A parteira
A parteira
Jovelina caminhava no escuro. Há alguns minutos ela deixara a casa de Lourdes. Horas difíceis que antecederam o nascimento do pequeno João. Eles deram sorte, pensava. Quase o menino morrera tamanha dificuldade tinha sido para ele chegar ao mundo. Enquanto andava, Jovelina pensava que já estava em tempo de deixar o ofício, não enxergava como antes, e sentia-se cansada. Sem contar, que nos dias de hoje, muitas mulheres tinham poucos filhos.
De repente, um vulto atravessou seu caminho e jogou-se em cima da velha parteira. Ela gritou desesperada. O vulto parecia um animal feroz, mas era mesmo um bicho homem, muito escuro como a noite. Atacava-a, batendo-lhe com força, jogando-a ao chão e tentando destroncar seu maxilar.
A parteira conseguiu tirar da bolsa a velha tesoura, e começou a defender-se como pode. A tesoura silenciosamente fez seu trabalho em poucos segundos. A velha parteira seguiu seu caminho. Trouxera ao mundo tantas e vidas e tinha sempre suas mães sujas de sangue com a glória da vitória em trazer os pequeninos ao mundo.
Alguns dias se passaram o corpo do animal foi achado. O povoado respirava aliviado. Enfim, o maluco que atacava as pobres jovens e senhoras fora eliminado. Ao ser identificado encontraram velha medalha de uma santa que ele devia carregar a muito tempo. Nos braços de sua mãezinha o pequenino João também trazia ao pescoço medalha semelhante, presente dado pela parteira. Jovelina guardava seu segredo no mais profundo de seu ser. Não poderia jamais dividir com ninguém o que se passava em seu íntimo. Soube depois que o animal que cruzou o seu caminho era o filho da Vicentina e do finado Augusto, um dos primeiros meninos que ela ajudou a chegar ao mundo.