A DIVERSIDADE DO NOSSO QUINTAL.

Minha neta acordou, ainda um tanto sonâmbula, e dirigiu-se à área gourmet onde lhe deu vontade de fazer um lanche noturno. Lá chegando, deparou-se com um calango solitário, mais ou menos no mesmo estado em que ela se encontrava: sonâmbulo e com uma certa fome, no banco ao seu lado. O calango, externando sua extrema solidão, sem nenhuma parceira, sem ninguém para se comunicar, sem nenhuma mosca para atacar – já que elas não fazem revoadas a noite – parecia estar mesmo querendo uma companhia.

Minha neta, a Larissa, de 14 anos, como querendo também se comunicar, tentou um diálogo com o solitário calango. Ela falava se dirigindo ao animal solitário, que às vezes gesticulava balançando a cabeça no sentido, de baixo para cima e vice-versa, como se concordando com o que ela dizia e às vezes, balançava a cabeça para os lados, como se não concordando.

O Monólogo humano e as respostas inesperadas do Calango, duraram menos de 3 minutos, até que, como num sobressalto, o calango desapareceu restabelecendo a solidão da minha neta.

Logo pela manhã ela me contou a história que resolvi relatar agora.

E não foi só. Quando ela me contava a história, surgiu na parede ao lado um outro, ou sei lá, quem sabe, o mesmo calango, para confirmar a história. Só que desta vez, durante o dia, ele se mostrava muito mais esperto e não nos deixou aproximar. Era tão somente uma confirmação da história dela ou, quem sabe, um outro calango que não sabia se comunicar tão bem quanto o calango da noite passada.

Quando ela me contava a história, logo pela manhãzinha, víamos muitos pássaros ao redor da casa, anunciando um dia lindo de sol e muita diversão.

Apenas para atraí-los, sempre que posso e tenho a oportunidade, compro ração de qualidade ofertando-lhes, cujo cardápio vai de canjiquinha – aceita por quase todos – e um pouco de alpiste ou painço para os mais exigentes. E olha que todos consomem tal iguaria.

Observo que, dentre os animais que comem das iguarias por mim ofertadas, pousa uma rolinha esbranquiçada – muito brava – que espanta os demais pássaros quando ela está a se fartar. As outras rolinhas, não muito amigáveis, também, ao comer, elevam uma das asas e rodopiam sobre o comedouro, dando a sensação de que se trata de um grande pássaro, e, consequentemente impõe respeito no comedouro. Ela, no seu rodopio, afasta os demais pássaros e, com tal atitude consome mais que os outros.

À tardinha, quando já estão buscando seus ninhos ou seus poleiros favoritos, todos os pássaros em revoada, passam por sobre nosso quintal. Vemos pombas amargosas, que uns a chamam de pombas do mato, silvestre ou tropical que, muito ariscas, pousam nas palhas de coqueiro ou no pé de fruta-pão do vizinho ao lado.

Os canários da terra, que são a maioria dos que nos visitam, com seus belos cantos e plumagem exuberante – amarelo ouro em destaque – são um espetáculo à parte. Entretanto, de vez em quando, posso dizer, em dias alternados, comparecem sabiás do mato, sanhaços, maria-preta e os belos cardeais, cujo nome na cidade é galinho da serra, e até os exóticos “sofrês”, enfim, até uma Aracuã esteve nos visitando. Não temos visto os nossos parentes, os “MELROS”, já que também sou MERLO.

Outros vizinhos que vem pela manhã e pela tarde, são os saguis. Há uma família de sete membros, que andam em bandos, que nos procuram para comer as deliciosas bananas. Quando não as servimos espontaneamente, eles, com suas sagacidades, adentram o nosso ambiente, estrategicamente se postando em nosso telhado, um em cada canto, de forma a nos envolver em sua graça e macaquice, enquanto algum do banco subtrai as bananas de forma sorrateira.

É maravilhoso observar os pássaros e os demais animais silvestres. Eles nos dão, cotidianamente, grande lição de organização, de facilidade de comunicação e de família. Algum membro avista a comida, sobrevoa a área e traz, em questão de segundos, todo o resto da família.

Quando não estou presente, deixo algum dinheiro com o caseiro, meu amigo Valmir, que se coloca como nosso parente, para adquirir canjiquinha e bananas para alimentar os pássaros itinerantes. Eles, os pássaros, tem uma missão muito importante em nossas vidas. Eles cantam e encantam, transformando seus piados em verdadeiras canções para nossos ouvidos.

Os pássaros, que no passado eram nossas caças, que arrancavam nossos grãos do chão – recém plantados, que comiam nossos milhos, destruindo toda a plantação – pois periquitos e papagaios eram especialistas em descascar espigas, hoje são uma atração à parte. Hoje, que já não temos plantações, aproveitamos para curtir a natureza.

Agradecemos a Deus por nos permitir acompanhar a evolução e ter uma vida longa para – em cada uma das fases – aproveitar o momento e viver. Um dia eu era caçador, hoje sou caça!