixar tudo cinza na terra, o peixe se transformar num motor, levar minha canoa pra Beira do rio e me livrar da morte. Cortei as linhas com minha peixeira e o bichinho saiu de volta pro fundo do rio. Os cumpades já de joelho, rezando pela minha alma, sem saber como iam dar a notícia pra minha veia e quando me viram, saíram correndo, achando que eu tinha virado assombração, aí vem você tirar sarro de minha cara, dizendo que eu sou um cabra vei e mentiroso? Mentiroso é o senhor seu pai, que casou com a senhora sua mãe, dizendo que era uma mulher séria, mas não era, ela era da zona, da casa de Dona Loura, uma puta lá do Alto, conhecida por enganar os trouxas que não conheciam mulher. Seu pai era um cabra corno, daqueles corno cururu, que sua mãe punha pra fora e ele voltava de mansinho... Quer saber? Vá lá no pai Pedim de Xangô e pergunte ao finado Januário que vez por outra baixa pro lá! Se ele num quiser dizer, ofereça uma pinga braba ou sua macaxeira descascada que do jeito que ele gostava de macaxeira, ele vai dizer tudinho, Unte arrevirar os zói!