SERÁ QUE ELE ERA?

Será que ele era?!

Noite de lua cheia, a lua que tanto amo, que desperta lembranças dos mais lindos momentos que o amor já me proporcionou. Tenho loucura pela lua cheia, hoje fotografei-a mas a imagem não ficou legal, saiu muito distante. Acho que ela deu até um sorrizinho para mim.

Amo olhar o céu e hoje ao fazê-lo fui jogada de volta ao passado nada poético. Quando criança, morava em frente ao nosso sítio um homem, amigo da minha família, que diziam que em noites de lua cheia virava lobisomem. Transformava-se em um animal peludo e amanhecia com os dentes cheios de capim.

Curiosidade de criança juntando com imaginação e medo formam um conjunto esquisito,desafiador. Sempre fui medrosa, curiosa e com bastante imaginação. Logo aquele homem pelo menos uma vez no mês tomava conta do meu imaginário e confesso que as vezes ouvia-o uivá-lo.

Certa manhã, depois de uma noite de lua cheia fui até a casa dele levar um recado de minha avó para a mãe dele.

Quem vem abrir o portão para mim?

Ele. Ainda lembro de seu rosto muito pálido, cabelos em desordem mas não consegui ver o capim em seus dentes, ele não me encarava, falava de cabeça baixa. Eu tremia de medo e se visse qualquer coisa verde nos dentes dele, certamente acho que sairía correndo.

Mesmo com esse estigma que ele carregava, era uma pessoa dócil, honesta, mas seu rosto era triste. Mesmo quando brincava notava-se a tristeza. Ele sabia que tinha fama de lobisomem porque a molecada zombava dele e algumas mães para acelerarem o sono dos filhotes diziam: Dorme logo moleque, ou chamo seu Zé!

Se dormiam logo não sei mas ficavam mudos, diziam elas aos risos.

Minha avó dizia que seu Zé não virava lobisomem, apenas gostava de perambular pelas ruas em noite de lua cheia e como era muito pálido, alguém disse que ele virava.

Verdade ou não, durante anos desejei que todas as noites de lua cheia chovesse.

Maria Luzia Santos
Enviado por Maria Luzia Santos em 26/10/2014
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