- Os irmãos Montanha e Floresta

- Existiram dois “monges sábios” há muitos séculos atrás.

Nasceram sob a luz da mesma lua, filhos da mesma mãe; crianças predestinadas!

Os irmãos sábios cresceram juntos, e eram implacáveis quanto aos ensinamentos; e em uma de suas retiradas espirituais separaram-se para nunca mais se ajuntar – dizem ter sido obra do destino – afinal ambos tinham seus seguidores e estavam cansados dos conflitos entre os mesmos.

O Sábio mais velho (com seus poucos minutos a frente de velhice, afinal eram gêmeos) escalou a montanha mais alta que havia.

Sua escalada perdurou dias; E enfim, chegou a seu destino, seu recanto de paz.

O mais novo vendo que seu irmão escolherá a solidão do que ás diversas brigas decide então mudar-se também; logo atrás da floresta proibida, entre os grandes penhascos existia um desfiladeiro conhecido como Boca do Lobo e lá se foi o mais jovem, desceu o desfiladeiro pondo sua vida em perigo; mas seguiu seu destino encontrando assim a caverna mais sombria que já havia posto os olhos. O sábio, fez lá sua morada.

Os anos assim se passaram, e o povo dividido que havia naquele mosteiro não tinha a quem recorrer. Começaram assim a não mais criar seus “pré-conceitos”, abandonaram as praticas erradas e todos os dias pediam aos céus que lhes devolvesse os sábios.

O Sábio da Montanha como ficou conhecido quebrou sua meditação quinze anos depois de sua escalada, o tempo estava bom; pegou suas coisas e se pois a escalar montanha abaixo...

Ao chegar próximo ao mosteiro foi recebido com alaridos, as crianças o puxava os velhos abraçavam e todos, realmente todos gritavam e pranteavam por seus ensinamentos.

Com muita calma e sabedoria o Sábio da montanha levantou a mão direita e todos se calaram, ele então disse:

- É bom estar de volta amigos, digam-me onde está meu irmão?

O silencio pairou pelo ar, afinal não sabiam o paradeiro do sábio mais jovem, ele havia simplesmente ido embora, pego o rumo floresta adentro e nunca mais voltara. Uma criança, com idade aparente aos seus dez anos, aproximou-se do Sábio e disse:

- Senhor, seu irmão vive na floresta; vela por nós de lá, sua casa e na “Boca do Lobo”.

Horas depois o Sábio das montanhas se retira para enfim encontrar o irmão, que para surpresa de todos ficará incumbido de proteger, ensinar e mostrar ao povo o caminho do bem. Caminhou durante horas até a chegada do desfiladeiro e assombrou-se com a cena que viu, seu irmão mais jovem estava sentado em uma pedra oval, que lembrava a estatura de um elefante, coberto apenas por uma manta e ao redor da pedra havia seres de todos os espécimes; O mais jovem ao ver seu irmão desce calmamente da pedra, pega em suas mãos e as beija dizendo as seguintes palavras:

- Senti sua falta meu irmão.

O irmão mais velho indignado diz:

- Como pôde? Confiei a você a sabedoria para ensinar o povo e você os deixou trancando-se aqui na floresta; os deixando ao relento!

- Meu irmão, em nenhum momento o povo esteve só; todos os dias peço ah Kashin a onça que veja como todos estão. Na realidade meu irmão eles nunca precisaram de nós, as guerras de religião acabaram, não existem mais dois grupos que seguem a duas pessoas e sim um grupo que guardou ensinamentos de dois sábio que se foram; Você se tornou o Sábio das montanhas e eu, simplesmente o Sábio da floresta. Poucas foram às pessoas que vieram até aqui, todos os dias vejo aquele povo que nos acolheu e protegeu praguejar nossos nomes por não estarmos presentes, mas isso foi se acabando com o tempo e eles descobriram que não somos deuses, mas sim apenas humanos.

Atônito e confuso o Sábio das montanhas havia entendido tudo, porém era difícil lhe dar com a certeza de que; seu irmão mais novo havia ultrapassado seus entendimentos. Que seu irmão havia se tornado o Sábio da floresta e cultivava um dom que era licito de seus ancestrais [apenas os Sábios escolhidos falariam com animais], uma mistura de orgulho e felicidade haviam o tomado por inteiro;

O Sábio da floresta vendo seu irmão em completo transe, rompeu com as seguintes palavras:

- O que eles precisam meu irmão é que fiquemos longe, pois a verdade é; eles nunca saberão levantar se não caírem e nunca serão completos se não estiverem sozinhos... Não precisam de nós para seguir, apenas do que já fizemos por eles! Agora você consegue entender irmão? Amar é também deixar partir!

Montanha e Floresta sentaram-se juntos a beirada do precipício Boca do Lobo, conversaram coisas mil e resolveram então perpetuar seus ensinamentos; Entregaram suas almas a floresta se fazendo assim parte d’ela.

O povo do mosteiro conta até hoje a historia dos irmãos Montanha e Floresta, dois Sábios que viveram na Terra e hoje fazem parte da floresta proibida; Os ensinamentos que deixaram nunca foram esquecidos. Eles aprenderam que partir é necessário algumas vezes, e voltar nem sempre é a solução.

Dizem que até hoje os animais protegem e vigiam o velho e esquecido mosteiro!

Paschoal George
Enviado por Paschoal George em 26/06/2015
Código do texto: T5291092
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