UMA SAUDADE

Hoje, ao passar por ela, não resisti; feito cachorro sem dono, entrei portão a dentro em direção ao pátio da minha velha escola. Era manhã de um sábado ensolarado, alegre e festivo; e o mais incrível é que só agora, depois de homem feito, percebi que as escolas em finais de semana e feriados parecem castelos mal-assombrados sem a presença de seus alunos; se bem que foi bom reencontrá-la justo hoje em que se encontra despovoada; pois só assim, serei o único a quem dará atenção.

Em face disso, fui me aproximando dela, os braços estendidos como se pudesse envolvê-la; parece loucura, mas tive a impressão de que ela também abriu-me os braços.

Ah! Essa velha escola que, ao longo dos anos, vem se mantendo presa pelos grilhões dos alicerces renitentes. Até hoje salta-me aos olhos simetricamente erguida, embora lutando em vão contra o tempo que lhe corrói as estruturas. Percebi que algumas coisas foram substituídas, tais como o iminente portão de madeira que outrora eu me pendurara, deu lugar a outro de chapa de aço; a velha escada de tábuas empenadas que outrora galgara correndo, é hoje feita de cimento armado. As professoras, os alunos não são mais os mesmos; mas ainda permanece aqui as telhas enegrecidas e desalinhadas, as janelas azuis desbotadas; até seu Reginaldo, o zelador, ainda está por aqui.

Ah! Essa velha escola, figura constante na memória! O sonho bom de se sonhar! Não me causaria surpresa se a reformasse ou a demolisse; assim como a ave fênix, ela renasceria sempre dos escombros de minhas lembranças.

Imerso em minhas lembranças, prossegui caminhando lentamente; agora em torno dela, embevecido, observando a tudo em seus pormenores, feito técnico da Defesa Civil avaliando o péssimo estado de conservação de um prédio em ruínas. De repente paro, giro nos calcanhares e vejo por fim... Era essa janela que abaixo sentei; a janela da sala cuja vidraça quebrei; a janela da sala de aula da tia que mais amei.

Ah! Essa velha escola, palco das minhas travessuras! Quantas saudades me dá! "Na hora do recreio, o futebol no pátio; sobre calçadas, o girar dos piões; das meninas, os jogos de amarelinhas; assim como o respeito mútuo entre alunos e inspetores; das disciplinas dos mestres, das merendeiras que nos tratava como a um filho; dos estudantes rigorosamente uniformizados que, a exemplo do amor à Pátria, arrepiavam-se ante a execução do Hino Nacional."

Ah! Essa velha escola que me proporcionara os melhores anos de toda minha vida! "Foram-se os tempos em que a Escola Pública era um templo de competições, e não um antro de rivalidades; onde o aluno priorizava a iniciativa, ao invés da iniciação ou trote."

__ Bom dia cavalheiro. Era seu Reginaldo em pessoa!... A voz roufenha, carapinha de algodão, rosto encoberto pelas rugas, corpo curvado. Somente os bondosos olhos não mudaram, eu seria capaz de reconhecê-los em meio a multidão.

__ Bom dia. Respondi, depois de alguns momentos de queixo caído em ver que seu Reginaldo estava velho, tanto quanto ou mais do que a própria escola; ambos já deveriam ter sido tombados pelo Patrimônio Histórico Nacional.

__ O senhor procura alguém?

__ Sim... a mim mesmo.

__ Como!?