O pai...
Carpinteiro ou marceneiro
_Eu sou o melhor carpina da região... falava meu pai e eu pequena não entendia muito bem aquela palavra que perecia só existir na linguagem dele. Ele ela carpinteiro. Ele fazia lindas cadeiras de madeira artesanalmente, fazia móveis pequenos, bonitos e práticos, fazia cabos de espingardas em jacarandá como ninguém, fazia telhados incríveis de madeira! E na sua humildade (ele era analfabeto só sabia assinar o nome que havia aprendido no MOBRAL) quando se referia aos profissionais de sua área falava “nós artistas”... O que me intrigava ainda mais, como assim artistas? Artistas pra mim eram os galãs de cinema e televisão que eu tanto admirava.
Meu pai construía casas, fazia telhados, fazia móveis de madeira e eu cresci vendo as obras que ele fazia. E quando falo obras penso em obra de arte de tão perfeitas, quando eu passava na rua tinha o maior orgulho de apontar e falar foi meu pai quem fez.
Nunca estudou era engenheiro por osmose, pois sabia como levantar um prédio desde a furação até a entrega. Era chamado de mestre (mestre de obras sim), mas nos meus ouvidos mestre soava como professor, aquele que sabe, aquele que ensina, aquele que compartilha conhecimento e aprende com o outro. E ele analfabeto, contudo mestre, que ironia, trabalhava de sol a sol, tinha a pele bronzeada demais com o tempo a pele foi encolhendo, ainda mais bronzeada, com as marcas impressas pelo tempo.
Um dia voltando do colégio com as amigas olhei meu pai em cima de um telhado lindo todo de telhas vermelhas, era quase hora do almoço, sol a pino e ele suava, já não era tão novo, e naquele momento desejei ter dinheiro para dar uma vida melhor para ele.
Ele precisava trabalhar. Teve 17 filhos, mas só 13 vingaram. Ele sempre nos falava: vou trabalhar para pagar seus estudos e dar o que comer á todos vocês, pois o saber é a maior herança que poderei lhes deixar.
E verdadeiramente deixou-nos a melhor herança, a capacidade de amarmos as pessoas sem preconceito, de respeitarmos o espaço do outro, de caminhar de cabeça erguida ainda que o mundo queira nos ver de cabeça baixa... Sábio pai.
Meu pai foi um carpinteiro franzino na aparência e incomensurável no caráter...