A visita do caixeiro-viajante
Faz muito tempo, mas muito mesmo. Era na época dos caixeiros-viajantes. Todo mês o Francisco passava na pequena cidade de Rendição com suas malas, vendendo todo tipo de tranqueira, principalmente para a mulherada. À noite, dormia na pensão da Dona Marivalda, trabalhava até tarde no outro dia e “picava a mula”, para se usar uma expressão da época. Naquela noite, porém, ele não dormiu onde estava acostumado. A dona do estabelecimento ficou um pouco enciumada, mas depois pensou consigo mesma: o coitado deve estar sem dinheiro, os negócios não andam bem.
Veio o mês seguinte, e mais outro, e o Francisco não apareceu mais por lá. Na mesma época a barriga da Lucília foi crescendo, crescendo, sem explicação. Todo mundo pensou a mesma coisa, mas ninguém, disse nada. Pelo menos publicamente. Depois de nove meses da ausência do caixeiro-viajante, nasceu o Francisquinho. Nome escolhido pela Lucília mesmo, sem vexame. Como o Francisco nunca voltou e também os tempos estavam mudando, a Lucília abriu uma lojinha, que veio a calhar, com a ausência do vendedor. Com o tempo, tudo se encaixa, como dizia a Marivalda. Tudo se encaixa.
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Essa vida da gente
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