RECORDAÇÕES DE UMA SAUDOSA JUVENTUDE
Lá pelos idos de 1968 a 1970, havia um grupo de primos e colegas de infância, dentre eles, Davi, Mazinho, Zezé Babão e o Carlinhos, que saiam sempre juntos, quer seja para irem ao cinema ou à missa.
A eles às vezes se juntavam outros colegas, mas efetivamente eram esses que se mantinham constantes.
Tanto os cinemas quanto a igreja ficavam a uma distância aproximada de dois quilômetros, os quais eram percorridos pelos então jovens, a pé.
Ao cinema eu nunca ia, por não ter a cultura e nem podia me dar a esse luxo.
Eles gostavam de ir às missas das 19 horas, aos sábados e eu várias vezes os acompanhava.
No trajeto havia sempre muita discussão e comentários, quase sempre polarizados entre filmes e futebol.
Sobre os filmes predominavam os de caratê, quase sempre estrelados por Bruce Lee, de faroeste, 007 e Zorro.
No futebol, em se falando de Minas Gerais, já naquela época havia a polaridade entre o Cruzeiro e o Atlético. No Rio, Flamengo e Vasco e em São Paulo, o Santos.
Na época era o Cruzeiro de Tostão, Dirceu Lopes, Piazza, Raul etc., o Atlético de Grapete, Vantuir, Oldair, Dadá etc., o Santos de Pelé e o Flamengo do Garrincha.
Lembro-me que certa vez um deles disse que fora de Minas, torcia para o Flamengo e outro afirmou torcer para o Santos.
Alguém disse: “você torce para o Santos por causa do Pelé!”, o outro retrucou: “se for assim você torce para o Flamengo que é do Rio”. E a discussão perdurou por todo o trajeto de ida, continuando também no trajeto de volta.
Como eu não frequentava cinema e também não acompanhava futebol, não me atrevia a entrar na discussão. Na verdade eu os acompanhava mas não me sentia integrado, pois não frequentava salas de cinema e nem acompanhava futebol. Eu me sentia “um peixe fora d’água” e me limitava apenas a acompanhá-los.
Sempre, na volta, os meus primos e colegas paravam em uma antiga padaria que havia na esquina da Rua Álvares Maciel com Avenida do Contorno, para fazerem um lanche. Faziam uma vaquinha e pagavam um sonho ou biscoito e refrigerante para mim que, apesar de ficar sem graça, aceitava de bom grado.
Continuávamos a caminhada de volta e quando chegávamos na esquina da rua em que eu morava eu me despedia deles. Eles continuavam andando e mantendo a discussão do assunto do momento, até a rua onde moravam. Certamente paravam em algum ponto da rua para continuar os diálogos até o momento de se recolherem, entre as 22 e as 23 horas.