A CULTURA DOS TRÊS ELEMENTOS.
A CULTURA DOS TRÊS ELEMENTOS.
Eita, Nordeste bom da gota! Num lugar de gente sofrida e calejada, onde as culturas da subsistência não tangem a fome nos tempos de seca, o homem dessa terra rica, aguarda ansioso pela chuva, que fará brotar do seu bem mais precioso o tão esperado pão de cada dia.
Não sei se por obra do “divino”, ou por pura raça. O cabra Nordestino tem no leito de sua família, uma riqueza imprescindível para sua sobrevivência: Seus filhos. Quanto maior o número de rebentos, mais mão de obra qualificada terá para cultivar sua terra. Em uma ocasião, visitando um sítio de um parente no brejo paraibano, encontramos com Joaquim. Joaquim, caseiro do sítio, cultivava a terra de ½: O que fosse produzido, metade era dele e a outra metade do dono. Sujeito forte e corado pelo sol escaldante do lugar, falava com entusiasmo da chuva que esperava chagar. Entre uma prosa e outra, uma benfeitoria planejava para otimizar as águas, e melhorar a barra: “Vou fazer uma cisterna com vinte mil litros d’água, aproveitando aquele lajedo; Arrumar a porteira pro gado não escapar; consertar o telhado do quartinho das ferramentas e finalmente trocar o pote de água que está remendado com cimento”. Afinal, o tal pote que gelava a água da chuva, já estava sem uso há algum tempo, pois, era obrigado a comprar garrafões de água mineral: Uma fortuna.
Joaquim, a cada tarefa que listava para executar, recrutava para o trabalho dois ou três filhos da sua prole de dez. Se orgulhava em dizer a todo o momento às pessoas que acabara de conhecer, a seguinte frase: “Eu tenho dez filhos”, só que numa linguagem bem característica que soava mais ou menos assim: “Tem déi fí déi fí, déi fí, déi fí”, repetia bem ligeiro. Isso logo virou uma “risadágem”, e também uma modinha de cantoria: “Eu confí em Joaquim / em Joaquim eu confí / só porque Joaquim / tem déi fí / déi fí / déi fí.
Porém, o guerreiro de pés no chão, não se encabulava quando o assunto era Forró. Tinha junto com as ferramentas, três elementos que destoavam dos demais: Uma sanfona, um triângulo e uma zabumba. Joaquim gritou por Jackson e Dominguinhos: filhos de nº 6 e 7 que foram batizados com estes nomes em homenagem aos forrozeiros, e disse: “Ô minino, pega aí a alegria de pobre, (tratamento dispensado aos instrumentos) pra gente animar o ambiente”. O trio não sabia ler ou escrever, mas tinham mais astúcia que muitos doutores por aí. Tomaram posse da alegria, e começaram um remelexo com uma música que me arrepio até hoje quando escuto o refrão: Enquanto a chuva não vem / se vive do nada que tem / olhando pró céu e pró chão. Ficamos emocionados e alegres ao ver aquela família de tão poucos recursos, demonstrar uma alegria de vida daquele calibre. Passamos umas duas horas improvisando cantorias, e toda tristeza que tínhamos de ver aquela terra seca, empoeirando a quartinha, fora completamente superada por aquelas melodias.
Estes elementos tão característicos de nossa cultura se confundem com as próprias ferramentas do cultivo da terra, aliviando a espera daquele cheirinho de terra molhada, que nós trará tanto a fartura do alimento, quanto a alegria de uma história vivida através da música feita por TRIÂNGULO, SANFONA E ZABUMBA.
Maerson Meira. 13/02/2015