= O despacho =

Conto sem aumentar nenhum ponto, como é do meu feitio.

Mas não revelo a fonte. Segundo um preceito jornalístico, quem revela a fonte é água mineral.

Dizem que o Chupa-Cabras caminhava faminto e sedento pelos campos à caça de mais uma vítima.

Em uma encruzilhada encontrou uma despacho de macumba daqueles bem caprichado.

- Nossa! Quiquiéissu! Quanta coisa!

Contou mais de cinquenta velas coloridas. Principalmente pretas e vermelhas. Menos brancas.

De comida, doce e salgada, pra mais de cem gamelas.

Sem contar uma batelada de galinhas pretas e bodes da mesma cor.

Bebida então, em profusão. Pinga de garrafão, mais 51, Velho Barreiro, Japi, Oncinha, etc. Vinho nem se deu ao trabalho de contar. Vinho dos bons, Chapinha, São Tomé, Sangue de Boi e outros menos cotados.

O Chupa-Cabras só não entendeu o que fazia bem ao centro do despacho aquelas fotos da "Mulher Sapiens" e do seu Inventor, Mentor e Guru, o Sapo Barbudo.

Nem aqui estamos livres desses. Ainda bem que é só fotografia, por que se estivessem ao vivo essa pingaiada toda ia ser pouca pro “Eu não sei de nada, companhero” e a “Muulher Sapiens” ia cair de boca em tudo que é gamela com comida à base de mandioca. – pensou.

Mas eu não vou dar conta disso tudo. E é muito desperdício não aproveitar. Com essa crise jogar comida fora é o maior pecado.

Passou a mão no Uaiphone, que comprou na última passagem por Minas, sua terra natal e mandou mensagens pros familiares e amigos chamando-os e dizendo pra virem rápido que a festança estava garantida. Que só trouxessem a sede e a fome. O resto ele garantia.

Não demorou e a sua esposa chegou trazendo junto uma ninhada de Chupa-Cabrinhas.

Ainda bem que minha sogra não veio. – pensou.

Vieram tios, tias, primos, primas. E cunhados, que não perdem uma boca livre nem que a Vaca tussa.

Vieram também a Mula-Sem-Cabeça, a Cuca, o Boitatá, o Currupira, a Ovelha Negra e uns dez Sacis que mesmo sem serem convidados vieram de penetras.

Banquetearam a noite toda. Bebidas e comidas não sobrou nada.

Sobraram somente as velas e as duas fotos, por não serem digeríveis.

De anormal mesmo só uma briga entre os Sacis, que bêbados se estranharam por causa de uma touca que um deles roubou de outro e encheu de comida pra levar pra casa. Foi voadora e pernada pra todo lado. Mas logo foram expulsos da festa e tudo ficou bem.

A “Macumba Fest”, nome sugerido por alguém terminou só de manhãzinha, quando já começava a clarear.

Os últimos a saírem foram a Mula-Sem-Cabeça, toda romântica procurando chifres na cabeça do Cavalo, seu novo namorado.

= Roberto Coradini {bp} =

27//06//2015