A BOTIJA DE OURO
 
Nos bons tempos do café quando a cultura estava no seu auge, existiu um grande fazendeiro que começou sua vida como tropeiro transportando café para o porto de Santos. Homem trabalhador logo ganhou a confiança dos fazendeiros da região e com isso ganhou muito dinheiro, esperto nos negócios começou a comprar terras, depois casou-se com a filha de um fazendeiro tornando-se em um curto espaço de tempo um grande produtor de café.
   
Desse casamento ele só teve um filho, o menino apesar de inteligente e educado não demonstrava ter o tino do pai para negócios. Foi crescendo mimado pela família mais pela mãe, tias e avó que pelo pai que tentava por todos os meios torná-lo um fazendeiro como ele e talvez o chefe político da cidade, mas logo percebeu que sua tarefa não seria fácil.
   
O menino agora já rapazinho gostava mais da vida boa e dos privilégios que a posição do seu pai proporcionava-o.
E como não adianta dar conselho, falar que o jovem está agindo errado é perda de tempo, ele só vai aprender quebrando a cara, mas quando isso acontece geralmente é tarde para recuperar o que perdeu.
    
Um dia o pai já convencido que o filho não daria conta de administrar os negócios quando ele morresse o chamou para conversar, levando-o para um quarto do casarão, abriu a porta a chave e entraram. Era um quarto espaçoso com pouca mobília, num canto um armário que estava vazio, duas poltronas velhas e mais alguns trastes noutro canto.
   
Esta casa antiga tinha o forro de madeira e no centro do quarto havia uma corda que pendia do forro com um laço na ponta e um banquinho na altura certa para um homem enforcar-se. Mostrando isso o velho disse ao filho, está vendo isso? Quando eu morrer e você dissipar nossa fortuna com essa vida de boêmio que leva, tiver sem dinheiro e sem amigos, não desonre meu nome vivendo na miséria venha aqui e enforque-se.
     
Feito isso o pai chamou o rapaz para sair do quarto e disse que não voltasse ali até que chegasse a hora de acabar com tudo, saíram do quarto e o pai o trancou a chave e a guardou no cofre junto com os documentos mostrando para o filho.
   
O rapaz não levou muito a sério aquela conversa mas não querendo chatear o pai prometeu que faria o que ele pediu, achou esquisito aquele pedido mas esqueceu e foi curtir sua vida.
   
Passado vários anos daquela conversa seu pai morreu, ficando ele responsável pelos negócios da família. O rapaz acostumado na boa vida não quis pegar no batente, levantar cedinho como o pai fazia para organizar e acompanhar os trabalhos da fazenda e fazer as compras e vendas, foi deixando na mão de empregados.
   
Como diz o ditado: o olho do dono que engorda o boi, nesse caso não tinha o olho do dono e os negócios já não rendiam como no tempo do velho. O filho sem experiência e sem muita vontade de trabalhar, gastando mais do devia e alguns negócios mal sucedidos em alguns anos estava afundando em dívidas.
     
Para piorar a situação no ultimo ano deu uma geada forte na região que queimou grande parte de sua lavoura ele sem saber o que fazer foi abandonando, os empregados antigos de confiança foram embora.
   
A situação chegou ao ponto de perder a fazenda, só havia uma saída entregá-la ao banco para pagar as dividas.
     
Um dia o rapaz desesperado com a situação, sem amigos porque acabando o dinheiro os companheiros de festas o abandonaram, sem ter a quem recorrer foi ao cofre pegar dos documentos da fazenda para negociar com o banco, viu a chave e lembrou-se da conversa com o pai.
     
Pegou a chave abriu o quarto olhou a corda pendurada pensou, não posso dar este desconto à memória do meu pai entregando a fazenda, vou cumprir o que prometi subiu no banquinho pôs a corda no pescoço e pulou, o forro quebrou ele caiu e do seu lado caiu uma botija que se quebrou esparramando pelo chão uma fortuna em moedas de ouro.
     
Agora já experiente depois de tudo que aconteceu pegou o dinheiro pagou todas as dividas salvando a fazenda. Daí por diante mudou completamente seu modo de viver, passou ele próprio administrar a fazenda fazendo-a produzir, não mais esbanjou dinheiro tornando-se assim o fazendeiro que seu pai sonhava que fosse.
João Batista Stabile
Enviado por João Batista Stabile em 12/10/2014
Reeditado em 24/11/2020
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