A VIAGEM DO JECA À CAPITAL
Jeca é um matuto bem interiorano, que sempre resistiu à ideia de conhecer a capital. Mas dessa vez não teve jeito, pois estava com alguns problemas de saúde e só a capital dispunha dos equipamentos necessários aos exames.
Após ter sido convencido por sua esposa, a Toinha e por seu compadre Nonô, a se submeter aos exames, pediu à esposa para preparar as malas, pegou o único ônibus do lugarejo onde vive até a cidade mais próxima, de onde sairia o ônibus com destino à capital.
Chegando à bilheteria, foi informado que o último ônibus com destino à capital sairia às 23h59 minutos. Intrigado, perguntou ao atendente: ___Uai moçu, pro modiquê esse ônibu não ruma prá capitar logo meia-noite? Ocês da cidade grande tem mania di fazê questã di um minutim! Aí tomem já é dimais. Intão iscrevi logu uma passagi pra mim! Mas óia, tem qui sê na jinela e garradim na privada! Pra modi eu pudê apreciá a paisage e tomem, casu eu ficá injuadu eu corrê prá privada.
Precavido que é, não ousou arredar pé da rodoviária. Não admitia de forma alguma perder o horário de saída do luxuoso ônibus, equipado com sistema de ar-condicionado.
Quando o ônibus estacionou no local do embarque o Jeca já estava aflito, ansioso para tomar assento em seu lugar. Antes que algum espertinho o fizesse.
Após entregar a passagem ao motorista e identificar-se, disse: ___ Ói seu chofé essas mala aqui vão garradinha neu, promode ninguém querê mi robá.
Adentrou e, depois de muito conferir, ajeitou-se em sua poltrona.
Toda aquela ansiosidade e tumulto, fez com que o Jeca sentisse muito calor e ele logo quis abrir a janela.
Puxa daqui, força dali e nada.
Ô seu moçu, essi ônibu é novim em foia, mas já tá com a jinela istragada.
O auxiliar veio em seu socorro e lhe explicou que a janela não abre mesmo, pois o ônibus é equipado com ar-condicionado.
___Ah bom!
Deu 23h59min e o ônibus não saiu. Então Jeca falou para o motorista: ___taveno ô seu chofé, num diantô nada esse tar de vintitresecinquentaenove, já é meianoitidois e agora que ocê vai saí.
Antes de chegar ao destino o ônibus fez duas paradas e, embora não tivesse pregado os olhos, o Jeca não desceu sequer para esticar as canelas.
Finalmente a placa de boas-vindas, indicando a chegada ao destino. Mas, mesmo passada meia hora, o ônibus não chegara à rodoviária. Então o Jeca gritou: ___ Ô seu chofé, prá onde quiocê tá levanu nóis? Ôcê drumiu e num viu qui tinha chegadu?
O motorista respondeu: ___ a previsão de chagada na rodoviária é daqui a dez minutos.
___ Uquê? Nossinhora! O sinhô devi é di tá pirdidu, pruquê qui o sinhô num para prá priguntá arguém?
Enfim o ônibus chega à rodoviária, no horário previsto.
Jeca desce e se espanta com tanta gente apressada, indo para um lado e para outro.
Logo passa por ele uma moça falando ao celular com sua mãe, usando o fone de ouvido.
Jeca achou curioso aquilo e foi seguindo a moça, ouvindo, curioso, a conversa dela com a mãe.
A moça ia de um lado para outo e ninguém parecia se importar com ela.
Jeca não se aguentou e falou para si mesmo, em voz alta: ___bem qui Toinha e o cumpadi Nonô falô prá tomá cuidadu com u povu da capitá, que ês é tudu biruta! Uma moça tão formosa andanu dum ladu pruotro falanu sozinha, comu si tivesse falanu com a coitada da mãe dela. Vai vê que ela ficô biruta dispois qui a mãe dela bateu as bota. Aí, agora ela só fica falanu com a mãe dela, pensanu que ela ainda tá viva!