Um Final De Semana Marravilhoso!

Mais um final de semana com cara de paisagem. E tudo fixo e parado. Parecendo uma miragem do inferno! Nada para se fazer, que tédio, nada de poesia a irromper, que remédio? Taí, vou chamar aquela doida da Bia.

- Bia, oi miga, tudio bem? - Telefonei.

- "Morolésse" - Responde Bia desmotivada. (era tudo o que eu queria)

- Vamos dar um rolezinho nesse finzinho de semana? Diz que sim, vai.

- Mas pra onde? (quando a pessoa é mais desanimada do que eu, a coisa complica)

- Ué... por aí. Vamos apenas sair e depois a gente decide o que fazer, ok?

- Tá... vou tomar banho e já me arrumo.

Bia é uma amiga antiga, mas não somos mais 'aquelas'. Já estamos na faixa dos 'enta', com os filhos crescidos e namorando, cada qual seguindo o seu caminho. E a gente vai ficando desbotada, sei lá, lance estranho. Outras vezes é a preguiça de sair de casa ou a falta do namorido, ou o lance de ter dois garotões e na hora 'agá' não saber com quem rolar. Mais ou menos por aí.

Bem, fomos a um barzinho na Lapa tomar umas, quer dizer, a Bia toma todas e come com farinha, já eu sou mais moderada e prefiro ficar nos suquinhos. Conversa vai, conversa vem e veio o papo que já se era esperado: Homens, esses ditos seres diabólicos e ao mesmo tempo angelicais. A perpetuação do mal indiciado pela dengosa Eva (será?). Queria um agora com a folhinha de parreira tapando o sexo gostoso com um tufo de pentelhos de fora, é sério.

Mas voltando, Bia, a fleumática, caiu num choro convulsivo e avassalador. Me assustei imaginando que fosse por conta das boas doses de caipirinha versus cervejas e outras de títulos cujo nome me recuso a repetir (prefiro as palavras de baixo calão).

- O que está acontecendo, amiga? - O que houve? E veio a resposta: tinha acabado tudo com o Gustavo perna de três porque estava com outra(s).

- Pôxa vida, não sabia. Mas tá de se lamentando do quê? Até seis meses atrás você estava com dois e fazendo gracinha com a minha cara porque eu só pegava homens velhos.

- E a bicha retruca: - Eu sei, mas aonde que eu vou arrumar um desses? Ele era grande demais...!

- Ah, tendi, bora procurar garotos de programas? Conheço um site que é show de bola. A gente racha a despesa e se diverte, vamos?

- Amiga, eu sei que você quer levantar o meu astral, mas eu queria mesmo era um centro onde eu pudesse me consultar. Você conhece algum? Fala a obsediada por algum espírito zombeteiro.

- Conhecer até conheço, mas nunca entrei lá. Mas se isso te deixa mais aliviada, a gente vai agora.

Fomos e quase voltemos (hahahahaha!)

Chegando no tal lugar, olhei o letreiro desenhado com uns matinhos do lado: Tenda da Vovó Kenga. Faço despachos. Faço ajuntamentos. Desfaço casamentos. Junto e separo ao mesmo tempo. - Nossa, coisa boa de doer nos dentes!

Assim que entramos fomos recebidos com os atabaques, tiramos as sandálias e fomos abraçadas pelo pai de santo Mané. A própria Vovó Kenga.

Sentamo-nos no banco onde já havia bastante gente esperando para as consultas. E vovó Kenga veio com uma espécie de turíbulo cheio de um matinho cheiroso jogando para o alto e baforando o seu cachimbo. As pessoas se levantavam e pegavam no ar essa fumaça.

Bia já tinha cessado o choro, porém agora iniciava um monte de perguntas bestas que eu mal sabia responder.

- Pra quê essa fumaça?

- Ah, sei lá. Deve ser para purificar o ambiente. Vamos fazer como os outros. Pega ela e joga no corpo, da cabeça aos pés.

- E aquela bacia cheia de mato, serve pra que?

- Ah, não sei. Tem gente cuspindo lá dentro, viu?

- Será que a gente vai cuspir também?

- Bia, não sei. Quando chegar em casa, pergunte ao santo Google, tá! - Disse eu com a sacolinha cheia.

- Você não queria vir? Te trouxe aqui pra te aliviar, pô!

Começou o ponto:

'Oi, Zé quando for pra lagoa

Toma cuidado, oi Zé com o balanço da canoa

Oi, Zé faça o que quiser

Só não maltrate o coração desta mulher

Oi, Zé faça o que quiser

Só não maltrate o coração desta mulher "

- Tô sentindo umas coisas estranhas pelo corpo, dizia Bia se coçando.

- É que você encheu a cara de cachaça, né?

- Não. Essa música tá mexendo comigo.

- Ai cacete, Bia. Não comece.

Mal acabei de falar e a bicha caiu no chão se contorcendo.

CONTINUA...

Kathmandu
Enviado por Kathmandu em 24/01/2015
Reeditado em 24/01/2015
Código do texto: T5112623
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