A Pacata Waldiclécia

Waldiclécia, era uma moça pacata, cordata e sensata. De família humilde. De berço cristão. Onde a reza era a combustão para a lida do dia-a-dia não só na agonia, mas na alegria como na comunhão com a vida. Ainda que o galo levantasse a crista bem cedinho e cantasse às quatro da matina geladinha daquele refrão. E mal o galo ecoava o seu canto mostrando as horas da lida, Waldiclécia pulava da cama e corria para o seu banho lá fora no quintal, bem ao natural e com todo o aval daquela natureza esplêndida - tinha o corpo cheinho de sereia - moreninha jambo, jabuticaba e beterraba nos lábios - era um anjo de doçura aquela menina.

Ela trabalhva na fábrica de lingerie, era por ali, pertinho do sítio do açaí que aquela princesa marabá trabalhava sem parar. Costureira de mancheia, não dava ponto sem nó, arrematadeira de primeira e até ouvia o curió nas manhãs de sol amarelinho feito os pintinhos da galinha Mariquinha, esposa do galo Belchior.

Waldiclécia apesar de pura e virgem, vivia sonhando com aquelas pecinhas coloridas, era doida para experimentar uma e ver como ficava na pele. Na derme. Sua epiderme gritava agora com aguinhas de suores pelo corpo todo - ela era rolicinha... uma gracinha de doer, mas tinha vergonha e se dizia gordinha, apesar de escutar os galanteios dos marmanjos das redondezas, mas não tinha certeza que tudo aquilo era para ela, decerto era para outra - pensava ela.

E com muita coragem e cheia de disposição, fez o sinal da santa cruz benzendo-se e já imaginando que aquilo era coisa dele, do demo ruim. Mas não aguentou, correu até o banheiro e vestiu um lindo conjunto vermelho de calcinha e soutien. Se olhou no espelho e viu que era realmente deslumbrante e que chamava a atenção.

Mas, de repente a porta se abriu, e quem foi que não viu aquele espetáculo de diabinha? A pobre esqueceu de passar a taramela na outra ponta da madeira, e, pronto! De repente viu que, fazia a aglomeração na entrada do banheiro, homens e velhas carpideiras benzedeiras daquela região, umas olhavam-na atravessada, outras cochichavam e elevavam as mãos em preces, fulanas mais jovens, entreolhavam-se e sorriam de ladinho, beltranas levantavam os queixinhos, já os homens... esses babavam, eram velhos, eram os moços e os rapazes.

Waldiclécia atordoada, bateu-lhes a porta na lata de cada um deles e chorou por meia hora trancafiada, depois, saiu com o rosto avermelhado, o semblante retorcido de vergonha e ao mesmo tempo de desejo. Gostou da cena dos homens a admirá-la. Sentou-se frente à sua máquina de costura, mordeu os lábios de leve e cruzou as pernas. Muitos ali ainda viram o pedacinho da calcinha vermelha daquela moça que se dizia crente.

Kathmandu
Enviado por Kathmandu em 10/11/2014
Reeditado em 10/11/2014
Código do texto: T5029625
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