QUEM TEM MEDO DO LOBO MAU?
Quem não gosta de ir à casa da vovó?!
Quão felizes não ficaram Vadinho e Ana sua irmã quando receberam da mãe a incumbência de apanhar no sítio da avó uma galinha e uma dúzia de pintinhos recém saídos do ovo. Pela estrada afora foram os irmãos animados a imaginar as delicias que comeriam na casa da vovó. A distância não era longa, mas exigia uma pequena caminhada entre matas e descampados.
Recebidos pela matriarca degustaram, como esperado, as guloseimas de afeto e açúcar. Deixando a mesa foram ao galinheiro onde Ana recebeu da avó um saco com os pintinhos que no chacoalhar da embalagem davam sinal de vida em piadinhos sem fim. Vadinho recebeu a “galinha-mãe”. Agarrando-a pelas pernas levou-a de ponta cabeça.
Antes de deixarem a casa, a avó cuidadosa alertou:
_ Cuidado crianças! não façam hora pelo caminho. Se a noite cair é bem possível que encontrem lobos por aí. E sabem como lobo gosta de galinhas né!?
À interpelação da avó, Vadinho que ainda não tinha visto um lobo ao vivo e a cores, criou um bem grande em sua imaginação. Fruto das estórias que sempre ouvia do pai, da mãe, avó ou tios. Estes contavam às crianças histórias de arrepiar. Tudo para verem seus olhinhos brilharem arregalados num misto de curiosidade e medo nas noites de reuniões familiares em torno do fogão a lenha.
As palavras da avó não saí da cabeça de Vadinho: “Cuidado com os lobos!” Faziam o caminho da roça, e sua irmã Ana andava mais de pressa. Com suas pernas maiores, dava passos mais avantajados deixando Vadinho um pouco para trás. _Espera Aninha! Tá me deixando pra trás. Gritava já com o medo a flor da pele.
No meio do caminho o inevitável aconteceu. A noite caiu pouco após a hora da Ave Maria. E o coaxar dos sapos e o cantarolar da passarada davam ao caminho um tom misterioso e melancólico com os perigos da noite no mato. Vadinho já com muito medo, corria para não se afastar da irmã. Nisso o primeiro uivo de lobo destacou-se entre os outros sons da noite. Aquele uivo confirmou as ideias de Vadinho: “Os lobos virão nos pegar e comer a galinha e seus pintinhos.”
Ana percebera o apavoramento do irmão e por mais que se fizesse de corajosa também tinha medo. A recomendação da avó agora fazia sentido. Outro uivo soou no meio da escuridão. O medo esfriava e empalidecia as crianças enquanto aquecia seus passos. Quando a galinha deu uma cacarejada, com certeza a resmungar do desconforto de ser carregada de cabeça para baixo, o lobo uivou mais perto. Nisso Ana atentou para o irmão mais novo e sentenciou: _Se você não fizer essa galinha calar a boca, o lobo vai pegar a gente com certeza. Carrega ela de cabeça pelo pescoço e se ela cacarejar aperta pra ficar quietinha.
Ante o conselho da irmã Vadinho não pensou duas vezes. Pegou a galinha pelo pescoço e apertou. Com o desconforto maior deu outra cacarejada. Com isso levou outro apertão. Os uivos continuaram bem como os apertos a silenciar a pobre galinácea. Era correr e apertar a galinha na ânsia de chegar em casa são e salvos. A cada novo uivo era maior a corrida e o apertão na galinha. A certa distância a galinha por fim sossegou. E era possível ver de longe a luzinha amarela da casa paterna cada vez mais próxima e mais distante dos uivos.
Quando finalmente chegaram em casa, ofegantes e brancos de medo contaram à mãe, que os esperava, a grande aventura pela qual acabaram de passar. Após o depoimento, Ana soltou os pintinhos retirando-os do saco e soltando à porta da cozinha. Seu irmão logo atrás deixou a galinha. Colocando-a de pé, a mesma tombou dura e gelada. Aos uivos do lobo morrera asfixiada nas mãos trêmulas do Vadinho.