O BÊ-A-BÁ

Quando ainda menino, mesmo sem muita cultura, pois não dispunha de condições e tempo para tanto, possuindo apenas e tão somente o 3.◦ ano primário, o meu pai, que sempre tinha conosco outros meninos da região, me pedira para de alguma forma ensinar aos mesmos as primeiras letras de forma que eles, os agregados, que não estudavam em colégio algum, pudessem também compreender através da leitura. Pois bem. Tentei de todas as formas ensinarem-lhes um pouco e chegamos até a soletração de sílabas objetivando formar palavras e com esta atitude estaria fazendo o bem aqueles. Depois de ensinar-lhes as letras, os números, comecei a ensinar-lhes a ajuntar as palavras para um aprendizado melhor. Com o Gervásio o aprendizado me deixou assustado. Ainda não tinha conseguido, por falta de atenção e até mesmo por desinteresse ou sei lá o que, tinha como dizíamos à época, a cabeça dura.

– Então Gervásio, vamos soletrar para formar as palavras? Com o que concordou!

- Repita comigo: B+O faz o que? De pronto o Gervásio respondeu: “BÓ”, continuando: N+E faz o que? Mais uma vez acertou o meu aluno: faz “NE”, está indo bem. E Agora: C+A faz o que? Na ponta da língua: faz “CA”. Ufa! Então Gervásio o que formou as sílabas BO+NE+CA? Sem pensar respondeu: MANDIOCA!

Neste momento para mim foi uma decepção. Tentei ensinar o que havia de melhor e não consegui passar o que pretendia. Para mim, que não tinha o dom mágico e divino de ensinar já seria o fim. Mesmo assim, ainda continuei ensinando um pouco ao Gervásio por insistência do meu pai.

Agora poderão questionar: qual o grau de cultura do seu pai? A resposta seria a seguinte: meu pai nunca freqüentou uma escola, nunca leu um livro, nunca escreveu uma carta e sequer leu um alfabeto ou coisa parecida. Foi instintivo mesmo. Ele sabia que eu não era bobo e queria passar um pouco do meu parco conhecimento aos que conosco viviam.

Mais adiante, numa outra experiência, tinha o Julho, Julho mesmo! Existem os Júlios e os Julhos, por incrível e estranho que pareçam, mas há grafias diferentes embora a fonética seja muito parecida. Então vamos ao que interessa. Lá pelas tantas, ensinando o Julho a soletrar o nome dele, depois de decompormos o nome em sílabas, JU+LHO, assim: J+U faz “JU” e L+H+O faz “LHO”, Ele continuo J+U = JU; L+H+O= LHO que quer dizer JULHOGOLHO! Seria o fim da picada. Não parou por ai. O seu apelido daí em diante passou a ser JULHOGOLHÓ.