O boné do Zico
O Zico não era estudado, mas sabia quando via uma coisa de valor. Por isso ficou feliz quando viu aquele boné vermelho, com um desenho geométrico na frente. Baixou-se, pegou-o, e olhou por dentro. Agora tinha certeza: aquilo era importado. Umas palavras estranhas, provavelmente Inglês. Como alguém foi perder aquilo? Não importava, agora era seu. Chegou em casa, tomou um banho e saiu para um passeio pelo centro da vila. Com o boné, é claro.
Pedalou pela rua que conduzia até o centro da vila. Estacionou num poste da rua principal e começou a andar. No fundo mesmo, estava querendo exibir sua nova “aquisição”. Não era todo dia que alguém da vila tinha alguma coisa de outro país para mostrar. Não demorou muito para alguém gritar um insulto: “idiota”. A decepção e o susto do Zico foram enormes. Como pode haver gente tão invejosa? Por causa de um boné? Antes de chegar à loja de conveniências, ainda ouviu mais um: “Palhaço”.
Pelo menos dentro daquela loja ele estaria protegido. As pessoas por ali o conheciam e certamente fariam um comentário agradável, despido desse horrível sentimento de inveja. Mesmo sendo pobre, ele não conseguia entender como as pessoas podiam ficar tão agressivas só por causa de um quepe, por mais bonito que fosse. Para sua surpresa, a primeira coisa que ele viu foi uma tremenda cara feia de um funcionário que, antes, sempre o cumprimentava. Enquanto, confuso, juntava as mercadorias que queria comprar, podia ouvir sussurros que, por algum motivo, ele sabia eram destinados a ele. Sentiu uma urgência de sair dali. Colocou as coisas sobre o balcão. Ilídio, o caixa, nem olhou para a cara dele. Cobrou, pôs as coisas num saco de papel e jogou-o com raiva de volta contra o balcão. Zico saiu apressadamente do lugar, tirou o boné e foi para casa. Entrou e jogou o motivo da raiva sobre uma cômoda. Pegou uma cerveja e foi espairecer numa cadeira da varanda. Queria pensar em outra coisa.
Na sala, sobre o móvel, estava aquele lindo boné vermelho. Na frente, um bordado bem feito, com linha preta, de uma suástica. Coitado do Zico, não tinha a menor ideia do que significava aquilo.
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Essa vida da gente
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