O vibrador


Após muito pesquisar, com inúmeras incursões em alfarrábios antigos, literaturas eróticas e sexuais de origens do oriente, Kama Sutra, China, Egito, Incas, Maias e Astecas, Atlântida, especulações extraterrestres e interplanetárias, etc., creio ter descoberto, afinal, a origem do uso de “vibradores”, aquela parafernália que se apresenta sob inúmeras formas, tamanhos, cores e aplicações encontradas em sex shops e que se constituem em objetos de desejo para muitas mulheres e alguns homens.

E, o pior, é que não era necessário ir tão longe, pois, segundo pude apurar, o fato que originou tão importante invenção ocorreu aqui mesmo no Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro, nos idos anos 60, período em que ocorreu uma profunda transformação em todo o mundo. É que, à época, estávamos tão preocupados em descobrir o sentido da vida, em entendermos o significado dos embates ocidente versus oriente, do capitalismo e o comunismo, dos poderes da grana e da flor que não foi possível registrá-lo como mais uma invenção brasileira.

E, da mesmos forma como o avião de Santos Dumont, os americanos se apropriaram de nossa invenção, os japoneses a aprimoraram e transistorizaram e os chineses, como sempre, a vulgarizaram e infestaram o mundo com suas cópias, imputando-lhe dezenas de variações que atendessem todos os anseios, popularizando-a.

Esta que viria se tornar a mais importante invenção do século XX nasceu em uma noite tranqüila de sexta feira no Rio de Janeiro, ocasião propicia para os que não dispunham de muitos recursos se dirigissem ao Estudantina Musical, boite localizada na Praça Tiradentes e freqüentada por belíssimas domésticas de Copacabana, em busca de sexo gratuito, o que era ainda impossível de se obter com as namoradas, muitas delas ainda virgens – lembre-se que a filosofia hippie de amor livre ainda era nascente e não muito difundida.

Com um bom papo, sempre conseguia-se companhia para a noite. E assim o fez Roberto (vamos chamá-lo assim para preservar sua identidade), nosso personagem principal. Lá pelas tantas, conseguida a companhia procurada, dirigiu-se ao apartamento onde morava – um apartamento de quarto e sala no Catete, dividido com outros dez amigos e onde se tinha o hábito já consagrado de, quando ocupado com alguma amiga, ser colocada uma toalha à janela, avisando aos demais para que não interrompesse.

Lá chegando, o caminho estava livre – nenhuma toalha à janela. Adentraram o apartamento e, contudo, o quarto já estava ocupado, restando somente a sala para a noite de amor planejada, valendo-se de uma “dragoflex” (pequena cama de metal, dobrável e com rodinhas). E começaram o rala e rola, entre beijos, abraços, mãos nas mãos, mãos nas coisas, coisas nas coisas, etc. e tal.

Lá pelas tantas, os dois nus sobre a incômoda “dragoflex”, é chegada a hora de irem para os finalmente, a menina já ansiosa e deitada aguardando pela estocada final de Roberto que, cheio de atenções e carinho, se apóia na estrutura de ferro, arremetendo-se. Com o movimento brusco, a “dragoflex” se projeta para a frente e encosta nos fios de uma tomada elétrica na parede, descarregando toda a potência de seus 110 volts em Roberto, que começa a tremer convulsivamente, gemendo.

Frustrada, a menina pergunta:

- Mas, como, você já está gozando? Ainda nem me penetrou...

- Não..., eu estou...é sendo eletrocutado, não estou gozandooooooo....

Somente muitas horas depois e graças aos esforços e empenho da menina, conseguiram despertar o distinto, a esta altura transformado em “de japonês”, minúsculo, podendo desfrutar de sua noite de amor.

Pelo que consegui apurar, a menina tinha visão empresarial, patenteou a invenção como vibrador, inicialmente para uso estritamente feminino e hoje mora em Miami, usufruindo dos royalties que lhes são pagos por empresas de todo o mundo, comprovando a máxima de que as grandes invenções foram descobertas por mero acaso...
LHMignone
Enviado por LHMignone em 03/11/2014
Reeditado em 03/11/2014
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