O Desencontro (Parte 1)

Roberto levantou da cama já pensando que porra Deus estava planejando para foder com ele naquele dia. As coisas não andavam bem no trabalho. Ele já não aguentava mais aquela merda e aturava porque precisava do dinheiro no fim do mês.

Entrou no chuveiro e ficou mais tempo pensando sobre todo tipo de merda, do que se banhando realmente. Quando foi se enxugar percebeu que Thaís já não estava mais na cama. Sua esposa é algo que ele todos os dias fica agradecido por ter ao lado. Thaís é linda, tem um rosto delicado, cabelos pretos e olhos castanhos penetrantes e pequenos, a baixa estatura é uma preferência que ele sempre teve. O corpo dela é algo que faz ele todos os dias querer desistir de ir trabalhar e ficar na cama dentro dela até que chegue a hora de dormirem novamente, coisa que às vezes não resiste e acaba fazendo.

Terminou de se arrumar e foi até a cozinha que já tinha um cheiro forte e revigorante do café que sua amada já preparava. Thaís estava deliciosamente provocante na cozinha, com a camiseta dele que ela gosta de usar como pijama. Mais uma vez ele pensa se deve mesmo ir ao trabalho ou ficar com ela. Chega por trás, aperta sua bunda e beija seu pescoço. Ela se encolhe e o empurra com a bunda.

- Saí Beto. – Ela diz, não com um tom de reclamação. Mas, sorrindo, pois já está acostumada com o assédio do marido e gosta de saber que mesmo com dez anos de casados ele ainda levanta a desejando todos os dias.

- Ahh Vai que você decide que eu mereço ir trabalhar feliz. – Ele responde sorrindo também.

- Não porque se eu for te fazer trabalhar feliz assim, você não vai querer sair. Sabe que eu tenho meus jeitos de te prender em casa. – Mais uma vez ela sorri e o afasta da nova investida entregando seu café.

-Quanta maldade. Mas acertamos isto depois.

Roberto saiu de casa. Não tem muito trânsito e isso já o anima. Chegando à empresa ele é recebido pelos seus colegas. Todos gostam dele e ele até gosta de alguns. É conhecido justamente por ser um cara sempre de bem com a vida. As pessoas gostam de saber que ele faz questão de dar atenção a todos. Isso cativa. Seu chefe Márcio chega até sua mesa.

- Beto, muito bom o seu trabalho com a última equipe. Fomos muito elogiados pela qualidade dos treinamentos realizados. Não esqueça que hoje é dia irmos para o Sul do país para continuar a demanda.

- Porra Márcio. Cara me livra dessa, não quero viajar. Não tenho mais pique pra isso. A vida anda difícil assim. Era algo provisório e agora vocês não param de me mandar. Contrata alguém.

-Ainda não posso. O Turn Over da empresa anda alto e contratações estão vedadas pela diretoria até que diminua. Entram dois e saem outros cinco. A última contratação foi indicação dos diretores senão nem ela entrava.

Beto já não ouvia mais. Esse negócio de ficar longe de casa não é com ele. Sente falta da sua mulher, sente falta da sua cama e odeia ir com o babaca do chefe que fica sempre tentando o convencer a trair a Thaís. Não que Beto seja um santo. Ele olha outras mulheres, ele reconhece que várias delas mexem com o sua cabeça o suficiente para que ele considere uma escapada. Mas, então ele se recorda que uma coisa é o que você olha, e às vezes até deseja e outra é o que você faz com seus impulsos. Daí lembra do que tem de mais importante, sua Thaís.

Thaís foi para o trabalho. Ela é Gerente de TI em uma empresa de grande porte. Ali ela se sente realizada. Foi seu primeiro e único emprego. Ela gosta de lá como se fosse sua casa. O problema é só o maldito assédio que aguenta todos os dias de Fábio que é Gerente da área Financeira. Ele passa dos limites com seus comentários nojentos e tentativas constantes de tocá-la.

Beto terminou de arrumar suas coisas, não teve jeito de argumentar. Chegou à sala de Márcio para falar que só ia em casa pra pegar umas roupas.

- Márcio, to indo pegar umas roupas. Onde te encontro depois?

- Eu não vou mais. Houve um problema nessa porra desse prédio. – Márcio tinha as veias do pescoço saltando e estava tão vermelho como se fosse explodir. – Você vai com a Cíntia que entrou esses dias. Já aproveita e treina ela pra que fique alinhada.

Beto não sabia quem era Cíntia, estava no último trabalho que lhe passaram quando ela entrou. Apenas concordou com a cabeça e foi embora. No caminho decidiu ligar para Thaís para avisar da viagem que não conseguiu adiar, mas seu celular descarregou. Ligou de um telefone público e assim que ela atendeu ele começou a brincar.

- Oi delícia. Quando vai trazer essa bundinha gostosa pra perto de mim hein?

- Fábio, seu filho da puta. Pára com essas palhaçadas. Eu já avisei mais de uma vez. – Ela responde puta achando que está mais uma vez tendo de colocar Fábio em seu lugar.

Beto desligou a ligação. Não soube o que falar ou pensar. Fábio? Que Fábio falava com a sua mulher desse modo e ainda tinha o celular dela? Desde quando isso acontece? Que porra é essa? Ele vai pra casa e não se concentra em mais nada. Arruma suas malas, deixa o celular em casa. Prefere não levar ele. Não quer ouvir Thaís e já está em cima da hora de ir pra porra da viagem.

Thaís ficou puta com a ligação. Aquele palavreado de “bundinha gostosa” só podia vir daquele traste. Ela não se atentou para a voz. Estava correndo com uma instabilidade nos servidores da empresa. Só queria mesmo chegar em casa e ficar com seu marido. Ele é tão bom pra ela. Anda meio nervoso, mas ela entende. Ele já não aguenta mais essas viagens que é obrigado a fazer pelo trabalho. Mas, é incrível como a presença dele deixa tudo mais leve. É incrível como por mais bonitos que sejam vários outros homens ela ainda consegue achar ele melhor que todos eles juntos. Amor tem dessas coisas. A gente não consegue saber exatamente o que gosta, podemos até, fazer uma lista do que não gostamos. Mas, o que gostamos por mais louco que seja, ainda assim nos conquista, nos instiga, nos excita, nos cega... A verdade é essa, o amor ao parceiro, faz com que nos tornemos prontos para abandonar todo um mundo em troca de ver o sorriso e sentir o beijo. Logo ela chegará em casa e terá seu homem.

Beto saiu com sua mala na mão e com todo tipo de ideias na cabeça. Thaís dando pra outro. Thaís falando pra o amante não ligar no celular dela pra evitar riscos. Thaís chupando outro. Thaís fazendo todo tipo de coisa que ele tem raramente... Chegou ao aeroporto e ficou no terminal esperando a tal Cíntia, de repente ela apareceu.

Cíntia tinha pernas, lindas e grossas que foram bem definidas pelo vestido curto que usava. Um decote que mostrava um par de seios extremamente fartos. Um olhar penetrante e negro que se escondia atrás de uma cabeleira vermelha. Baixinha como Thaís e esbanjando sensualidade como uma sereia que atraí os marujos para o abismo do mar.

-Beto?

-Sim. Você deve ser Cíntia. – Ele tentava olhar para os olhos dela. Mas o decote tinha algum tipo de imã demoníaco.

-Sim. Sou eu. É um prazer te conhecer. Desde o dia em que entrei, todos falam que eu precisava conhecer você. E hoje me disseram que eu aprenderei com o melhor.

-Nada. Bobeira deles. Vamos?

-Sim.

Thaís chegou em casa. Não viu o marido e seu celular estava carregando na penteadeira. Ela pegou e tinha um sms do Márcio.

“Aí sim hein. Depois você me agradece esse presente. Você e a Cíntia sozinhos por dois dias no Paraná. Vai ter que me pagar muita cerveja por essa.”

Thaís leu mais de uma vez pra ver se entendia ou se aquilo se tornaria alguma brincadeira dos seus olhos com seu cérebro. Não tinha como falar com ele. Ele não avisou nada pra ela sobre a viagem. Não levou o celular e lá estava a mensagem de Márcio acabando com a imagem de seu marido. Thaís chorou no mesmo lugar que Beto chorava horas mais cedo.

Continua...

Wes G
Enviado por Wes G em 07/10/2014
Código do texto: T4991110
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