Uma prosa sobre a História do Vô Rabello

Conta-se que lá pelos idos do ano de 1900, pelas paragens da cidadezinha por nome Pontas de Pedra, interior Pernambucano, chegou um cavaleiro em seu cavalo branco. Homem moreno, alto e de perfil resoluto. Naquele mesmo dia conheceu uma jovenzinha por nome Esther. Foi paixão à primeira vista. Mas, Vô Rabello, já era homem feito, trabalhava para um tá de Coroné Ludlhing ou um outro “nomi” parecido com isso. Vinha das bandas da Paraíba com encomenda certa pro tá Coroné na cidade de Paulista. Já num podia tempo perder. Então, despediu-se da amada Esther e foi-se embora num finarzin de tarde. Esther, calada assistiu a partida de Vô Rabelo. Prometera ele voltar pra casar.

As semanas e meses passaram-se, Vô Rabello não voltou... Os pais de Esther acertaram um casamento entre ela e o filho de um cumpadi. Chegado o dia do casório, fechou-se a rua onde morava a noivinha Esther, muitas mesas, cadeiras e como era custumi, naquela época, os convidados não traziam presentes de núpcias, cada qual trazia pratos e mais pratos de comidas e depositavam sobre uma das muitas mesas espalhadas ao longo da rua. Era festança pra mais de um dia, com forrozeiro e tudo.

Tudo pronto pro casório, o padre acabara de chegar e os noivos já estavam em meios aos convidados... Quando então, lá no finá da rua surgiu um cavaleiro em seu cavalo branco... Era Vô Rabello.

Já eram lá pelas dez da manhã e pelo sol forte, via-se apenas a imagem de um homem parado sobre o seu cavalo. Parado, quieto... uma imobilidade fúnebre. De repente, não mais que de repente, aquele cavaleiro em seu cavalo partiu em grande velocidade. Os convidados apavorados corriam para as calçadas, mães desesperadas gritavam com seus filhos soltos brincando de pega-pega em meio à festa.

Esther! Bradou o apavorado noivo, como quem quisera alertar de um grande perigo. Mas, Esther parecia saber do seu destino, confiando em seu passado. O cavaleiro que tanto alarde causava em seu gigante cavalo só parou diante de Esther... Sem lhe dizer uma única palavra, olhou em seus olhos como nunca antes se havia visto fazer. Então, estendeu-lhe a mão... A plateia emudecida num pálido arrepio, viu Esther agarrasse as mãos que lhe eram estendidas e num só lanço tomou-se sobre o cavalo branco, na garupa, atrás do Vô Rabello...

Aquele cavalo de crina esvoaçante agora cruzava o curso da rua até se perder pelos campos. Atônicos pais, noivo, padrinhos e convidados assistiam Vô Rabello roubar, em grande estilo, a noiva em plena festa de seu casamento.

E tiveram sete filhas, sete Marias foram, das quais de uma sou filho. Se foi assim, não sei. Só sei que me contaram que sim...

Moisés Rabelo de Santana

*Todos os erros e vícios de linguagem foram rebuscados para trazer a mais pura realidade de um tempo e cultura que já não existe mais.

PUBLICADO NO FACEBOOK POR Moisés Rabelo de Santana

NOSLEN OLEBAR e Moisés Rabelo de Santana
Enviado por NOSLEN OLEBAR em 02/11/2014
Reeditado em 12/08/2015
Código do texto: T5021029
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