E DEUS MANDOU MEU IRMÃO DE VOLTA
O que seria para o meu irmão Zoza, apenas mais um dia normal de trabalho, como qualquer outro, acabou ficando gravado, de maneira indelével em sua memória, como o dia em que Deus concedeu a ele mais uma oportunidade de seguir vivendo.
Mal o mês de agosto de 2012 havia começado e o Zoza já foi logo recebendo a mensagem: “cuide-se, pois mortal é o que és!”.
Ele trabalhava na manutenção de um portão de garagem de um prédio sito na rua Tenente Garro, no bairro de Santa Efigênia, em Belo Horizonte – MG.
Para a realização da tarefa, dentre outras ferramentas, equipamentos e utensílios, estava utilizando uma máquina de solda, ligada na rede elétrica do prédio a 220V.
Desenvolvia com a naturalidade costumeira as atividades necessárias, com vistas a retornar o portão para o trilho e funcionando adequadamente.
Em dado momento ligou a máquina de solda, municiou a garra jacaré com um eletrodo e subiu os degraus de uma escada de tubos de aço, para realizar os serviços na parte superior da guia do trilho do portão corrediço. Para não ficar à mercê do balanço da escada manquitola, empunhou com uma das mãos, o metalon da grade sobre o portão.
Pensando estar devidamente protegido e tendo-se cercado dos cuidados necessários para o serviço de soldagem, preparou-se para o início dos procedimentos.
No instante em que deu inicio aos serviços de soldagem, houve um curto-circuito originado pelo contato de um dos fios com a lataria da máquina. Nesse instante foi tomado por um forte solavanco, a musculatura da sua mão se contraiu e ele ficou agarrado à travessa de metalon da grade, com o corpo meio em diagonal e as pontas dos pés trêmulos ainda sobre a escada.
O choque espraiou-se por todo o seu corpo e ele se percebia rechicoteando da cabeça aos pés.
Passaram-se uns 10 (dez) eternos segundos e ele continuava agarrado à grade condutora daquele deprimente e cruel estímulo elétrico.
ficou ali, como que estrebuchando, sem a mínima condição de reação, já que a contração involuntária da musculatura da sua mão condenava-o a continuar amargando aquele infortúnio.
Passados alguns segundos do início do episódio, a essa altura o seu corpo estava suportado apenas pela mão que empunhava a barra de metal. Aí lhe vieram à mente vários pensamentos, inclusive aquele que ele não queria sobremaneira que lhe ocorresse: “vou morrer, vou morrer e não tem uma pessoa sequer para testemunhar o que aconteceu. Vou morrer de forma trágica e solitária, não há ninguém por perto”.
De repente esborrachou-se ao chão. É como se Deus tivesse lhe falado: “ainda não está na sua hora, não apresse o rio. Vá, desfrute mais um tempo junto aos seus, faça o melhor que puder. Quando Eu achar que você está pronto será trazido à minha presença”.
Ficou ali, caído ao chão, encolhido, com a mão ainda tetanizada e por uns dois segundos, inerte e mole como um saco de areia.
Durante aqueles aproximados dois segundinhos de inércia, encontrava-se confuso, não sabia se estava mesmo vivo. Não acreditava que todo aquele suplicio chegara ao fim.
Rafael Arcângelo Machado – Agosto 2012.
De fato, em termos de descarga elétrica, o sofrimento havia mesmo cessado. Mas principalmente pelo resto daquele dia e pelos dias que se sucederam ao acidente, foi tomado pela sensação de angústia e de pequenez.
E por graça e obra exclusiva de Deus, continua aqui dentre nós.