Anacleto Xoxoto (2)

E depois daquele fatídico dia, já não reinava a alegria e nada não cabia, não encaixava, não deleitava. O sol se escondeu e agora parecia um maracujá murchinho, não tinha brilho, não tinha os raios, não emprestava o amarelo pra pratear os rios. As águas das cachoeiras desciam na lentidão adormecida, as ariranhas não comiam mais os vermelhinhos de olhos esbugalhados, não teve um lado sequer da natureza que não sentiu a certeza de tanta tristeza.

A meninada não mais sorria, não mais ardia nas brincadeiras e jogos, as velhinhas, coroas e as moças mostravam-se apáticas, lunáticas, problemáticas sem nem ao menos ou mais ao cubo saber dos números e estranháticas, também ficaram. Dona Litinha, a pobre que babou feito uma vaquinha malhada, agora vivia sonhando acordada pensando no feito. O que ela queria era esquecer aquele terrível dia malfeito no feito de Anacleto Xoxoto. E o seu pensamento voava: Ah, Xoxoto, se você fosse um outro...

E os dias transcorriam dessa maneira, sem eira nem beira, sem aparato, sem angu no prato porque os milhos agora ressecavam-se nos trigais, a massa do pão não estendia, não alimentava nem na comunhão. A igrejinha fechou as portas, os santos derramavam as lágrimas das continhas de Nossa Senhora, os lírios desmaiavam de delírios, as rosas não abriam seus botões e as casas ficaram vazias sem a agulha e nem linha, sem trilha, e a panturrilha já doia daquele povo sem chão.

Num dado momento, anunciou na rádio o seguinte recado na voz do locutor, doutor e senador daquelas bandas: Por motivo de força maior, esse reino será excluído do mapa, quiçá do mundo. Findou-se a alegria e ficamos no escuro.

Anacleto, ouviu tudo. Escutou a história que escandalizava a sua força de homem. Escutou estarrecido e deprimido resolveu voltar e mostrar a verdadeira vardade verídica daquele fato; decidiu de pronto dar o acalanto àquele vilarejo que era tão lindo.

Numa manhã sem muito viço, Anacleto se arrumou e se penteou, colocou uma calça justinha feito um sertanejo, as botas de cano longo bem coloridas, um cintão dourado, uma camisa cor de pitanga com algumas miçangas, colocou a dentadura com uma falha na frente sem os dois dentes, colocou o violão debaixo do braço e foi até a vendinha do seu Habibi, comeu uns quibes "moxos" e esfarelados, reuniu todo o povoado e começou o seu discurso.

O povo olhava "praquilotudo" e sem muito entender, mas já entendendo, talvez, quem sabe ou... nem sei dizer. Anacleto resolveu falar, desembuchar o que embuchava toda aquela gente; Quem cantou naquele dia foi o seu irmão gêmeo letrado e não ele. Portanto, Anacleto Xoxoto era o original Anacleto.

E para o espanto da "rapeize", das meninas de tranças , da mulherada e principalmente da dona Litinha, eis que a santinha já estava bem disminlinguida, fora pega de surpresa e já batia a palminha, aquela piriquita. Seu Anacleto dedicou à ela essa canção:

"Teu! Todo teu! Minha! Toda Minha! Juntos essa noite Quero te dar todo meu amor... Toda minha vida, simmmmmmmm! Eu te procurei (nanananannananá) Hoje sou feliz com você que o que é tudo o que sonhei...! Ohhhhhhhhhh! Eu te amo!"

E emendou: "Quero vê-la sorrir, quero vê-la cantar

Quero ver o seu corpo dançar sem parar

Quero vê-la sorrir, quero vê-la cantar

Quero ver o seu corpo dançar sem parar"

E todos já batiam palmas, se enroscavam em beijos de língua, entrelaçavam-se as mãos os dedos e os cabelos, a criançada pulando amarelinha, o sol sorrindo feito laranja pera, as ariranhas comendo os peixinhos vermelhinhos, a natureza sorrindo bem verdinha e dona Litinha rebolando a abobrinha com o Anacleto Mui MaXoxoto

Continua...

Kathmandu
Enviado por Kathmandu em 27/11/2014
Reeditado em 28/11/2014
Código do texto: T5050293
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