CRIME AMBIENTAL

Sexta feira à tarde, meu chefe se aproxima e dispara:

- Segunda, traga uma marmita que vamos trabalhar na zona rural!

- Sim senhor!

Domingo à noite, com uma ressaca de um porre que começou na sexta feira, fui preparar o rango, arroz, feijão e mandioquinha cozida. Como não tinha carne no congelador, fui ate o bar da esquina ver o que conseguia.

- E ai Zé? Preciso de uma mistura pra por na matula, cê tem alguma carne, lingüiça, ovo ou algum outro troço pra quebrar o arroissss?

- Ih! Tem nada, comeram tudo durante o jogo, de uma olhada no freezer ai atrás, vê se você acha alguma coisa.

- Oh Zé! O que é este tal de steak de frango? Cheio de lua, sol, cachorro, gato, palhaços...

- É um file de frango empanado para crianças, só tem ele?

- Só! Vai este troço mesmo; é só fritar?

- Sei lá, deve ter instrução atrás.

- Ok! Marca ai preu. Boa noite.

- Boa noite! Amanhã me conta como que é este troço.

- Ta bom!

Cheguei em casa, fritei como mandava a receita, montei minha marmita como sempre, um monte de pimenta bode por baixo, o feijão por cima delas, completando com arroz e por cima, a mandioquinha em uma metade e o steak na outra. Tampei a bicha, coloquei na geladeira e fui dormir.

Levantei cedo, preparei na hora uma saladela de tomate e cebola, coloquei por cima de tudo e fui pro mato.

Meio dia e um bocadinho, paramos a beira de um rio muito bonito, embaixo de uma figueira enorme, me lavei no rio e sentei em uma das raízes da arvore com minha matula, como sempre fui o ultimo.

Todos já tinham comentado o barranco (o que vai sobrar na marmita) do outro e estavam comendo quando abri minha marmita.

- Nossa senhora da boca aberta! Você trouxe merda pra comer?

- Saia daqui com esta lavagem, meu!

- Porra meu lixo é mais cheiroso que tua comida!

- Vou levar este troço para dar pra minha sogra!

- Ih! Agora dancei! O que vou comer?

- Taca esta porcaria fora que cada um vai te dar um pouco do barranco.

- Vou dar nada não! Isto é meio de vida, faz esta gororoba e ganha barranco de todo mundo?

- Também não vou dar não! Ele não cozinha bem? Não ganhou concurso na frança?

- Quem não der, vai fazer dupla com ele e comendo este azedume, imaginem os tiros...

- No rio não! Seu animal! Quer matar todos os peixes? Quer fazer uma catástrofe ambiental? Faça um buraco e enterre este defunto, mas fure muito.

Fui buscar um enxadão e enquanto furava a vala, uma galinha pegou um steak e saiu correndo para o mato.

- Viram? A galinha pegou um steak!

Falei achando que tinha me redimido, que nem tudo estava perdido.

- Claro que ela pegou! Este bicho come filhote de cobra, escorpiões, formigas, merda e tudo mais, mas será que vai gostar?

De repente, a galinha sai do mato meio troncha, andando em zig-zag.

- Acho que ela esta procurando mais...

Nem acabei a frase e a coitadinha caiu se estrebuchando toda, morreu. Todos ficaram consternados e eu achei que se preocupavam comigo, com minha saúde e que me dariam a melhor parte de seus barrancos, por quase ter me assassinado e acabado com a fauna quando escuto:

- E este viado ainda queria jogar esta bomba no rio, vai cozinhar mal assim na França e nos quintos dos infernos, nem galinha come.