Gelatina Colorida
Essa parte da minha infância é bem gostosa quando me lembro dos quitutes deliciosos da minha mãe. Ela tinha um certo jeito meloso e amoroso para preparar doces caseiros. Dentre eles eu posso citar sem errar a famosa gelatina de quadradinhos coloridos.
Lembro que ela cortava as gelatinas depois de endurecidas em pequenos quadradinhos. E as cores vibravam e brilhavam perante a minha gula de menina e os meus olhos que refletiam através daquelas cores em que se viam as pupilas dilatadas como num espelho.
E com os meus dedinhos, eu ia tocando em cada pedacinho tremulante e saboroso. E em cada tapa da minha mãe na minha mão, eu ia escondendo alguns gominhos de felicidade dentro do bolso. E lá ia eu lambendo as cores daquele arco-íris. E sem me dar conta, muitas das vezes com a quentura do meu próprio corpo, a gelatina se derretia na tristeza de algum adeus escorrido e misturado melando todo o meu corpo.
E vinha a bronca da minha mãe: - Eu que veja a senhorita mexer nessa minha iguaria. Já disse que é para o lanche de amanhã. - E eu lá queria saber de lanches posteriores? Bem, na montagem do prato fundo, ela incrementava com chantili e creme de leite - outra tortura para me fazer pecar indecentemente. E Iá ia eu de mansinho pé ante pé degustar de madrugada aquele paraíso de misturas. Enfiava com gosto naquele doce fofo e colorido o meu dedo intrometido e trazia uma boa quantidade até a língua saboreando desmilinguida...
Ao amanhecer a desordem era total no tocante a teimosia e a gula - pecados a serem punidos por ela. - Você está de castigo até segunda ordem. Nada de doces e nada de confeitos. Mas toda mãe tem um jeito terno de entoar castigos exemplares como exemplo de sua rígida educação gastronômica.
Deixava à vista outros potes cobertos com tampas hermeticamente vedadas que, para mim, ladra nata de felicidades docinhas, ia furando com a ponta das agulhinhas de costura até surgir o caldinho grosso e bem gostoso que eu degustava a rodo e sem decoro.
De quem era a culpa?