ESCOLA DE SAMBA “UNIDOS POR ACASO”.
Estava tudo pronto para o desfile da escola de samba Unidos por Acaso.
O povo na rua esperava atento, pois era uma escola de samba tradicional e muita propaganda havia sido feita para movimentar a economia da cidade nos dias de carnaval, pois o comércio estava vivendo uma pequena recessão econômica e o Sr. Prefeito fez esta estratégia para tentar salvar um pouco sua cidade política.
“Mercedinha”, apelido do compositor do samba com o lema de contar uma história de uma alma perdida, que vagava na cidade há alguns anos, mas não era motivo de pânico, mas de um amor sofrido por uma dançarina de bordel, que fora assassinada por um de seus amantes por causa de ciúmes, ou seja, foi um crime passional. Seu nome era Marcelina.
Na letra do samba, tinha um verso de que dizia:
- “ Sou de um passado remoto,
Não vejo a luz, pois morri de moto,
Dançando para homens e rapazes
Brigando e fazendo as pazes
A Unidos também é minha...”
Outros mais versos eram cantados, a letra do samba enredo é muito bonita e o puxador, com muita experiência, cantava fazendo mais emoção do samba.
Era noite calma, mas na região sudeste da cidade, alguns clarões e trovões anunciavam uma tempestade, mas para os foliões, para os admiradores carnavalescos, aquela tempestade não era motivo de escândalos, mas um presente de Deus para o ânimo do carnaval.
No palanque estavam presentes o prefeito e seus convidados. A velha guarda do samba da cidade estava também no palanque. Muita música, muito axé, música eletrônica, bandinha de música tocando as velhas e inesquecíveis marchinhas carnavalescas. Assim, a cidade estava repleta de pessoas, com máquinas fotográficas, celulares e até foto de graça você recebia.
Lembro, que entre as autoridades, haviam um senador e um deputado, todos amigos e majoritários da região.
Muita festa, muitos fogos, muita bebida e pessoas aguardando o desfile da escola.
A escola estava com mais ou menos mil pessoas, que desfilariam representando os arranjos do carnavalesco Jan, ilustre músico, poeta, sambista, compositor e uma autoridade cultural do município.
Chegou a hora. O locutor, chamado José Maria, dizia, com sua voz forte e bonita:
- “Agora, uma salva de palmas, pois está entrando na avenida a melhor escola, a escola de samba de nossos filhos, a escola de samba de nossos sonhos, a escola de samba Unidos por Acaso, trazendo o samba enredo “Magnólia” de autoria do compositor e puxador Mercedinha, um a salva de palmas, nossos aplausos...”
Fogos de artifício foram detonados, palmas, gritos, sons e tudo de direito, aplaudiam o desfile da escola de samba.
Todos caíram no folia.
Baianas dançando, porta bandeira, carros alegóricos, enfim, todos os componentes da escola estavam desfilando e uma beleza tão luxuosa, que dava vontade de sambar também.
Os aplausos eram fortes, muitos gritavam que era a melhor coisa que o prefeito tinha feito em seu mandato, gritos, aplausos, tudo isso criava a emoção e a felicidade do carnavalesco. Dava para ver suas lágrimas saindo dos olhos de tanta emoção.
O desfile prosseguia calmamente.
Uma pequena garoa começava a cair, mas não era motivo de pânico.
Enquanto a escola seguia o desfile, foram impressas várias cópias do samba enredo e as pessoas iam cantando juntamente com o puxador.
Em um dado momento, maior surpresa quando apareceu um carro alegórico e neste carro o retrato e um figurante vestido e dançando como se fosse a Sra. Marcelina.
Neste momento, o público espantou, porque as luzes da cidade apagaram e um enorme clarão pairou sobre o carro onde Marcelina estava passando, dando a impressão que algo sobrenatural estava acontecendo.
Ouviram um grito e Juca, um homem benzedor, místico e feiticeiro e mais outras coisas, dizendo que a maldição estava cumprindo e Marcelina saíra do fundo dos infernos, cheia de luz e clarão para vingar sua morte, em toda a cidade.
Não deu outra, foi aquele tumulto todo, pessoas correndo, crianças gritando, relâmpago para todos os lados, trovões, ventos, chuva forte e vento arrancando barracas, cartazes, caixas de sons, um verdadeiro tumulto.
Quando tudo isso passou, havia uma faixa, ou melhor, um cartaz no carro alegórico da suposta personagem Marcelina, que estava escrito:
“- Retornarei nas luzes dos relâmpagos, aos sons dos trovões, para vingar meu amor”.