CAUSOS DA BOLEIA - SEJA PACIENTE NA ESTRADA PARA NÃO SER PACIENTE NO HOSPITAL
CAUSOS DA BOLEIA - SEJA PACIENTE NA ESTRADA PARA NÃO SER PACIENTE NO HOSPITAL
Eu estava rodando numa estrada da região dos lagos no Rio de Janeiro, numa tarde bem clara, ensolarada, época de férias nas escolas e fiquei um bom tempo atrás de um carro. Os ocupantes do veículo eram todos jovens e iam cantando alto, fazendo uma terrível zoeira, caçoando de quem estivesse na beira da estrada. Estavam, pelos trajes, indo à praia. Num determinado momento, eles me descobriram atrás deles. Então, passei a ser o alvo das brincadeiras. Faziam caretas e sinalizavam com a intenção de dizer que eles estavam se divertido e eu estava trabalhando. Uma das garotas fazia gestos dizendo que estava com pena de mim.
Como eu não me manifestava, só sorria, a brincadeira ficou mais pesada. Um dos rapazes arriou a bermuda e ficou mostrando a bunda e todos caíram na gargalhada. Eu balancei a cabeça indicando reprovação. O outro rapaz que estava no banco traseiro fez o mesmo e, então, ficaram as duas bundas rebolando. A garota que fez sinal indicando pena de mim estava no meio dos dois e ficou dando tapinhas em cada uma das duplas de nádegas. Depois, ela também entrou na brincadeira e arriou o biquíni e ficou mostrando a bundinha para mim e rebolando. Eu fiz sinal para ela dizendo que estava bem melhor, não tinha gostado da bunda dos rapazes. Um deles ficou alisando as nádegas dela e fazia sinal com os dedos me apontando e dizendo que não era para mim, era dele. Achei engraçado, estava ficando divertido.
Depois a brincadeira ficou mais pesada, os rapazes ficaram balançando os pênis para mim. Aí eu entrei na brincadeira e fiz sinal para a garota com a intenção de dizer que não estava mais gostando, que preferia a bundinha dela. Para minha surpresa, a garota - vou chamar de Glorinha porque me lembrei de uma personagem de um romance do Nelson Rodrigues - puxou para o lado a parte de cima do biquíni, mostrando-me os seios. Ficou tentando balançá-los. Tentando, porque eram pequenos e firmes. Eu fiz sinal afirmativo, e mandei um beijo. Então, ela sorriu e ficou brincando assim por uns momentos, depois enjoou, sentou-se e deu até logo.
Eu me arrependi, afinal era quase uma menina. O motorista acelerou o carro e dispararam na minha frente e eu fiquei pensando na intimidade que os jovens têm. Estavam ali três rapazes e duas moças que não tinham vergonha de exibirem suas partes íntimas uns para os outros, numa liberdade total. Será que os pais daquelas duas moças sabiam dessa desinibição de suas filhas? É por isso que volta e meia a gente vê nos noticiários da televisão e nos programas de reportagem os casos de adolescentes que já são mães e a quantidade enorme de abortos clandestinos que se faz por esse Brasil a fora. Um descuido qualquer leva à gravidez da qual elas acabam se livrando de alguma forma, sem os pais saberem, ou por aborto clandestino ou mediante uso de medicamento abortivo que é vendido ilegalmente até pela internet.
Lembrei-me que naquele mesmo dia eu tinha lido num jornal a respeito de um recém-nascido que foi encontrado vivo depois de três horas soterrado num matagal numa cidade de Minas Gerais. Segundo a Polícia, ele foi enterrado vivo pelos pais, e a mãe, de 17 anos, disse à família que o bebê havia nascido morto, mas os parentes fizeram uma busca e o encontraram. O pai tem 20 anos e foi preso.
Liguei o rádio e continuei na minha monotonia. Parei para fazer xixi na estrada mesmo e fiquei sentado um tempo vendo um passarinho cantar empoleirado numa cerca de arame farpado. Quando ele voou, eu também segui o meu caminho.
De repente, quem eu vejo na minha frente? Eles novamente! Tinham se adiantado para terem tempo de aprontar. Agora estavam as duas garotas no banco de trás, a Glorinha mostrou a bunda pintada cheia de círculos como se fosse um alvo e o rapaz fazendo sinal que na mosca – não preciso dizer onde era - eu não acertava. A outra garota - essa tinha os seios maiores - escreveu na barriga: cuidado com as lombadas, com uma seta apontando para os seios. Em seguida a que eu chamei de Glorinha escreveu na barriga: curvas sinuosas à esquerda e à direita. Depois foi o rapaz que escreveu na barriga: cuidado, animais na pista, com uma seta apontando para você sabe o que. A outra garota apareceu de novo, desta vez estava escrito: cuidado, pista escorregadia à frente, com uma seta apontando para baixo. A Glorinha de novo: pista interditada, uma seta para baixo. Depois a outra garota escreveu sobre os seios: mantenha o farol baixo.
Naquela altura, eu me limitava a sorrir. Por que as pessoas usam as partes íntimas para fazer piada? Talvez por ser contra a moral e os bons costumes a exposição delas em público, daí o sentido de proibido. Se eles escrevessem num papel não ia ter o mesmo valor e que é o proibido dá mais prazer, justamente pelo risco, por não ser usual, nesse caso, mostrar as partes íntimas.
As duas garotas me mostrando as respectivas bundas onde escreveram acesso proibido, somente pessoal credenciado. Tive que rir, eles têm muita imaginação. Fiz sinal convidando a Glorinha para vir para o meu caminhão e ela disse que não – escreveu no peito: mamãe não deixa.
Pior que eles não perceberam uma cabine da Polícia Rodoviária, cujos patrulheiros também viram o bundalelê e foram atrás deles. Eu diminui a marcha para ver o que iria acontecer. Quando eu passei por eles, estavam os cinco bem comportados ouvindo o sermão do guarda que examinava os documentos. Buzinei e dei adeus.
Eles devem ter visto no para-choque traseiro do meu caminhão a frase que eu escrevi: PRA SER CAMINHONEIRO E USAR SUTIÃ PRECISA TER PEITO.