CAUSOS DA DÉCADA DE 60

CAUSOS DA DÉCADA DE 60

Morávamos eu e mais quatro amigos em um barracão na cidade de Cel. Fabriciano. Tínhamos que alugar algo bem barato pois, além de estudar em Acesita, começamos a trabalhar na Usiminas e o salário dos cinco, somados, mal dava para pagar as passagens para ir trabalhar e para o lanche à noite quando voltávamos da Escola Técnica de Acesita onde estudávamos.

Lembro bem que o domingo era o dia que comíamos melhor, mas sempre chegando ao restaurante, pedindo o cardápio e olhando primeiro os preços para depois fazer o pedido da comida.

Apelidamos o barracão de “REPÚBLICA SAUDADES DA MAMÃE”, pois quem sabe com este sugestivo nome os vizinhos se apiedassem de nós e nos convidasse para o almoço de domingo e que, a bem da verdade não funcionou.

Tinha uma antessala que era tão pequena que mal cabia uma mesinha de 60x60 cm e só quatro cadeiras. Se todos resolvêssemos estudar ao mesmo tempo, um teria que ficar de pé. O quarto era retangular, de mais ou menos 3m de frente por 7m, incluindo um banheiro de 2x2 com lavabo, chuveiro e vaso sanitário. As cinco camas eram dispostas em paralelo, pois caso contrário não daria para todos.

Lembro bem de um dos colegas que quando entrava no banheiro os outros quatros saiam correndo. Ninguém aguentava - Naquela época não tinha Odorizante de Ambiente, popularmente conhecido como bom-ar-!

Não tínhamos guarda-roupas. Cada um tinha um prego na parede para pendurar as roupas. Quanto maior, mais cabia peças. Lembro-me bem de um dos colegas que pendurava uma capa de chuva de lona e um guarda-chuvas também.

Para não correr o risco de perder a hora, colocávamos um despertador bem grande e barulhento dentro de uma lata –daquelas de 20kg de margarina vegetal –

Mas até hoje não consegui entender porque não conseguia acordar com aquele barulhão todo. Era necessário que meus amigos gritassem bastante -e ainda chegar um sapato fedorento em meu nariz. -

Um belo dia, pela primeira vez na história da república, depois de passados exatos 3 anos que morávamos lá, EU ACORDEI. Exatamente 10min depois do horário de costume, e sem o barulho ensurdecedor do despertador.

Pulei da cama e dei um grito: ACORDEM PESSOAL senão vamos perder a hora e o ônibus das 6:30h. Foi uma loucura: nunca nos aprontamos tão rápido. Não deu tempo nem de ir ao banheiro! Corremos para o ponto de ônibus que não era muito longe.

O ponto estava vazio. Começamos a nos preocupar sem saber se o ônibus já havia passado.

De repente, um de meus amigos, ainda sonolento, esbravejou: GENTE...HOJE É FERIADO... Francamente, nunca corri tanto e com quatro enfurecidos querendo me socar! Acho que ganharia facilmente do queniano, o fenômeno Poltergeist, o maior vencedor de todos os tempos da maratona de São Silvestre...

Abdo Siman
Enviado por Abdo Siman em 29/12/2014
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