NASCIMENTO DO PLANO CRUZADO

Nascimento do Plano Cruzado

Gilberto estava bebendo na birosca em frente de casa, quando dois sabichões começaram a falar de como surgiu o Plano Cruzado.

Contador de “causos” dos bons, Gilberto, argumentou que o Congelamento do nosso dinheiro, começou em Natal, que conhecia o professor que o inventou: - os dois riram – ele não se fez de rogado e começou a contar sem perguntar se eles queriam saber sua versão:

Desde cedo, Janilson, preparava o cenário, do churrasco semanal. As caixas de cerveja já estavam no frízer, à carne cortadinha, nos espetos. As mesinhas e as cadeiras montadas. Até o mesão, com os bancos laterais, já estavam no lugar. De véspera, Mariquinha, varrera todo o terreiro e hoje só fora preciso catar algumas folhas, caídas dos cajueiros e das mangueiras. Marieta, que ele chamava, de Minha Patroa, a esposa, fizera o molho a campanha e como sempre colocara um pouco de pimenta malagueta, pra ficar picante. O arroz branco, soltinho, “carioca” também já estava pronto, a panela envolvida em jornais velhos, para não esfriar. Com a farofa não precisava se preocupar, pois a Dé, já trazia de casa, uma simples só no azeite, com cebola e a outra, toda incrementada, com banana, ovos, bacon e Jabá desfiada, além, claro, de cebola e cheiro verde.

O sol estava de rachar, entrou em casa tirou gelo do congelador colocou no copo com água e bebeu com gosto – nossa o calor ta danado. – Comentou com Pablo, que se balançava na rede da varanda, olhando cobiçoso, a vizinha se requebrando, ao som de Nando Cordel. Vou até a cacimba me refrescar um pouco;- na Praia da Redinha, litoral norte de Natal, ainda não havia água encanada, - enquanto o resto do povo não chega. E lá se foi mexendo com um aqui outro ali, apertando bochecha de menino, já estava um tanto tocado...

Aos poucos, os convidados foram chegando, o forró estava animado, apesar dos mais velhos, pedir ha mais de meia hora, pra ouvir Altemar Dutra, ninguém dava bola... Janilson, de cara cheia pegou o neném, de Lena no colo, pra quê? O garoto fez uma lambança só. Jogou o menino no colo da mãe e foi correndo trocar de roupa, todos na maior gozação. Alguns minutos depois, Janilson sai do quarto aos berros. - Aqui só tem ladrão, não sai ninguém, pois roubaram a minha carteira. – Todos falam ao mesmo tempo, a Patroa, tenta abraçá-lo, pedindo calma, ele dá um safanão. – Que calma, que calma... eu recebo todo mundo no maior carinho abro minha casa, divido minha cerveja e um safado me rouba e você inda pede calma, vá se danar também. – Marieta, sai amuada. Nesta hora, chega Tácito, seu irmão, casado com Maria, prima de Nita, esposa de Rocha, sempre muito tranqüilo, e diz: - Vamos refazer todo o percurso que você fez ao entrar em casa. E assim fizeram e nada da carteira aparecer. Num estalo ele lembra que tomou água antes de tomar banho, abriram a geladeira e nada...

O clima de festa acabou. Uns já se sentindo ofendidos, pela desconfiança do anfitrião, queriam ir embora enquanto outros; pediam calma. Mané Brigão então foi logo avisando - Vou “simbora” que tenho vergonha na cara, sou pobre e preto mais num sô ladrão. – Pode ir gritou, - Janilson - e pode levar a carne que você trouxe e está no congelador. Isabel que chegara depois do acontecido foi pegar. Quando abriu o congelador e puxou a carne encontrou a carteira do Janilson , completamente congelada. – Gente ta aqui gritou. Ai foi que Janilson, lembrou ter colocado a carteira no congelador enquanto pegava gelo pra beber água. O resto depois foi só brincadeira e gozação.

- Por isso, - Gilberto diz - eu costumo falar, o congelamento do nosso dinheiro não nasceu com o plano cruzado e sim foi inventado pelo professor Janilson num dos seus famosos churrascos.

Jacy de Natal

25/05/2007

Colaboração de Jamilson Amorim, o Rocha, que jura; o causo é real.