Vida Nova

Cansada de decepções e com a pele suja de esperanças, cantava uma balsa do tempo de menina. Andava lentamente olhando a paisagem e sentindo o vento leve na face. As repetitivas situações de tristezas haviam secado a velha fonte de lágrimas dando espaço para um coração remendado e marcado por cicatrizes mil. No rosto algumas marcas da vida medíocre e no peito marcas invisíveis do amor findado. Deixava pra trás um pedaço de terra infértil, alguns vasos de plantas conselheiras, um espelho na parede do quarto e um homem que um dia amou secando de tristeza no colo da amante. Apática, pensava na chegada, em novos tecidos para vestidos, no desejado pó de arroz e água de colônia. Muito tempo distante da vaidade não havia matado os desejos que ela sustentava frente aos espelhos. Na boca o resto do batom na cor do líquido espesso que corre em suas veias. Ela não possui mais nada material, mas carrega a coragem e a certeza de ser muito mulher...