O grande benzedor *

Seu Miguel Paneleiro era a salvação da lavoura e dos animais, por assim dizer. Não se admire quando eu disser que antigamente não se tinham muitas cercas. Verdade. Também não tínhamos chaves nas portas. No interior era quase que só a boa tramela, uma peça de madeira que girava em torno da porta e meramente a mantinha encostada. Uma brincadeira para os ga-tunos de hoje. Pois é, os tempos eram outros. Não tínhamos cercas, mas tínhamos muito respei-to pela propriedade alheia, por isso, soltávamos o gado à larga e os deixávamos por lá, por vários dias, sem ninguém tomando conta. Geralmente tudo acabava bem, ninguém mexia, ninguém os roubava, assim como as tramelas nas portas eram suficientes para sinalizar a diferença entre acesso permitido e proibido. Um dia, ao campear os bois carreiros para uma carreada, faltou um deles, cujo nome era Soberbo. Como eu disse, os tempos eram outros, e ao contrário do que de imediato se possa supor, e hoje seria bem provável, Soberbo não foi roubado. Encontrei-o, mas notei que o pelo dele estava arrepiado e que ele babava muito. Tentei tocá-lo para que a boiada ficasse reunida; ele não quis andar. Ao chegar à fazenda com apenas onze bois, fui a Vazante, procurar seu †Miguel Paneleiro. Contei a ele o que estava acontecendo com o boi, e seu †Miguel Paneleiro, grande benzedor em toda região, pegou um copo d’água, concentrou-se e disse para eu beber a água no lugar do boi, quando ele falasse bebe Soberbo. Obedeci. Ainda me arrepia, a lembrança disso. Após eu haver bebido a água, †Miguel Paneleiro disse que teria de ir ver o boi, caso contrário, o animal morreria. Ao se aproximar do boi, o grande benzedor deu três voltas em torno dele, e a cada volta, jogava o chapéu em cima do Soberbo. Por fim, ordenou que se preparasse chá de casca de Imburana e feito com que o boi bebesse. Isso também foi executado. Seu †Miguel Paneleiro indicou uma trilha que, indo por ela, ia-se chegar à agua-da , onde deveria haver um toco de árvore com um grande cupinzeiro e ao lado uma moita de Gravatá. Segundo ele advertiu, naquele buraco do cupinzeiro, morava uma grande cobra cas-cavel, que estava picando os animais, quando passam na trilha. No pastinho que fica ao pé da serra, ele disse, mora outra cascavel, em uma toca de tatu, ao lado de uma trilha; essa também gosta de picar os animais. Ao seguir as orientações do grande benzedor, os homens da fazenda voltaram trazendo as duas cascavéis, conforme †Miguel Paneleiro havia indicado. Poucos dias depois, o boi estava recuperado e de volta a sua labuta costumeira. Infelizmente, a morte levou de Vazante também este sábio homem.

* Trecho do livro: FESTAS DE CARROS DE BOI, do escritor Rogério Corrêa

Para continuar lendo acesse um dos links abaixo:

http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=82695479

http://www.amazon.com.br/FESTAS-DE-CARROS-BOI-ebook/dp/B00KB1PFR6/ref=sr_1_1?ie=UTF8&qid=1400115556&sr=8-1&keywords=festas+de+carros+de+boi

http://store.kobobooks.com/pt-br/books/festas-de-carros-de-boi/erVILtrCM0y9V0iFy2jt_g?MixID=erVILtrCM0y9V0iFy2jt_g&PageNumber=1

Boa leitura,

www.carrosdeboi.com.br

ROGÉRIO CORRÊA
Enviado por ROGÉRIO CORRÊA em 17/09/2014
Código do texto: T4965554
Classificação de conteúdo: seguro