Promessa é dívida
PROMESSA É DÍVIDA
Eram dois amigos inseparáveis. A amizade era "igual cão de garrucha - um arma e o outro puxa", diziam. Trabalhavam juntos, comiam juntos, bebiam juntos. Todos as tardes, saíam do serviço, passavam no “Bar doce bar”, pediam 2 pingas e um tira-gosto. Não bebiam sem comer. "O álcool come o fígado", ensinavam aos colegas.
Um dia resolveram fazer uma promessa. Jair, o mais "conversado", pediu a atenção da turma e disse: - "Eu e o Tonho prometemos que, quando um de nós morrer, o outro irá beber a pinga do amigo falecido. É como se ainda estivéssemos juntos, como se nada tivesse mudado".
E a vida continuou com o mesmo ritual. O tempo passou e passou tanto tempo que o Tonho "amarelou". Não teve jeito, caiu do galho. Morreu!
Jair cumpria a promessa e o ritual era o mesmo: Pedia 2 pingas, tomava uma e depois a outra. Às vezes, quando um comentário era mais íntimo, dava prá se notar lágrimas brotando dos seus olhos. Todos sabiam da história e esta se alastrou.
Um dia Jair ficou “perrengue” e o levaram ao médico quase à força. O homem só usava chá de folhas e raízes. Dizia que não precisava de médico e que era jogar dinheiro fora.
Como o problema parecia sério ele ficou fora de circulação quase um mês. Parece que as injeções e os remédios tiraram dele o prazer de beber. Ou talvez o pensamento tenha mudado.
Ainda magro e um pouco amarelo, chegou ao bar e pediu não duas mas apenas uma pinga. Todos estranharam. O "vendeiro", um tanto boquiaberto e curioso, perguntou então se ele não iria mais cumprir a promessa. Jair respondeu: - "O que prometi eu cumpro até morrer. Acontece que eu parei de beber, bebo agora só pro meu amigo"...