Covardia
Já era madrugada, os galos cantavam, cachorros latiam, vacas e bezerros berravam... Todos sentiam um novo dia. Velho Rabo de Couro, levanta-se, faz as orações que aprendeu com a mãe:
- Tira o algodão do saco, bota o algodão no saco;Tira o algodão do saco, bota o algodão no saco;Tira o algodão do saco, bota o algodão no saco;Tira o algodão do saco, bota o algodão no saco;Tira o algodão do saco, bota o algodão no saco;Tira o algodão do saco, bota o algodão no saco.
Escuta um gritaria, apaga a lamparina e fica parado:
- Num me mate, homi, sou pai de famia, dez boca pá cumer, pelo amor de Deus...
Plaf...plaf...plaf...
- Homi, guarde esse facão, deixeu ir pá roça!
- Caba safado, eu vou te cortar tão piqueno que nem as unha vão sobrar...
- Vala, nossa Senhora!
- Lugar de homi frouxo é assim, num aparece um pa salvar um desgraçado.
- Plaf, plaf, plaf...
Novos gritos, esculhambação, pedido de ajuda...
A cachorreira ladra desesperada...
Seu Rabo de Couro não consegue levantar, o sol já vai alto, todos da casa acordam e ele lá: enrolado pé e cabeça...
- Morreu, todos gritavam.
Ninguém se aproximava da rede.
Sentiram um futum desgraçado e um rio d'água correndo debaixo da rede do velho.
- Não morreu..............
Aproximaram-se e o velho olhava todos apavorado. Nisso chega Mané Torres e conta que moeram o velho Raimundo com uma vara:
- Num tem um osso inteiro pá contar a histora.
Todos correram para ver o acontecido.