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Fagundes, um “cabra” de visão
 
O Fagundes estava com seus quarenta anos naqueles saudosos anos 50. Homem esperto para a época. Gostava de conversar, bater um papo com os amigos. Não tinha estudo nenhum, mas até que falava bem. Entendia um pouco de tudo. E como gostava de explicar!
Naquela tarde morna, perdida no tempo, estavam ele e sua turma, jogando conversa fora no bar. O Fagundes estava explicando a história das marés, da influência da Lua, e outras coisas assim. Não disse que o homem entendia um pouco de tudo? Não sei que raio de associação mental o seu amigo Tonico fez, que acabou falando do correio. Acho que foi porque o Fagundes tinha falado da distância daquele corpo celeste em relação à Terra, quanto tempo a luz demorava para chegar, alguma coisa assim. A cabeça da gente não dá umas reviravoltas assim, de vez em quando? Pois é, o Tonico disse que as respostas para as cartas que ele mandava para o irmão na cidade grande, demoravam um tempo danado para chegar. Parecia que o irmão morava na Lua, disse ele. Muita gente pensou que talvez uma explicação melhor fosse que o irmão dele era um tremendo de um preguiçoso e demorasse para responder, mas ninguém falou nada, não. Foi daí que o Fagundes disse algo bem esquisito, que deixou todo mundo pensando. Falou que, no futuro, ninguém mais precisaria escrever missivas em papel. As conversas iam passar pelos fios de eletricidade. Do mesmo jeito que a gente hoje telefona, a gente iria poder escrever e mandar tudo pelos fios de eletricidade. Uma coisa óbvia. Todo mundo duvidou daquela conversa do Fagundes. Acharam mesmo que ele tinha bebido um pouco demais. Conversa besta, meu! Mandar cartas pelos fios? Que exagero! Diante do ar de incredulidade, o Fagundes foi ainda mais enfático. Disse que mais tarde ainda, nem fio não ia precisar mais. As cartas, sem papel e sem envelope, iriam viajar pelo ar. Além disso, tudo que a gente escrevesse ia chegar rápido como um raio. Dessa vez, todo mundo riu e pensou que ele estava brincando.
Se todos eles estivessem vivos, quem iria rir agora, era o Fagundes. Ele só não chamou o novo “serviço postal” de correio eletrônico ou de e-mail porque a palavra não existia ainda em Português e Inglês ele não falava.
 
Mas que era um sujeito danado de esperto, esse Fagundes, isso ele era! “Cabra” de visão!
 
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Essa vida da gente
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Flávio Cruz
Enviado por Flávio Cruz em 12/10/2014
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