ZECA MAMÃO

Este camarada era da pesada, ou seja, era uma pessoa que contava muita mentira e das mentiras que ele contava não se aproveitava uma. Era o grande conquistador de plateia e um grande dramaturgo, porque gostava muito de teatro e sabia interpretar muito bem o personagem do qual representava.

Era uma pessoa que não gostava muito de trabalhar. Trabalhava uns seis meses, mais alguns dias e pegava alguns de dias de descanso. Ia pescar e passar o tempo preparando outras mentiras, de preferência sobre garotas.

Como a economia do Brasil ainda estava no auge, Zeca Mamão resolveu criar um pouco de vergonha e arrumou em emprego no hospital da cidade. Tinha muita habilidade para cuidar dos doentes e mais ainda para contar mentiras. Em seu primeiro dia de trabalho, Zeca contou tanta mentira para os enfermeiros que o médico plantonista pediu que ele fosse de quarto em quarto, na enfermaria e outros lugares para contar mais mentiras. Até contou que havia estudado medicina e quase formou...

Assim era Zeca.

Marcos, enfermeiro com vasta experiência, não se contentava em ouvir tanta mentira de Zeca e sempre pensava em algo para fazer com que Zeca parasse de falar tanta asneira e tanta conversa fiada, mas não tinha uma maneira certa de fazer tal algo.

Em um dia, em uma emergência, Marcos ficou sabendo que Zeca tinha muito medo de defunto. Jamais passava perto do velório da cidade e cortava volta do estabelecimento da funerária. Quando saia e encontrava algum enterro, virava o rosto e às vezes saia correndo.

Marcos guardou aquilo consigo.

Apesar de contar muita mentira e falar conversa fiada, Zeca era um ótimo profissional. Sabia cuidar minuciosamente dos pacientes. Tinha muita calma, tinha muito respeito e muita coragem para sua profissão.

Certo dia, apareceu uma senhora com o quadro de saúde muito ruim. Estava muito doente e seu quadro de saúde estava bastante complicado.

Em um dado momento, a paciente veio a falecer. Era feriado na cidade e muitos enfermeiros pediram folga, reduzindo drasticamente a quantidade de profissionais no hospital. O médico plantonista, alguns enfermeiros e auxiliares faziam o plantão.

Houve muita correria para salvar a paciente, mas não tiveram sorte.

O médico plantonista, depois de avaliar que paciente estava morta, chamou Zeca para ajudar a empurrar a maca, mas não lhe falou que era defunto. Zeca passou à frente, conduzindo a maca e se dirigia a um dos quartos para acamar a paciente. Então o médico gritou com ele que era para seguir para o necrotério, porque havia morrido.

Quando o médico disse para Zeca seguir para o necrotério, havia uma rampa que dava acesso diretamente ao trajeto do necrotério.

Zeca arregalou os olhos, soltou a maca, pôs as mãos na cabeça, saiu correndo e gritando de medo. Quando olhou para trás, viu que a maca estava sem alguém para conduzir e como era um pequena rampa, a maca com a defunta ganhava velocidade e dava ligeira impressão que estava perseguindo Zeca.

Zeca corria, gritava e olhava para trás e falava que a defunta estava vingando dele. Neste momento, Zeca tropeçou e caiu, fazendo com que a maca e a defunta caíssem em cima dele. Seu espanto foi tanto, que dali mesmo Zeca desmaiou e acordou na cama do hospital. Quando alguém perguntava pela defunta, Zeca jurava que nunca mais contaria uma mentira.

JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO
Enviado por JOSÉ CARLOS DE BOM SUCESSO em 20/06/2015
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