SÁBADO CAIPIRA - Conto # Antonio Cabral Filho - RJ
O caipira estava preocupado com o sol castigando a sua plantação e foi conversar com o compadre sobre o seu drama:
- Ô sô! Né q'esse solzão tá matano meu mio e meu feijão! Tinha de dá um pé d'água pra mode sarvá minhas prantas!
- Pois é sô! Já vai umas boa semana sem uma chuvinha, né? Respondeu o compadre em tom de interrogação, pra esticar o fio da meada, e continuou inquirindo o seu amigo:
- Ocê sabe em que dia da semana cê prantou seu mio e seu feijão? Mas o dono da plantação limitou-se a menear a cabeça negativamente. Então o outro prosseguiu seu interrogatório:
- Se ocê prantou de domingo a sexta-feira e ainda mais com esse solzão, pode descansar que não vai dar nada!
Mas o plantador encafifou-se todo e quis saber o que o sol e o dia da semana tinham a ver com o seu milho e o seu feijão, e, olhando sério para o amigo, perguntou:
- Mas o quê qui ocê tá querendo mi dizê?!
- Ocê num sabe que existe a lua? Pois é. Explicou o compadre do caipira, que ainda não entendia patavinas do que o outro estava explicando-lhe. E continuou a querela:
- O quê qui a lua tem a ver com meu mio e meu feijão? Interrogou ele meio atordoado, ao que o outro retrucou-lhe:
- Ocê num sabe o dia qui o Sinhô descansou não?!
- Sei! Mas o quê qui isso tem a ver com lua, dia da semana, sol e prantação? Reagiu o pobre caipira, demonstrando irritação.
O seu compadre, mais astuto, foi explicando-lhe, pacientemente, e disse-lhe:
- É que no sábado o Sinhô descansa, num sabe; então no sábado a lua num gunverna, num sabe; então o sábado é o mió dia pra si prantá, num sabe; pra si cortá o cabela, num sabe; si capá poico, frango de engorda, podá arve, num sabe....
E nesse momento veio chegando um terceiro caipira, de nome Mané, a quem p caipira plantador recorreu:
- Ô Mané, em qui dia da semana ocê pranta sua roça e em que lua? O caipira Mané não se fez de rogado e foi lascando resposta:
- Eu pranto todo dia ! Na lua eu não posso prantá nada não, porque não posso ir inté lá, então eu pranto é na terra mermo!
O compadre do plantador embargou a conversa com um meneio de cabeça, em sinal de desaprovação, e,
propôs a todos tomar mais uma branquinha pra lubrificar a palavra, e deixar esse assunto para resolverem durante a caminhada de volta pra casa.
Gargantas enxaguadas, pé na estrada, e lá se foram os três gesticulando encima de seus cavalos e sob a nuvem de poeira vermelha dos estradões mineiros.
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