ASSASSINO DE ALUGUEL

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Roberto queria muito matar. Pelos filmes que assistiu inferiu que não era tarefa difícil; muito pelo contrário era fácil a depender do método empregado. Não queria empregar uma morte supliciante como as dos filmes de horror, nada de facas, flechas ou adagas que prolongasse a dor da vítima. Não apreciava esse tipo de coisa; preferia uma morte instantânea, sem embargos, o disparo agudo de uma arma de fogo. Usar o gatilho como o botão de um interruptor lhe parecia fascinante, porque os interruptores apagavam lâmpadas, que podiam ser religadas, enquanto um revolver apagava uma vida que não podia se ligar mais. A irrevogabilidade da ação o excitava muito; igualmente as peripécias do momento, a adrenalina em mirar o alvo, em estudar a hora precisa e deflagrar o disparo; quando preciso o tiro de misericórdia, ficava mais interessante ainda. Saboreava em sua mente a idealização da morte das suas vítimas, tal como vira nos filmes de ação.

Um dia finalmente Roberto decidiu saciar toda a sua sede de sangue. Não podia matar apenas por esporte porque seria um disparate. Decidiu se tornar um assassino de aluguel. Era a deixa perfeita, conciliar um fazer prazeroso com uma profissão. Quando viva, sua mãe sempre ensinara que ele deveria trabalhar fazendo algo que realmente gostasse de fazer – creio que a mãe do jovem não tinha em mente este alvitre do filho quando o aconselhou, porém o conselho acabou sendo o suporte para aquela decisão maquiavélica.

Se Fernando era um psicopata sádico e ferido pela vida? confiantemente que não, leitor. Era um jovem plácido; estava abaixo da casa dos 30 anos, morava só por opção. A família morava em outro estado. Ele trabalhava em uma lanchonete do bairro; odiava o emprego e principalmente a humilhação dos clientes. As vezes queria mata-los! Já se vai entendendo o outro viés que nutria suas ideias homicidas. Apesar de tudo não era um moço amargurado que se isolava do mundo e renegava a humanidade, tinha amigos, tinha namorada, gostava de sair, de ir ao cinema. Não tinha um histórico de violência, era um bom funcionário, na vizinhança também era querido; mas o ser humano é uma caixinha de surpresas, a essência pode diferir das ações.

Para por em prática o seu plano. Precisava perder a virgindade em matar. Já comparara um revólver para a hora oportuna, faltava pressentir a hora. Decidiu que seria aquela noite. Pôs o cano do revólver dentro da calça, cobriu com a camisa e saiu de casa. Não tinha em mente ainda uma vítima certa. Cogitou que mataria a pessoa mais vulnerável que achasse. Era tarde da noite; bateria meia noite em um relógio da cidade. As ruas estavam desertas e silenciosas. Qualquer pessoa transitando ali seria presa fácil, “Nunca se sabe quando um sádico vai atacar; pobre infeliz que cruzar o meu caminho, mal sabe que sua existência estará em minhas mãos”, era no que o nosso amigo ia cogitando enquanto espreitava se encontrava alguém na avenida.

Encontrou uma garota. Foi se aproximando para não errar o tiro. A moça o viu e se assustou, apertou os passos para as bandas da rua onde morava, não estava longe. Roberto acelerou também; a moça volveu o rosto para trás, viu que realmente estava sendo seguida, desesperada correu tentando abaixar-se como a pegar algo na borda da calça. Roberto avançou em cima dela temendo que fosse alguma arma; nesse ínterim a garota tropeçou e caiu de bruços; ia se levantar para tentar reagir, mas quando virou-se já estava diante do meliante, que apontava um revolve em seu rosto.

-- Por favor não me mate! Eu te dou tudo o que você quiser!

Roberto refletiu um instante. Tudo o que ele quisesse? O que ela estaria insinuando?

-- Como assim, tudo o que eu quiser?

-- Dinheiro; posso da o dinheiro que você quiser, mas não faça nada comigo.

Esmoreceram as esperanças luxuriosas do rapaz; mesmo assim ele estava com a arma podia obter o que quisesse. Mas não queria partir para outro lado, a ideia era se tornar um assassino não um estuprador.

-- Não quero dinheiro nenhum!

-- Então o que você quer?

-- Matá-la.

-- Porquê?

-- Faz alguma diferença se eu disser o motivo?

-- Mas é claro! Não se mata uma pessoa sem dizer porque a quer matar.

-- Como não, você é a primeira pessoa a dizer uma coisa dessas. Na maioria dos assassinatos as vítimas morrem sem saber a razão, até porque se o executor fosse explica-la poderia deixar a pessoa fugir.

-- Discordo! Nunca assistiu Lucky Number Slevin: Há dias de azar? Ou o vingador? Nunca leu algum desses livros de vingança, como Mente Sombria entre inumáveis outros. O vilão sempre explica o porquê de executar as suas vítimas, do contrário não faria sentido nenhum mata-los.

Roberto já assistira todos aqueles filmes e porventura também ouvira falar do livro embora nunca o houvesse lido. Empolgou-se em contrariar a moça, até porque ela citara alguns casos; já vira uma dezena de outros filmes e livros em que não havia ocorrido assim.

-- Esses são casos específicos, são histórias de vingança. É natural que em uma vingança o vingador explique o teor da vingança, porque concordo que em caso contrário não faria muito sentido. Mas existem vários outros filmes, e em colateral? Tom cruz explicava as suas vítimas porque as matava? E quanto a Jason ou freddy Krueger acha que eles precisavam explicar porque matavam às suas vítimas?

-- Filmes de horror não contam! Neles os assassinos são irracionais matam por matar, são verdadeiros demônios. Em colateral Tom Cruz explica ao tocador de Jazz porque queria mata-lo, e ainda lhe dá uma chance de sobreviver o que eu particularmente não estou tendo aqui. A verdade é que nos filmes em que os assassinos têm um pouco de sanidade eles absolutamente não matam por matar. Tem sempre que haver um motivo, uma razão, não importa se a mais banal, mas tem que haver uma.

Roberto começou a se aborrecer com a persistência da jovem, até porque os seus estranhos argumentos tinham algum sentido.

-- Tá de brincadeira! Não estamos em um filme! Isso é a vida real; não preciso da droga de um motivo para matar ninguém. A minha vontade é o meu motivo!

A moça que até então estava sentada levantou-se, encarando-o com indignação:

-- Então é isso? Vai me matar sem motivo, sem me conhecer, sem saber se eu mereço morrer ou não?

-- Quer dizer que só devo matar pessoas que eu conheça bem, que façam parte do meu ciclo de amizades...

-- Não me venha com ironias! Sabe que não está certo querer me matar sem razão. É um absurdo!

Roberto estranhava a ousadia da moça e toda aquela situação embaraçosa; queria apertar o gatilho de uma vez. Continuava com o revolver apontado para a garota, mas ela falava e falava, e ele não queria mata-la enquanto estivesse falando, não era como estava em seus pensamentos, queria ser fiel a sua idealização criminosa.

-- Você deve ter algum problema. Não vê que estou com o revolver apontado para você e posso atirar a qualquer momento. inclusive já era para está morta.

A moça afastou-se para trás amedrontada, com as mãos para frente como a se proteger.

--Espere! Não me leve a mal, eu só queria entender, só isso. Se você quer tirar a minha vida, ou seja a coisa mais importante que eu tenho, não acha que ao menos eu tenha o direito de saber o porquê alguém a me está tirando?

Roberto considerou que realmente era um obséquio muito simples, se realmente fosse esse o último desejo da futura finada valeria a pena concede-lo. Contou a razão de havê-la escolhido como vítima: a mera causalidade; explicou também que queria se tornar um assassino de aluguel, mas que até então não executara ninguém, precisava matar alguém para incutir em si a coragem de cometer os próximos assassinatos.

- Então não sabe se tem coragem de me matar?

- É claro que eu tenho!

- Então porque ainda não matou?

- Porque até agora você não me deixou tagarelando no meu ouvido e fazendo perguntas o tempo todo!

- Tem certeza que quer mesmo me matar?

- Tenho.

Respondeu Roberto Sem hesitar.

- Sua consciência não vai te acusar depois?

- Mas afinal de contas o que você quer? Me ensinar a andar no caminho do bem?

- Calma desculpa. Quer saber, se quer me matar mata de uma vez. A vida tá uma droga mesmo. Há dois dias peguei o meu namorado com minha melhor amiga. Fui reprovada no vestibular, meus pais se separaam e meu patrão me demitiu. Não tenho motivos pra continuar vivendo. Puxa logo esse gatilho e vamos acabar de uma vez por todas com essa palhaçada.

O jovem refreou-se, pela primeira vez ali sentiu pena da garota; se isto era verdade, realmente era uma jovem desafortunada.

- Não fique assim, essas coisas acontecem.

- Acontecem só comigo. Sou a pessoa mais sem sorte deste planeta.

- Você é bonita, inteligente e muito corajosa, não é todo mundo que consegue dizer as coisas que você diz na mira de um revolver.

- Eu tenho uma amígdala cerebral pequena.

- Como assim?

- Amigdala uma região do cérebro responsável pelas emoções e sentimentos. A minha é menor que a dos demais, o que naturalmente tornam minhas emoções e sentimentos mais frios em certas situações.

- Nossa! Nunca havia ouvido falar nisso.

- Não é um fenômeno muito comum. Até nisso não levei sorte.

O rapaz sentindo-se comovido:

- Pra provar o contrário, ou seja que você é sim uma garota de sorte, não vou mata-la. Vou deixa-la ir.

A moça abriu um sorriso, os olhos cintilaram. Era tão bonita!

- É sério?

- Sim pode ir embora.

- Muito obrigada senhor! Você é o assassino mais bondoso que já conheci!

Virou-se para ir embora as pressas. Roberto sorriu; que loucura ouvir aquilo. Como podia justamente na primeira vez que ia matar uma pessoa fazer amizade com a vítima? Sentiu que não levava jeito para aquele tipo de serviço, se realmente levasse a moça estaria morta, o fato da conversa entre os dois haver rendido tanto, era justamente porque lhe faltava coragem para atirar. A sensação era bem diferente da dos filmes, entendeu que nunca poderia ser um assassino. Era bom que se contentasse com o prazer de assistir aos filmes do gênero.

Quando virou as costas e deu alguns passos ainda na rua em que abordara a moça, recebeu dois tiros nas costas. Caiu no chão quase moribundo, virou-se e viu a garota que deixara escapar. Em verdade que ela escondia um revólver por dentro da calça próximo ao calcanhar, teria pegado antes se ao se abaixasse não houvesse tropeçado.

- Eu sei porque não me matou. Porque não é um assassino. Estou fazendo isso para evitar que se torne um. É melhor poupá-lo dessa vida incerta e viciante. Acredite, eu sei, não irá perder muita coisa.

Apontou o revolver para o seu rosto e deflagrou o último disparo deixando-o morto.

Dion souza
Enviado por Dion souza em 22/07/2015
Reeditado em 23/07/2015
Código do texto: T5319777
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