O ninho

Perto da minha casa tem uma sibipiruna palco de muito encanto: Um beija-flor faz seu lanche pegando mosquitinhos no ar, rolinhas ariscas namoricam nos galhos mais altos, bem-te-vis vigilantes observam ao redor, pardaizinhos assanhados fazem muito barulho e brincam de lutinhas como se fossem meninos. E sempre há nela um ninho de verdadeira; ave de asas enormes com penas arrumadinhas que dão a aparência de pelo. Mas uma vez nasceu, ali, um filhote diferente com asas curtinhas, poucas penas muito arrepiadas e era cotó.

Passado o tempo adequado a mamãe verdadeira o empurrou para fora do ninho:_ Uai meu filho, tem que voar!

Mas ele aconchegou-se de novo sob o corpo dela. A mãe enérgica levantou-se com as penas do pescoço fortemente arrepiadas, pegou-o primeiro pelas penugens do pescocinho e depois pelo bico, elevou-o várias vezes do galho forçando-o a bater asas. Assustado ele escondeu novamente sob as penas dela.

Passados uns dois dias o arrepiadinho manifestou-se: _ Ô mãe faz aquele trem de novo!

Ela ficou quieta.

_ Hem mãe faz!

E para convencê-la beliscava-lhe o pescoço e tentava alcançar o seu bico. A mãezinha cansada de levantar aquele filhote já pesadão, deitada mesmo fazia o que ele pedia, mas sem grande efeito.

De tarde armava uma grande chuva, fiquei surpresa ao descobrir o ninho vazio e o arrepiadinho amedrontado, no chão, junto ao muro. Nada entendia de passarinhos, deixei que a natureza seguisse seu curso e não sei o que aconteceu à noite, mas ele amanheceu num galho próximo ao ninho. Chegou, então, outro da mesma espécie, provavelmente da mesma idade e pousou a seu lado: _ Tem que voar, cara!

E tentava levantá-lo pelas penas do pescoço e pelo bico. Ficou por ali um tempinho e foi-se.

No dia seguinte, não sei se o mesmo do dia anterior ou outro da mesma idade que pousou num galho de frente, a uns vinte centímetros: _ Faça o que eu faço que dá certo!

Batia suas grandes asas e o arrepiado imitava com seus toquinhos.

Que trenzinho mais lindo era aquilo! Mas eu precisava alçar os próprios voos entre canetas e panelas...

Na manhã seguinte procurei notícias, mas não havia passarinho na árvore nem no chão. Gente, o arrepiadinho voou!

Yura Acy
Enviado por Yura Acy em 10/02/2015
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