A rua dos Salgados...
E sucedeu que, naquela manhã de terça feira, na vila de Santa Helena havia uma névoa, ninguém sabia ao certo que seria, uns diziam uma coisa, outros diziam outra.
-É coisa de alienígena seu Dirceu, tô falando pro sinhô que só pode de ser isso, se não fosse isso, que coisa haveria de ser?
Dirceu, meio desconfiado, meio bobo, indagou:
-Mas caso de que ia aparece esse tar de alienígena? Que haveria de querê aqui, justo aqui com essa gente estrambólica?
Ajuntou-se um aglomerado, justo em semana de carnaval haveriam todos de ser abduzidos? Era fofoca daqui, fofoca de lá, e nada de chegar a uma conclusão cabível.
Eis que eu, passando ali ouvi meio de canto um cochicho que dizia assim:
-É, pode ter certeza dona Maria, é isso mesmo coisa do pata rachada, que mais seria? Esses tar de jovem d’hoje em dia mexem com tudo essas coisas mesmo, é o tar de penta da grama, um tar de home de saia, de muié sem cabelo, ixi compadre uma doidera só.
Me acabei de rir na mesma hora, eu que andava por ali só de passagem não posso dizer que não me diverti, foi um caos, durante meu período todo só se ouvia falar da misteriosa névoa, até eu em certo ponto já andava curiosa.
Certa vez, dobrei uma esquina errada, vi um mundaréu de fumaça que na medida em que eu me aproximava, só aumentava e mais gelada ficava. Eu ia perder a chance de botar minha lenha na fogueira? Que nada, sai espalhando na mesma hora, gritei aos quatro cantos meu terror.
No outro dia, você nem acredita, no jornal logo cedo na capa, já dizia, contava como, ondo e quem. Até eu me aterrorizei, fiquei com medo, nem ali passava mais, vai que um dia eu passo desavisada e... A gente não sabe o que passa na cabeça dos outros não é? E não era só eu, o medo era compartilhado de quase todo mundo, ninguém se quer tinha coragem de enfrentar a fumaça e ir ver de perto o que se passava.
Foi um fuzuê que só. Quase cancelaram o carnaval, foi um alvoroço, todo mundo curioso, ninguém mais saía de casa, e a fumaça só aumentava, nada de baixar.
Dona Eduarda, minha vizinha, já comentava, todo dia saía na janela, reunia todas as anciãs na calçada pra papear:
-Mas sabe Leopoldina, acho que o pessoal tá mesmo na razão, o que mais seria se não bruxaria? Quem é que faz tanto fogo assim a troco de nada?
E o pessoal nem se deu conta, todo mundo colocava a culpa no fogo, mas quem é que sentia cheiro de fumaça?
No segundo dia de carnaval, quis bancar a corajosa, passei por lá só pra dar uma espiada, e não é que estava baixando a fumaça?
Respirei fundo, contei até três e fui firme, fiquei frente a frente, nem acreditei; uma sorveteria, minha barriga doía de rir, aquele povo todo com medo e no final? Era só gelo seco.