POR UM SACO DE BISCOITOS

Hora do almoço, largo da Carioca, centro do Rio de Janeiro. Um vendedor de biscoitos, daqueles amanteigados e embalados em saquinhos e contidos em várias caixas de papelão, encostado no selim de seu triciclo carregado e cercado de fregueses.

Chega-se um comprador, também um senhor e depois de pagar o preço de um real por um dos sacos:

- Pô! Não leva a mal não, mas um real por oito biscoitos que juntos não pesam nem cem gramas!! Eu compro duzentos gramas, dezoito biscoitos e pago isso numa loja lá perto de casa.

Responde o vendedor em tom revoltado:

- Qual é? Que conversa é essa? Duvido. Tá querendo dizer o que? Trabalho com biscoito há mais de dez anos e isso que você está falando não existe. Tá querendo dizer que estou roubando?

- Roubando propriamente, não, mas não deixa de ser um abuso – replica o outro em voz alta( isso depois de já haver pago)- Pensa que todo mundo é otário? Um homem de nossa idade e de cabeça branca devia ter vergonha.

- Olha aqui, seu fudido que reclama por um real, tá querendo me desmoralizar na frente dos outros, fique sabendo que ainda sou macho o bastante para quebrar teus cornos. - responde o vendedor.

O comprador atira o saco sobre o triciclo, cheio de caixas com diversos sacos, mas o volume quica e cai ao chão, os fregueses se afastam:

- Não vou levar essa merda , não. Devolve meu real e quero ver você fazer o que diz, cai dentro velho babaca.

O Vendedor parte para cima dele é atingido com um direto no rosto e desaba sobre o triciclo, levanta-se meio tonto, mete a mão sob uma das caixas, puxa uma arma, atira duas vezes no inimigo, erra o alvo, acerta uma senhora que vinha falando ao celular e um palhaço, artista de rua que ganhava sua vida tentando divertir os passantes.

O vendedor larga a arma sai correndo, enquanto o comprador também foge em direção oposta.

Saldo da tragédia, depois da correria:

O corpo de uma senhora ensanguentado jaz ao chão, também de um palhaço com os olhos arregalados perdidos no infinito e um pivete saindo, calmamente carregando o celular da senhora falecida comendo os biscoitos do saco que havia sido atirado pelo comprador e com a arma escondida na cintura, enquanto outros aproveitam para saquear o triciclo. Tudo isso em um tempo inimaginavelmente breve.

Rio de Janeiro, maio/2015.

Jogon Santos
Enviado por Jogon Santos em 13/05/2015
Reeditado em 22/01/2016
Código do texto: T5240469
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