Costurando com a língua
COSTURANDO COM A LÍNGUA
Luís Alves, professor, adepto e tarado pela língua portuguesa (mas era brasileiro) se estivesse aqui, estaria comemorando um século. E, é claro, já com muitas horas extras de vida.
Mas suas histórias ainda perduram na mente dos mais idosos. Os jovens contam algumas, mas não sabem a origem delas.
Uma das mais conhecidas é a seguinte: Luís resolveu escrever um livro sobre as peripécias da dita língua. Começou a reunir todo tipo de matéria. Um capítulo seria escrito sob o título "Placas". Nas suas andanças, foi anotando as placas penduradas ou pregadas pela cidade: "Daci intuio" ( dá-se entulho), "vende-se flores" ( vendem-se flores ), "conserta-se lidificador" ( liquidificador ), "fogão a lenlha" ( fogão à lenha ), "xup-xup" ( chupe – chupe ), "coliseu pneuaqui" ( cole seu pneu aqui ) e muitas outras.
Com o semblante aborrecido, ia copiando tudo.
Às vezes, perguntava a um transeunte como deveria ser escrito e quase sempre o aborrecimento aumentava.
Quando encontrava uma placa escrita corretamente, fazia questão de cumprimentar o proprietário ou parabenizar o autor ( como escritor, tudo servia de matéria para o livro ).
Certo dia, ao notar e anotar uma placa, entrou num estabelecimento e encontrou um senhor já calvo, forte e com um bigode há muito sem ser aparado. - Bom dia, senhor, disse ele ao alfaiate. Estou escrevendo sobre as placas desta cidade e percebi o português correto usado nesta propriedade. "Alfataria Águia de Ouro". O senhor mesmo a escreveu ? O homem, alisando o bigode disse-lhe: Fui eu, sim, moço. Só que o senhor leu errado. Não reparou no acento? O correto é: "Alfaitaria Agúia de Ouro"!...