A FORÇA DO DESESPERO

Ano provável: 1969

Local do fato: quadra de esportes do Colégio Tiradentes da Polícia Militar de Minas Gerais – Bairro Santa Tereza – Belo Horizonte – MG.

Contextualização: Eu repetia a 5ª. Série do primeiro grau no referido estabelecimento de ensino, época na qual era praxe aulas de Educação-Física, duas vezes por semana.

Na minha classe havia alguns alunos bem aplicados, cujos pais priorizavam o aprendizado escolar acima de tudo e dava a eles plenas condições para se saírem o melhor possível nos estudos.

Dentre esses colegas havia um cujo nome era José Silvério dos Reis. Este, um jovem branquicela, meio gordo, mas não muito, cútis branca, daqueles que se ruborizam com extrema facilidade.

Era o que se podia chamar de “filhinho do papai”, cujo pai ou a mãe iam apanhar de carro ao final da aula.

Eu vivia uma realidade bem diferente: quando eu não estava na escola ou ajudando o meu pai em algum trabalho braçal, estava na rua correndo, pulando, soltando papagaio, ou correndo atrás deles, jogando bola, tico-tico-fuzilado, garrafão, jogando bolinha de gude, andando de bicicleta, brigando etc.

Talvez por esses detalhes o estudo nunca fora minha vocação, não tendo passado, em meu período escolar, de um aluno mediano.

Mas na chamada Educação Física, em todos os quesitos eu era o melhor de todas as turmas (corrida, flexão de braços, canguru, barra, em tudo eu era o melhor).

O fato: Certo dia, em uma dessas aulas de educação-física, o professor resolveu dar uma atividade a ser desenvolvida em dupla, onde um era oponente do outro em uma disputa na qual os adversários, segurando-se mutuamente pelas mãos ou antebraços, puxavam um ao outro, cada qual para o seu lado, saindo vencedor aquele que conseguisse arrastar o outro para o seu “território”.

O professor foi separando as duplas de oponentes, por critérios que até hoje não consegui perceber quais foram.

Como meu opositor, foi escalado o José Silvério, que ficou com o rosto e orelhas totalmente vermelhos, quase roxos.

Desnecessário dizer que o José Silvério ficou chateado em me ter como seu adversário.

Já os demais colegas entraram em franca algazarra, pois tinham a convicção que eu havia pego o adversário mais fácil de todos.

Da minha parte eu também fiquei muito satisfeito com a escolha feita pelo professor.

A ordem para inicio da disputa seria única para todos.

O professor sinalizou para que se iniciassem as disputas e os adversários puxavam seus oponentes cada qual para o seu lado.

Antes que eu tivesse me posicionado para oferecer resistência, o José Silvério me deu um arranco brusco e com o rosto muito vermelho e tenso foi dando outro e mais outro, tendo conseguido me vencer com facilidade.

Ninguém queria acreditar no que viram, mas o comentário era geral: “o José Silvério ganhou do Rafael”.

Rafael Arcângelo
Enviado por Rafael Arcângelo em 11/12/2014
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