TEATRO AMADOR

Quando era adolescente participei de um grupo de teatro, fiz umas pontas, mas era mesmo o "ponto".

Ponto, para quem não se lembra era o sujeito que ficava sentado sob o palco, atrás de um alçapão e servia para acompanhar o texto e "soprar" as "falas" esquecidas e gesticular para algumas orientações.

Nessa qualidade ouvi muitas histórias.

O caso da cena em que o amante, após receber uma carta da amada, a queima no palco (a carta, não a amada!); para logo em seguida, o marido vilão entrar e exclamar: "Oh! Que cheiro de papel queimado!". - Suspense - tcham, tcham... E a história prosseguia.

O problema foi que o amante esquece fósforo e isqueiro ao entrar em cena e, sem saber o que fazer, improvisa, "rasgando" a carta e jogando-a no lixo.

Em seguida o vilão entra em cena e, espantado por não ter sido seguido o roteiro e nem haver fumaça, improvisa dizendo:

"Oh! Que cheiro de papel rasgado!".

Sim, minha senhora.

Naquele tempo usava-se muito o "Oh!".

Outra cena é uma em que a mocinha pedida em noivado pelo galã, que de joelhos lhe coloca um anel de brilhante no dedo, logo em seguida encontra-se com as amigas.

A "atriz" quer que as amigas vejam o anel, para despertar inveja.

Então faz diversas "brincadeiras", ("chistes", como se dizia então...), para chamar a atenção para a joia.

O problema é que a atriz encarregada de "descobrir" o anel no dedo da outra deixou passar o "tempo" da cena e a coisa emburricou.

O "ponto", metido naquele buraco, gesticula desesperado.

E a noiva atriz, com intenção de consertar, sai-se com essa:

"Meu Deus, que calor! Acho que vou tirar o anel!"

Certa vez, acompanhei uma esquete, em que o ator, um respeitável senhor, entra no saguão de um hotel.

(Hoje este "respeitável ator" é advogado em Londrina; o que decorre da profissão é que não era tão respeitável assim...).

Ele começaria a interrogar o empregado do hotel sobre sua filha, fugitiva do lar, que ali está hospedada com falso nome.

O empregado, sabedor das "tramóias" da mocinha, tenta protege-la, mentindo às perguntas que lhe são feitas.

Nessa cena, o empregado deveria estar com uma vassoura na mão, varrendo o chão; o "pai", ao descobrir pelas perguntas que o empregado está a acoberta-la manifesta sua fúria e o "empurra".

Em contrapartida este coloca o "pai" para fora do hotel com algumas leves "vassouradas".

Pois bem!

Pelo menos era desse modo o roteiro que eu tinha na mão, metido ali no cenário como "ponto".

Ocorreu que esqueceram da "vassoura" e, improvisando, o empregado do hotel "fingiu" ficar por ali sem fazer nada.

O ator que fazia o papel de pai furioso, irritado com o esquecimento resolve, ele também, improvisar.

Ao invés de "empurrar levemente", ele "esbofeteia".

Colocou tanta realismo no ato que o tapa na cara fez "pleft", e foi ouvido até fora do teatro pelo pipoqueiro de plantão.

O rosto do ator "empregado de hotel" ficou vermelho como tomate maduro.

E, ao invés de "vassourar" o ator "pai" para fora do seu hotel, mete-lhe um, dois, três, quatro e cinco, e por ai vão mais, chutes na bunda.

E atrás das cortinas continuaram a briga.

Para o deleite da platéia.

Sajob - março/2015

Obrigado pela leitura.