SAIA JUSTA
Aproveitando os últimos dias da Campanha de Popularização do Teatro, no final do mês de julho de 2013, a minha filha Mariana convidou sua avó, primos, tias e tios, além de mim e minha esposa, para assistirmos a alguma peça.
Fizemos opção pela peça “Do Claustro”, dos diretores Fernando Couto e Caio Cézar, protagonizada por Mariana Lobato e Lorena Jamarino, exibida no Teatro Sesiminas.
Encontramos-nos na portaria principal do teatro: Eu, minha esposa Míriam, a Mariana, a minha sogra Edith, a minha cunhada Cristina e seus dois filhos, Eduardo e Luiza. Três gerações representadas, para assistirem a uma mesma peça teatral do gênero drama.
O Teatro Sesiminas é composto, além do grande auditório, de várias outras arenas. E era em uma dessas arenas que a peça vinha sendo apresentada.
As luzes se apagaram e iniciou-se a representação que envolvia duas freiras clarissas, do Convento de Santa Clara do Desterro, na Bahia do século XVII.
O início gerou grande expectativa, pois as luzes focaram apenas em uma personagem irrequieta na cama, como quem estava irritada com insônia. Essa personagem se debatia, virava, remexia, não conseguia pegar no sono.
De repente se levantou, ajoelhou-se, fez uma oração e lançou mão de uma cruz tipo crucifixo e começou a se masturbar. Enquanto se masturbava soltava os gemidos daquele incontrolável prazer proibido.
Àquela altura da apresentação eu já estava bastante sem graça e pensando nos sentimentos que os demais familiares estavam tendo, uns em relação aos outros.
Sagrado e profano se misturavam naquele ímpeto incontido de uma religiosa, que não conseguia conter a força oculta da sua natureza fisiológica.
De repente adentra ao quarto uma segunda freira, que surpreende a outra naquela ação libidinosa. Aí se inicia um pesado e repressivo diálogo, no qual cada uma se opunha com veemência às argumentações da outra.
A freira pecaminosa foi então desenrolando seus motivos por agir daquela maneira, dentre eles o de não ter mais a presença de seu amante no convento a fazer-lhe as oportunas “visitinhas sexuais” de costume.
A carência afetiva deixava-a transtornada, a ponto de fazer, ela própria, fortes carícias em seus belos e volumosos seios desnudos. A todo instante levantava o vestido exibindo as genitálias, pois não trajava calcinha.
Procurando convencer a outra freira dos motivos que a levavam a agir dessa maneira, fez-lhe, demasiadamente excitada, reveladoras confissões de sua vida pregressa.
Relatou que a sua mãe morrera logo após o parto e que o seu pai nunca a perdoou por isso. Disse que por esse motivo ele a estuprava e lhe espancava constantemente, querendo que ela gerasse um filho homem.
Não suportando mais aquela vida, fugiu para um quilombo, onde presenciava, entre gozos e gemidos, alucinantes cenas de sexo entre os negros, que transbordavam um suor denso e relaxante. Afirmou que tudo aquilo a excitava muito e embora também lá no quilombo ela tinha que se submeter aos constantes estupros, inclusive a penetração anal, aquilo não tinha o sabor amargo e repugnante das investidas do seu próprio pai. Dizia que o sexo viril e animalesco com os negros, ao contrário lhe davam indescritíveis prazeres e que não há nada mais excitante e arrebatador do que quando as cores se encontram e se misturam, no momento do sexo selvagem.
A personagem, postada de quatro sobre a cama, relatava a conjunção carnal, fazia os movimentos com o corpo e exprimia emoções, como se a cópula estivesse acontecendo naquele exato momento.
E assim toda a peça se desenrolou nesse contexto profano, cujas personagens se encontravam tão próximas do público que até era possível tocá-las, o que nos constrangia ainda mais.
Finda a peça e uma vez acesas as luzes, o desconforto ao olharmos uns para os outros era tão grande que ao sair do teatro os olhares não se cruzavam.